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NOVA AGENDA
Para Camdessus, país já tem preocupação social; "não vamos dizer que inflação é bom", diz vice
Acordo com Brasil não muda, diz FMI
MARCIO AITH
de Washington
O FMI (Fundo Monetário Internacional) não irá mudar seu programa com o Brasil nem concordar com um aumento dos gastos
sociais para adaptá-lo ao novo
discurso da instituição pregando
a humanização da globalização e
o combate à pobreza.
O diretor-gerente do Fundo,
Michel Camdessus, e seu vice,
Stanley Fischer, afirmaram ontem que o programa brasileiro, fechado com o FMI em março, já
está sintonizado com essa nova
orientação e que o governo de
Fernando Henrique Cardoso deverá manter o rigor fiscal e as metas macroeconômicas.
"Em nosso programa com o
Brasil já foi incorporada essa
preocupação. O Orçamento prevê
um aumento de gastos na área social", disse Camdessus no almoço
com a imprensa após o encerramento da reunião anual conjunta
do FMI e do Banco Mundial.
"As políticas de controle de inflação continuam sendo o alicerce
da estabilidade econômica. Nós
não vamos dizer que 40% de inflação está bom. Não há nenhuma
intenção de rever o programa
com o Brasil", disse Fischer.
No discurso de abertura da reunião, na terça, Camdessus fez sua
mais eloquente referência ao
combate da pobreza e sugeriu
uma maior ênfase social nos programas da instituição, daqui para
a frente. Esse discurso levantou,
no Brasil, a polêmica em torno da
oportunidade de reduzir as metas
de ajuste fiscal e aumentar os gastos sociais (leia texto abaixo).
O número dois do FMI, ontem,
considerou essa discussão no Brasil uma "polêmica política" e descartou alterações nas metas durante a próxima visita da missão
do Fundo ao país, em outubro.
"Nada do que foi dito no discurso
de introdução (de Camdessus) requer uma mudança no programa
brasileiro", afirmou Fischer.
Para as autoridades do FMI, o
acordo com o Brasil já inclui
questões sociais. No Orçamento
do ano que vem, afirmou Camdessus, serão aumentados os gastos com saúde e educação.
Com essas declarações, Camdessus e Fischer deixaram claro
que há limites no tratamento da
questão social durante os programas com o FMI. Prevaleceu a interpretação de que a instituição
manterá a ortodoxia que caracteriza seus programas de ajuste,
com fortes reduções de gastos pelos governos. A mudança, daqui
para a frente, é que o Fundo sempre irá considerar o impacto social dessa ortodoxia.
"Nos novos programas, vamos
tentar proteger os gastos e a eficiência nos setores sociais e garantir que existem redes de proteção social. Essa preocupação será
resumida e normatizada", disse
Fischer, afirmando que no Brasil
os gastos sociais já estão garantidos e as redes de proteção social
estão se solidificando.
Camdessus afirmou que os programas onde a questão social se
revelou mais vital foram aqueles
que necessitaram de uma completa reestruturação do setor corporativo, como foi o caso da Coréia do Sul.
A polêmica no Brasil também
resulta da resistência do ministro
da Fazenda, Pedro Malan, à inclusão de uma agenda social nos programas do Fundo. Malan afirmou
que não é papel do FMI acompanhar indicadores sociais, função
primordial do Banco Mundial.
Camdessus disse que a preocupação social do Fundo irá se somar à do Banco Mundial. O presidente da instituição, James Wolfensohn, referiu-se ao ministro
Malan ao comentar o assunto.
"Eu sei que o ministro Malan está
preocupado que o Fundo irá virar
o banco e o banco irá virar o Fundo. Isto não deve acontecer", disse Wolfensohn.
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