São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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"Vidente" lança livro contraditório sobre mortes


MÁRIO MAGALHÃES
em São Paulo

Teste realizado no laboratório da indústria de armas Taurus, em Porto Alegre, contradiz a principal afirmação da ""vidente" Amira Lepore no seu recém-lançado livro ""72 Horas com PC Farias" (editora Mania de Livro, 213 páginas, R$ 25).
De acordo com Lepore, PC Farias foi assassinado por sua própria namorada, Suzana Marcolino, em junho de 1996. Em seguida, Suzana teria sido morta por um dos seguranças de PC.
A "vidente", que era consultora espiritual e amiga de PC, vai depor à polícia semana que vem.
O perito criminalístico Domingos Tochetto e o legista Daniel Muñoz concluíram, em laudo apresentado em junho, que Suzana não deu nenhum tiro nas horas anteriores à sua morte.
Para que ela tivesse feito pelo menos um disparo, teria de haver -e não havia- resíduos de chumbo, antimônio e bário em, no mínimo, uma das mãos.
Numa simulação com até 12 mil imagens por segundo, num "analisador de movimento", um vídeo produzido no laboratório da Taurus mostra que uma nuvem de resíduos atinge a mão do atirador.
Os delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade já indiciaram quatro ex-seguranças de PC como co-autores das duas mortes e estudam o indiciamento do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão do ex-tesoureiro de Fernando Collor, como mandante. O suposto motivo: disputa por dinheiro.
Em 1996, num inquérito repleto de falhas, a polícia havia sustentado que Suzana matara PC e em seguida se suicidara.
Em seu livro, a "vidente" que em abril de 1996 conviveu por três dias com PC afirma que Suzana matou o namorado e insinua que ela estivesse a serviço de Augusto Farias. O livro tem várias informações erradas e contraditórias.
Lepore diz que o filho da cozinheira Irene, o garçom Genival, se chama Adeildo, que na verdade é um dos seguranças -Adeildo dos Santos- indiciados por duplo homicídio.
Troca os nomes dos irmãos de PC com os de Suzana, chama o deputado Augusto César de Luiz Augusto, transforma um amigo homossexual de Suzana em seu noivo, recebe a notícia de que a polícia queimou objetos da cena do crime um dia antes do fato.
A descrição de Suzana vai de "passional" a "fria e calculista", conforme a página.
Não explica por que Augusto Farias insistia duramente com o irmão para abandonar Suzana -fato não contestado por nenhuma testemunha, nem sequer o deputado-, se ela estava "plantada" para eliminar PC.
Diz que esclareceu as mortes numa "regressão" espiritual.


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