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ENTREVISTA DA 2ª
MARIA HERMÍNIA TAVARES DE ALMEIDA e RENATO LESSA
POSITIVO
Segundo Maria Hermínia Tavares de Almeida, disputa em São Paulo reproduz melhora do cenário político nacional
Campanhas ficaram mais racionais, diz cientista política
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU
Para a cientista política Maria
Hermínia Tavares de Almeida, a
vitória do tucano José Serra fortalece o governador Geraldo Alckmin na disputa interna do PSDB
para a escolha do candidato à Presidência, em 2006, por dar força à
legenda em São Paulo.
Mesmo que não ganhasse, disse
a professora da USP para a Folha
em Caxambu (MG), onde participou do 28º Encontro Anual da
Anpocs (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais), ainda antes da
eleição de ontem, não seria de todo mal -ela votou no tucano-,
já que também Marta Suplicy
(PT) era uma boa candidata.
"Essa eleição reproduz no plano
do município o que já aconteceu
no plano nacional. A competição
melhorou muito de qualidade",
declara, reconhecendo convergência ideológica entre os partidos -o que a seu ver também
contribui para a melhoria do debate, que se torna mais "racional".
"Houve um amadurecimento do
eleitorado, por meio da própria
competição política."
Folha - O resultado da eleição em
São Paulo pode influenciar o pleito
presidencial de 2006?
Maria Hermínia Tavares de Almeida - É uma derrota importante
para o PT -porque é uma cidade
importante e, Marta, uma liderança do partido. Equilibra um
pouco mais a distribuição das forças nacionais. Não creio que seja
algo que altere fundamentalmente a disputa em 2006, que ainda
não está muito clara. Do lado do
PSDB, é provável que seja o Alckmin [o candidato]. Mas o PSDB
tem três pré-candidatos: Tasso,
Aécio e Alckmin.
Folha - A disputa entre os três é
para escapar do confronto com Lula e empurrar os outros?
Maria Hermínia - Em geral, o
candidato no posto tem muita
chance de se reeleger, em qualquer circunstância. Se bem que
concorrer, mesmo perdendo, não
é mal. Nenhum dos candidatos do
PSDB tem reconhecimento nacional ainda. Para construir essa
imagem nacionalmente, participar de uma eleição, mesmo perdendo, não é mal. É sempre melhor ganhar, mas não enfraquece
o candidato.
Folha - Ganhando em São Paulo,
Serra fortalece o Alckmin?
Maria Hermínia - Claramente. O
PSDB fortalece sua posição em
São Paulo, mas tem um problema
complicado para 2006, que é a
eleição para governador. Não tem
candidato e usou o seu candidato
possível, o Serra, na disputa municipal. Já passou a época em que
aparecia um candidato do nada e
ganhava. Não há candidato, nem
entre os secretários do Alckmin
nem entre os deputados mais votados. O PT tem nomes já consagrados -[José] Genoino, [Aloizio] Mercadante, [José] Dirceu e a
própria Marta.
Folha - Houve de fato polarização
entre PSDB e PT nessas eleições?
Maria Hermínia - Não. É verdade
que o PSDB e o PT surgem como
os partidos nacionais mais importantes, mas o sistema continua
muito plural. O PMDB é o que
tem o maior número de prefeituras. Vai enxugar o sistema partidário? Acho que não. PT e PSDB
serão os pivôs de coalizões. O PFL
não tem candidato [presidencial],
o PTB também não, PP, PSB.
Folha - Esses dois pivôs podem se
diferenciar numa disputa eleitoral
em que termos?
Maria Hermínia - De um lado, é
claro que o centro da disputa é entre eles. Por outro, houve convergência de políticas e percepções
sobre o Brasil. Os dois estão no
centro e convergiram para o reconhecimento de que, de alguma
forma, o destino econômico do
país está associado a uma forma
de integração na economia mundial. Talvez o debate seja acirrado
em relação a quem é capaz de fazer com maior competência uma
agenda que será muito parecida.
A situação é um pouco parecida
com a das democracias antigas.
Não que os partidos não tenham
diferenças, mas o debate se dá no
interior de um terreno comum.
Isso se deu entre o fim da Segunda
Guerra e a década dos 70 nos países industrializados. Vai ficar um
debate talvez até mais racional.
Folha - Às vezes não dá a impressão de que vai para o outro lado?
Uma disputa em torno de imagens?
Maria Hermínia - Nesta campanha, se discutiu muita coisa. No
caso de São Paulo, visões diferentes sobre como é que se faz política social. Em cima disso vem se é
bonito ou feio. Lógico que tem
propaganda negativa, disputa de
imagens. A sensação que tenho é
que a Marta optou por coisas de
grande visibilidade. Equacionou
bem o transporte, o trânsito. O
Passa Rápido é muito bom. Para
os pobres. Nós não conseguimos
andar na rua, mas o ônibus vai. O
CEU não. É um brizolão. Muito
caro e não há evidências de resultados pedagógicos razoáveis.
Essa eleição reproduz no plano
do município o que já aconteceu
no plano nacional. A competição
melhorou muito de qualidade. O
grande ganho é não termos que
resolver em quem votar para não
eleger o [Paulo] Maluf. Posso
achar que São Paulo estará melhor com o Serra, mas não estaria
péssimo com a Marta. É diferente
do [Celso] Pitta, do Maluf, do Jânio Quadros. Houve amadurecimento do eleitorado, por meio da
própria competição política.
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