São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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Tese do Banco Mundial é privilegiada

da Redação

O encontro anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial terminou ontem em Washington como uma vitória para o presidente desta última instituição, James Wolfensohn.
No dia 21, na entrevista que abriu a reunião, Wolfensohn defendeu a discussão da pobreza mundial. Dias antes, o Banco Mundial havia divulgado um relatório citando os efeitos negativos da globalização na distribuição de renda dos países.
"No final do milênio, teremos 6 bilhões de pessoas no planeta, dos quais 3 bilhões viverão com uma renda inferior a US$ 2 por dia e 1,3 bilhão com menos de US$ 1 por dia. A questão, para nós, é descobrir como podemos reduzir o número de pobres", disse ele.
No decorrer do encontro, a pobreza ganhou destaque. O FMI foi autorizado a vender ouro de seus cofres para obter recursos para ajudar a financiar um projeto (estimado em US$ 30 bilhões) para reduzir a pobreza em países considerados altamente endividados.
O ápice, porém, veio com o discurso do diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus, na terça. Ele propôs uma ofensiva para "erradicar a pobreza e humanizar a globalização", anunciando parceria com o Banco Mundial para ligar metas de programas de estabilização a condições sociais dos países onde eles são adotados.
A declaração de Camdessus, ainda que não fosse uma autocrítica -o FMI sempre foi acusado de impor políticas econômicas recessivas que desprezam problemas sociais-, é inédita. O FMI nunca havia abordado questões sociais argumentando que seu propósito básico é estabilizar as contas externas dos países.
Camdessus disse, porém, que o combate à pobreza está mais concentrado nos governos nacionais do que nos organismos multilaterais. Alguns governos, por exemplo, são contrários à mudança de agenda proposta para o FMI.
No último dia 16, o representante brasileiro no Fundo, Murilo Portugal, participou de reunião que discutiu a inclusão de metas sociais nos programas do FMI. Em princípio, o Brasil se opôs a todas as medidas discutidas.
Pedro Malan (Fazenda), que no início havia se manifestado contra a agenda social do FMI, recuou. "Ninguém em sã consciência pode ser contra a redução da pobreza", afirmou, anteontem.


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