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ANÁLISE
PT foi empurrado para os grotões do país
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
O PT tentará invocar algumas
vitórias importantes de primeiro
turno, como as obtidas em Belo
Horizonte e Recife, para escapar à
conclusão maior das eleições municipais deste ano: o partido, que
iniciou sua escalada rumo ao poder federal em médias e grandes
cidades das regiões mais desenvolvidas, está sendo empurrado
para os grotões do país.
Não significa que tenha ficado
restrito aos grotões. Mas o sentido
do movimento realizado pela sigla de Lula foi esse, o que fica claro
quando se tomam não apenas os
resultados das capitais mas também os do interior "que importa".
Olhando o mapa a partir do sul,
o cenário de terra arrasada só começa a melhorar em Minas.
No Rio Grande do Sul, há quase
duas décadas uma espécie de república autônoma petista, o partido perdeu Porto Alegre, Caxias do
Sul e Pelotas. Teve vitórias, como
em Santa Maria. No geral, regrediu ao porte de sigla média.
No Paraná, a derrota em Curitiba foi acompanhada de outras nas
principais cidades do Estado. A
exceção foi Londrina, onde o PT
enfrentou uma espécie de Paulo
Maluf local. Em Santa Catarina,
derrotas em Joinville e Blumenau.
Em São Paulo, nem o revés
maior na capital consegue eclipsar as dimensões do estrago no interior. A "Califórnia vermelha" de
2000 foi tingida pelo azul dos tucanos. À derrota em Campinas no
primeiro turno somou-se a de
Santos no segundo. E por aí vai.
De Minas para cima, há resultados melhores e piores para o PT,
mas o padrão de desempenho se
mantém mais ou menos inalterado: aumento no número de prefeituras combinado com diminuição de "qualidade" no cartel de
municípios administrados.
Não é preciso muita ciência para perceber que o movimento petista em direção aos grotões corresponde a um recuo na sustentação do partido entre as classes
médias que durante duas décadas
sustentaram-lhe a expansão.
Por ora, não há elementos para
afirmar que o eleitor tenha julgado o governo Lula. A própria oposição se encarregou de deixar o
presidente, ainda bastante sólido
nas pesquisas, fora do debate.
Por outro lado, a safra de indicadores positivos na economia não
ajudou os candidatos petistas, ao
contrário do que dirigentes chegaram a prever. Ou bem o eleitor
não sentiu a recuperação, ou não
a levou em conta na hora de votar.
De todo modo, o tamanho do
desastre sugere que mesmo na capital paulista pode ter ocorrido algo maior do que aquilo que José
Genoino se apressou em classificar como "rejeição pessoal" a
Marta. Se Lula não foi julgado, é
provável que o PT tenha sido.
O efeito mais imediato se dará
em Brasília, onde a indocilidade
da base aliada já se fazia sentir no
pós-primeiro turno. Cedo o governo concluirá que o namoro
com o PTB será insuficiente para
lhe dar solo firme no Congresso.
O PMDB, que tem cinco de seus
seis governadores defendendo o
rompimento com o Planalto, terá
de ser alimentado (na mesma hora em que petistas derrotados
buscarão emprego na capital).
De cara, tal realidade se choca
com o sonho de João Paulo e José
Sarney. Para aprovar a reeleição
no Congresso, o Planalto precisaria, na prática, implodir o PMDB.
Quanto à outra reeleição, a de
Lula, é prematuro dizer que esteja
ameaçada. Vide FHC em 1996 etc.
Mas talvez seja necessário atualizar a equação. Até ontem se dizia
que o presidente, com algo como
4% de crescimento em 2005, chegaria imbatível a 2006.
Agora é mais realista sugerir
que, se Lula tiver apenas o crescimento, sem costura política resistente, poderá enfrentar segundo
turno trabalhoso. Se não tiver
nem os 4%, a história será outra.
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