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Delegados rompem silêncio sobre mensalão
DA REPORTAGEM LOCAL
EM SÃO PAULO
O esforço da direção do PT de
manter completamente escondido o debate a respeito dos escândalos enfrentados pelo partido naufragou ontem à noite,
com vários discursos tocando
na ferida do "mensalão".
O discurso mais contundente
foi do ex-deputado federal Gilney Viana, um delegado do Mato Grosso, que não conteve o
desencanto com o partido.
"O partido foi buscar em Minas Gerais um caloteiro e safado que tinha feito esquema
com o PSDB", disse Viana, em
referência ao publicitário Marcos Valério de Souza. "Eu estou
muito puto com tudo o que
aconteceu e quem não estiver
puto não tem consciência petista", disse, sob aplausos.
Sobrou também para o ex-tesoureiro Delúbio Soares: "Nós
precisamos construir uma nova relação na qual o tesoureiro
não possa fazer o que foi feito".
Viana, que pertence a uma
pequena tendência de oposição
à direção partidária, foi sucedido na tribuna pelo ex-ministro
Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário), alinhado ao
grupo do ministro Tarso Genro
(Justiça): "Não é justo dizer
que a responsabilidade e os erros foram de todos nós", disse.
José Genoino (PT-SP), deputado federal e ex-presidente do
partido, questionou a denúncia
e acusação dos ministros do
STF contra ele no caso do mensalão: "Estou de cabeça erguida. Meu patrimônio é o mesmo
há 24 anos". João Paulo Cunha
(PT-SP), deputado e ex-presidente da Câmara, também falou: "Eu deixaria todos os meus
mandatos (...) para não ter tido
um minuto dessa tormenta".
Apesar da polêmica, é improvável que as resoluções finais
contenham linguagem forte de
alguns discursos, pois a direção
do partido quer evitar o tema.
O PT também aprovou resolução reafirmando sua opção
pelo "socialismo", mesmo já
tendo aceito a economia de
mercado, o respeito aos contratos e até as privatizações. Coube ao chefe da assessoria especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, defender a versão
petista do socialismo: "No momento atual, a cultura socialista atravessa um longo período
de crise. [...] Nossa opção é pelo
socialismo democrático", disse,
sob aplausos.
O socialismo defendido pelo
PT não tem mais relação direta
com o marxismo e menos ainda
com o dos regimes comunistas
que ruíram no Leste da Europa.
Mas continua sendo um importante laço a unir as várias tendências, tanto que foi o tema
que levantou menos polêmica:
"Já houve quem tentasse, no
passado, retirar o caráter socialista do PT, então essa reafirmação é necessária", disse Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais.
(FZ, CS e JAB)
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