São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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FORTALEZA


Prefeita eleita critica política econômica do governo federal

Petista articula formação de um bloco de prefeitos do Nordeste



Luizianne vence e tenta maioria na Câmara

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A prefeita eleita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), 35, faz história ao vencer o pleito mesmo sem o empenho da cúpula nacional petista, que a abandonou no primeiro turno por outro candidato e que, no segundo, ficou afastada de sua campanha eleitoral.
Luizianne, que começou a campanha eleitoral como "azarão", conquistou 56,21% do total de votos, contra 43,79% de seu adversário, Moroni Torgan (PFL), com uma vantagem de 137 mil votos.
A vitória, no primeiro turno, contra a vontade de lideranças nacionais do PT, como o presidente nacional do partido, José Genoino, e o ministro José Dirceu (Casa Civil), que apoiaram Inácio Arruda (PC do B), dá legitimidade à petista, que quer governar com o apoio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, mas sem ser obrigada a concordar com tudo o que for determinado. "Teremos um diálogo altivo", disse a candidata após confirmada a vitória.
Da ala mais à esquerda no partido, a Democracia Socialista, Luizianne tem críticas à política econômica e até ao método político do governo federal de lidar com aliados, que inclui a concessão de cargos, por exemplo, mas deixou tudo de lado na campanha e, com um discurso bem ameno, agora fala da necessidade de garantir a governabilidade.
A busca por esse item começa já nesta semana, principalmente porque Luizianne não tem a maioria dos vereadores eleitos na Câmara Municipal. Do grupo dela, ninguém se elegeu. Das 41 vagas, três são de petistas ligados ao Campo Majoritário, mais à direita no partido, e outros 13 são de oito partidos aliados, das mais diversas correntes ideológicas (vai de PC do B e PSB, que são partidos de esquerda, até o PRP, que é uma sublegenda do PSDB no Ceará).
Nas conversas sobre coalizão, Luizianne fala em compor, ainda, com outros petistas eleitos em capitais do Nordeste (Marcelo Déda, em Aracaju, e João Paulo, no Recife), para formar um bloco de reivindicações ao presidente Lula.
A idéia da petista é que o governo deixe de ter olhos apenas para as regiões Sudeste e Sul, onde o PT é tradicionalmente mais forte, para se voltar ao Nordeste, com investimentos que fortaleçam as administrações do partido e as transforme em modelos.
A vitória de Luizianne fortalece o PT do Ceará para a disputa de 2006 ao governo do Estado, mas, ao mesmo tempo, também acirra a briga interna para saber qual das correntes do partido terá a supremacia sobre as demais.
Existe um certo consenso entre os petistas de que o partido deverá ter candidato próprio. O grupo do Campo Majoritário tem a maioria no interior do Estado, em contraponto à Democracia Socialista, de Luizianne, que tem a hegemonia na capital.
Na campanha e sem apoios, ela só cresceu quando houve a tentativa de esvaziar o partido, iniciada por petistas que preferiam Inácio e que lançaram o movimento "Sou PT, voto Inácio".


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