São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Instantâneo eleitoral

Logo se saberá se fotografias de dinheiro são importantes para Lula; no PSDB, devem ser vistas como mantra eleitoral

CADA VOTO registrado na urna eletrônica, para escolha do presidente da República, estará decidindo entre as duas questões mais candentes a que os políticos e os meios de comunicação conduziram a campanha que joga com o futuro do país. Lula errou ou acertou ao recusar o debate, montado pela TV Globo, com os adversários? As fotos contrabandeadas por uma "autoridade" da Polícia Federal, expondo o dinheiraço que pagaria o dossiê anti-Serra, influem ou não na escolha do presidente?
Nas duas questões sobressai, à parte a importância de outros possíveis componentes, o aspecto ético. O problema está em saber a quem se refere o questionamento da ética. Se a Lula, que sonegou a uma parte do eleitorado esclarecimentos ou dificuldades suas, com o motivo menor de não enfrentar os esperados destrambelhos de Heloísa Helena; ou se a ética dos que, pela ausência de Lula, lhe despejam pesada artilharia de acusações, mas são os mesmos Jereissatis, Heráclitos Fortes, Albertos Goldmans, & cia., que defenderam e justificaram as ausências de Fernando Henrique nos debates pré-eleitorais idênticos. Ou menos que isso, porque não o ameaçavam os abalos sísmicos de Heloísa.
Logo se saberá se fotografias de dinheiro são importantes, de algum modo, para Lula e o PT. Mas no PSDB devem ser vistas como um mantra eleitoral. Na eleição passada, foi a operação montada milimetricamente por "autoridades" da Polícia Federal, e na qual Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, caiu em cheio. Queimada a candidatura pefelista da governadora que se projetava, abria-se o caminho para a candidatura peessedebista do então ministro José Serra. Ao embalo de seu lucro fotográfico no passado, na reta final da campanha os hoje oposicionistas cobraram a exibição das novas fotos como a chave do paraíso eleitoral.
Os meios de comunicação, por sua vez, contribuíram com parte ponderável da rasteirice temática na campanha para presidente. Cumpriram muito bem, em sua tarefa informativa, a abordagem de ilegalidades e desmandos sortidos, mas não foram capazes de cobrar, ou de forçar mesmo, a exposição meticulosa e esclarecedora, pelos candidatos, da visão que têm (se têm) dos temas nacionais de maior importância. Geraldo Alckmin não deu sinais claros de que tal cobrança lhe fizesse bem, até ao contrário. Lula, porém, é certo que se beneficiou muito da falta de cobrança. Muitos dos temas importantes o levariam a embaraços desgastantes, dadas as prioridades anticrescimento econômico, com tantos e graves efeitos, adotadas por seu governo em desmentido aos 20 anos de sua pregação anterior. Não lhe bastaria falar para a frente, teria que explicar o para trás inexplicado e, em maior quantidade, inexplicável.
Cristovam Buarque fez campanha digna, mas não se valeu do seu melhor preparo para tratar, além da educação, de muitos temas de interesse do eleitorado. A intenção fundamental de Heloísa Helena, muito batalhadora, foi utilizar a candidatura para ampliar a base do PSOL. Só o tempo indicará o resultado. Os dois demais foram isso mesmo: demais.


Texto Anterior: Resenha: Câmara mudou, mas mudou pouco
Próximo Texto: Presidente do TSE pede reforço na segurança
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.