São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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INVESTIGAÇÃO

Testemunha acusa irmão de PC de envolvimento com Hildebrando em quadrilha; deputado nega

CPI quebra sigilos de Augusto Farias

Carlos Eduardo/Folha Imagem
Augusto Farias, acusado por testemunha na CPI do Narcotráfico


VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha

A CPI do Narcotráfico aprovou ontem a convocação e a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e patrimonial do deputado Augusto Farias (PPB-AL). Ele foi denunciado pelo motorista Jorge Meres de Almeida como um dos chefes de uma organização de roubo de cargas, caminhões e de tráfico de drogas e armas que teria ramificações em dez Estados.
Meres depôs durante seis horas na CPI e afirmou ter presenciado reuniões entre Farias, o ex-deputado Hildebrando Pascoal, o deputado estadual do Maranhão José Gerardo e o advogado William Marques, de Campinas.
Meres disse que Marques era testa-de-ferro de Paulo César Farias e que ficou com empresas dele após sua morte. Declarou também que PC foi assassinado "para benefício" da quadrilha.
Meres foi motorista e segurança de Marques de 92 a 98. Disse que contava com a confiança dele e acompanhava as reuniões do grupo. Meres foi preso no Maranhão.
Esses encontros, segundo Jorge, eram realizados em Campinas, onde se localizaria o "escritório central" da quadrilha, e em hotéis de Campinas e de São Paulo.
O presidente da CPI, Magno Malta (PTB-ES), pediu à Polícia Federal investigações para saber que se as pessoas citadas por Meres estiveram nos hotéis.
Augusto Farias nega as denúncias. "Se provarem que eu tive qualquer contato pessoal ou telefônico com o ex-deputado Hildebrando Pascoal, não precisa a CPI abrir processo contra mim, porque eu renuncio", disse.
Nos encontros, os quatro chefes da organização discutiam, segundo Meres, ações de roubo de cargas, decidiam assassinatos de pessoas, transporte de carretas para a Bolívia para serem trocadas por drogas e armas, por exemplo.
De 94 a 97, 50 carretas roubadas no Brasil teriam sido vendidas na Bolívia. Os pagamentos foram efetuados em dinheiro, drogas ou armas, de acordo com Meres.
Ele afirmou que algumas vezes os carregamentos de armas e de drogas foram enviados a Gerardo e a Pascoal. Disse ter ido à casa de um traficante na Bolívia, chamado Chichito, para trocar carretas por armas e pasta de cocaína.
Magno Malta avaliou o depoimento de Jorge como "muito seguro e cheio de detalhes" e disse que em nenhuma hora ele titubeou. "Nosso entendimento é de que o testemunho é verdadeiro."
Na terça, deve ocorrer uma acareação entre Meres e Marques. Farias vai depor na quarta. Ele disse que já havia se oferecido e que autorizou a quebra dos sigilos antes de a CPI aprovar o pedido.


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