São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
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ANÁLISE
Governo propõe tarefa difícil de cumprir

da Sucursal de Brasília

Como tem ocorrido nos últimos anos, o governo foi obrigado ontem a acender uma vela para a austeridade e outra para o desenvolvimento -correndo o risco de desagradar aos partidários de uma e de outro.
Para o mercado financeiro e os organismos internacionais, foi apresentado um Orçamento que contempla as metas fiscais acertadas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para o ano 2000.
Para os aliados políticos e seus eleitores, um Plano Plurianual com obras, programas sociais e gastos diversos que ultrapassam R$ 1 trilhão em quatro anos.
No papel, há harmonia entre os dois objetivos. Na prática, as coisas tendem a ser mais difíceis.
O equilíbrio fiscal depende de medidas consideradas indesejáveis pelo próprio governo, como aumentos de tributos que elevam os custos das empresas, casos da CPMF e da CSLL.
As propostas para acertar as contas públicas de forma permanente -como a reforma tributária, a conclusão da reforma da Previdência e a lei de responsabilidade fiscal- estão paradas no Congresso.
Enquanto isso, o governo tem poucas condições de resistir a demandas de grupos organizados da sociedade e de sua base aliada por mais gastos.
Nas últimas semanas, por exemplo, foi necessário atropelar as ponderações da equipe econômica e elevar os subsídios agrícolas e os benefícios fiscais para montadoras de automóveis.
É preciso rebater, ainda, as críticas da oposição contra os problemas sociais, elevando investimentos em saúde e educação.
Em seu primeiro mandato, quando houve disputas internas entre partidários da austeridade e do "desenvolvimentismo", o presidente Fernando Henrique Cardoso sempre tomou partido do primeiro grupo.
A diferença é que, naquele período, a promessa de manutenção da estabilidade da moeda e o crescimento da economia, ainda que modesto, mantinham o prestígio de FHC -que agora desabou.
Para recuperar a força política e voltar a comandar votações difíceis na Câmara e no Senado, o governo conta com a recuperação da economia e da popularidade do presidente.
O crescimento do PIB, porém, fica comprometido quando o mercado reduz investimentos e eleva as cotações do dólar por avaliar que o ajuste fiscal é pouco consistente.
(GUSTAVO PATÚ)


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