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Wall Street acha difícil que país corte gastos
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Alguns dos principais bancos
de investimento de Wall Street
e a agência de classificação de
riscos Standard & Poor's consideram remota as chances de o
Brasil realizar cortes nos gastos
públicos em nível suficiente para acelerar os investimentos estatais e o crescimento.
Na opinião de seus representantes, o principal obstáculo é a
rigidez da composição do gasto
público no Brasil, onde cerca de
90% é obrigatório, protegido
por leis ou pela Constituição.
Os outros 10% já foram drasticamente reduzidos, como os
investimentos, que representam hoje cerca de 3% do gasto
não-financeiro (ver tabela, que
mostra 100% da estrutura do
gasto não-financeiro da União).
A reeleição de Lula e o baixo
crescimento brasileiro foram
avaliados ontem em Nova York
em encontro promovido pela
Brazilian-American Chamber
of Commerce. A Folha teve
acesso ao áudio da reunião.
A conclusão geral é que ainda
levará algum tempo para o Brasil crescer mais. Os motivos: investimento baixo e gasto público muito elevado.
O vice-presidente do banco
JP Morgan, Drausio Giacomelli, diz que, além da dificuldade
em cortar gastos, a qualidade
do ajuste fiscal que vem sendo
feito no Brasil é "horrível".
Para economizar o equivalente a 4,25% do PIB (o chamado superávit fiscal para pagar
juros da dívida), o Brasil vem
tirando recursos inclusive de
empresas estatais que poderiam estar sendo direcionados
a investimentos produtivos.
Sem investimentos federais,
espremidos hoje pelos gastos
correntes (R$ 357,4 bilhões em
2005) e pela conta de juros (R$
160 bilhões com pagamentos e
refinanciamentos), o setor privado dificilmente fará investimentos maiores, ampliando as
possibilidades de crescimento.
O diretor-gerente do fundo
de investimentos americano
Discovery, Rogério Chequer,
lembrou que, "a partir de um
determinado tamanho, as
maiores empresas brasileiras
estão preferindo agora investir
fora do próprio país".
Para Lisa Schineller, diretora
da Standard & Poor's, o Brasil
tem estado "melhor posicionado" para crescer mais nos últimos anos. "Mas as taxas de
crescimento tem sido baixas e
os gastos, maiores", disse.
Schineller afirma que o
maior desafio do Brasil é cortar
o gasto público, mas que medidas nesse sentido são "politicamente muito difíceis".
Giacomelli acredita que Lula
terá apenas dois anos de força
política no segundo mandato,
transformando-se em um "lame duck" (pato manco), a partir de 2009, quando o jogo eleitoral para 2010 começar. "No
curto prazo, o melhor que pode
acontecer ao Brasil é baixar o
gasto com os juros da dívida em
2007 e, a longo prazo, reestruturar a dinâmica do gasto público. Mas isso dificilmente vai
acontecer", diz.
Diante da rigidez do gasto,
especialistas têm recomendado que, se não cortar, que o
Brasil pare de aumentar as despesas. Ao longo dos anos, elas
tenderiam a diminuir como
proporção do PIB.
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