São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2006

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Wall Street acha difícil que país corte gastos

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns dos principais bancos de investimento de Wall Street e a agência de classificação de riscos Standard & Poor's consideram remota as chances de o Brasil realizar cortes nos gastos públicos em nível suficiente para acelerar os investimentos estatais e o crescimento.
Na opinião de seus representantes, o principal obstáculo é a rigidez da composição do gasto público no Brasil, onde cerca de 90% é obrigatório, protegido por leis ou pela Constituição.
Os outros 10% já foram drasticamente reduzidos, como os investimentos, que representam hoje cerca de 3% do gasto não-financeiro (ver tabela, que mostra 100% da estrutura do gasto não-financeiro da União).
A reeleição de Lula e o baixo crescimento brasileiro foram avaliados ontem em Nova York em encontro promovido pela Brazilian-American Chamber of Commerce. A Folha teve acesso ao áudio da reunião.
A conclusão geral é que ainda levará algum tempo para o Brasil crescer mais. Os motivos: investimento baixo e gasto público muito elevado.
O vice-presidente do banco JP Morgan, Drausio Giacomelli, diz que, além da dificuldade em cortar gastos, a qualidade do ajuste fiscal que vem sendo feito no Brasil é "horrível".
Para economizar o equivalente a 4,25% do PIB (o chamado superávit fiscal para pagar juros da dívida), o Brasil vem tirando recursos inclusive de empresas estatais que poderiam estar sendo direcionados a investimentos produtivos.
Sem investimentos federais, espremidos hoje pelos gastos correntes (R$ 357,4 bilhões em 2005) e pela conta de juros (R$ 160 bilhões com pagamentos e refinanciamentos), o setor privado dificilmente fará investimentos maiores, ampliando as possibilidades de crescimento.
O diretor-gerente do fundo de investimentos americano Discovery, Rogério Chequer, lembrou que, "a partir de um determinado tamanho, as maiores empresas brasileiras estão preferindo agora investir fora do próprio país".
Para Lisa Schineller, diretora da Standard & Poor's, o Brasil tem estado "melhor posicionado" para crescer mais nos últimos anos. "Mas as taxas de crescimento tem sido baixas e os gastos, maiores", disse.
Schineller afirma que o maior desafio do Brasil é cortar o gasto público, mas que medidas nesse sentido são "politicamente muito difíceis".
Giacomelli acredita que Lula terá apenas dois anos de força política no segundo mandato, transformando-se em um "lame duck" (pato manco), a partir de 2009, quando o jogo eleitoral para 2010 começar. "No curto prazo, o melhor que pode acontecer ao Brasil é baixar o gasto com os juros da dívida em 2007 e, a longo prazo, reestruturar a dinâmica do gasto público. Mas isso dificilmente vai acontecer", diz.
Diante da rigidez do gasto, especialistas têm recomendado que, se não cortar, que o Brasil pare de aumentar as despesas. Ao longo dos anos, elas tenderiam a diminuir como proporção do PIB.


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