São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT confronta Lula e quer candidato em 2010

Presidente, que defende nome de consenso entre os aliados, adiou sua participação no 3º Congresso para hoje e gerou mal-estar

Debates no congresso mostraram que será grande a pressão por menção explícita à candidatura presidencial ao final do encontro do partido

FABIO ZANINI
EM SÃO PAULO

CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG

DA REPORTAGEM LOCAL

Na abertura de seu 3º Congresso, o PT entrou em rota de colisão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao defender abertamente a antecipação do debate sobre a eleição presidencial de 2010, com um nome do partido na cabeça de chapa.
Lula, que deveria fazer a abertura solene do evento, ontem à noite, surpreendeu ao cancelar sua participação e remarcá-la para hoje, o que foi interpretado por petistas como um recado de que ficou insatisfeito com o partido.
Petistas com trânsito no Palácio do Planalto explicaram também que o presidente temia presenciar críticas ao Ministério Público e ao Judiciário por conta do processo de abertura de processos no caso do mensalão.
No entanto, na abertura do evento, à noite, não houve ato ou moção de apoio aos acusados no escândalo. Apenas alguns militantes gritaram brevemente o nome do ex-ministro José Dirceu.
Lula viajou no início da noite de ontem para São Paulo. Até o chefe da assessoria especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, um dos petistas mais próximos de Lula, se mostrou surpreso. "Não sei o que aconteceu, estava tudo certo para ele comparecer", disse.
Embora o centro de convenções tenha passado até por varredura da segurança da Presidência, Lula avisou que não poderia comparecer ao encontro ainda ontem, como estava programada há dois meses.
Os debates no primeiro dia do congresso mostraram que será grande a pressão por uma menção explícita à candidatura presidencial ao final do encontro, que termina amanhã.
"Como é que o PT pode abdicar em 2007 de ter candidatura presidencial em 2010? É nossa tarefa construir e trabalhar um nome", disse, na solenidade de abertura, o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Lula e uma parte da direção do PT acham um erro tratar agora desse assunto, pelo impacto que poderia ter na coalizão que sustenta o governo.
Mas a pressão vem de todos os lados. A tese da candidatura própria para 2010 foi defendida ontem, por exemplo, pelos arqui-rivais José Dirceu e Tarso Genro, que disputam o comando do partido.
"A minha opinião é de que o PT pode e deve ter candidato em 2010", disse Tarso. Para Dirceu, "o PT tem que apresentar um candidato à coalizão". O nome começaria a ser debatido em 2009.
A resolução aprovada ontem é tímida ao tratar do assunto, dizendo apenas que o partido "disputará a Presidência" em 2010, mas sem ser explícito quanto a ocupar a cabeça de chapa. Por um acordo entre as chapas no congresso, pode haver uma emenda para reforçar esse enunciado.
O partido dá claros sinais de que está preocupado com o excessivo descolamento de Lula do PT.
Num dos discursos mais aplaudidos do primeiro dia de debates, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, advertiu que "o governo pode ser um enorme sucesso, mas podemos chegar em 2010 com nosso partido enfraquecido".
Em sua fala na abertura do evento, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, afinado com Lula, disse apenas que o partido será "um instrumento fundamental de construção de continuidade" do governo nas eleições de 2010.
A expectativa é de que no discurso de hoje Lula tente puxar o freio no ímpeto petista. Marco Aurélio ontem deu o tom do que deve ser a fala do presidente. "Acho uma bobagem falar de 2010 agora. O PT quer falar? Primeiro precisa combinar com os russos", disse, em alusão ao presidente Lula.


Texto Anterior: Judiciário: Ellen levanta suspeita sobre grampo telefônico em 2001
Próximo Texto: Berzoini afirma que PT defende o fim do Senado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.