São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2006

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Lula busca enquadrar ministros que apontaram o fim da "era Palocci"

Presidente ficou contrariado com críticas do grupo desenvolvimentista, formado por Dilma, Tarso e Mantega

Defensor de política fiscal rigorosa, petista interpretou a ação dos ministros como tentativa desnecessária de influenciá-lo na economia

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúne hoje de manhã no Palácio do Planalto com os ministros da área econômica e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a fim de unificar o discurso do governo e pedir que não travem debates públicos.
Lula quer discutir políticas para tentar atingir 5% de crescimento do PIB ao ano, mas sem promover uma guinada na política econômica, como deseja o grupo capitaneado por Dilma. A Folha apurou que essa posição será explicitada na reunião, da qual Lula excluiu o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), que o contrariou no domingo da eleição ao falar em "fim da era Palocci".
Batizado de "eixo do atraso" por integrantes do governo, o grupo de Dilma conta com o Tarso, Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia. Segundo a Folha apurou, Lula disse a um ministro que a festa da vitória foi "estragada" pelo grupo.
Tarso, Dilma e Mantega acham que há espaço para queda mais rápida dos juros. Os três tentam derrubar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mas Lula não deu aval a essa operação nem garantiu Mantega na Fazenda.
Meirelles, que participará da reunião de hoje, disse a Lula anteontem que é inútil discutir o passado, como eventual erro de dosagem dos juros. Agora, a sinalização de ajuste fiscal seria a prioridade, pois a política monetária está num processo de queda dos juros. Segundo um auxiliar direto, Lula deu razão ao presidente do BC.

Vitória atrapalhada
Lula ficou aborrecido com Tarso. Considerou a declaração de fim da "era Palocci" como tentativa de influenciá-lo na economia. E ficou contrariado com o eco que Dilma deu às palavras de Tarso no domingo. Na segunda, ela recuou.
Quanto mais Dilma e Tarso falam de economia, mais enfraquecem Mantega, que se tornou satélite da Casa Civil nas disputas internas do governo.
Para Lula, o domingo era o dia de comemorar uma vitória difícil, mas as declarações de Tarso e Dilma o obrigaram a confirmar o que ele já imaginava consolidado: manter o controle da inflação e uma política fiscal rigorosa por acreditar que são as precondições para o crescimento de 5% anuais.
O gabinete de Dilma no Palácio do Planalto virou uma espécie de bunker dos "desenvolvimentistas" do PT. Na segunda-feira, a ministra se reuniu com Tarso e Mantega. Os três traçaram estratégia para tentar segurar Mantega na Fazenda.
Desde a queda de Palocci em março, é Lula quem tem feito o contraponto "conservador" na discussões do governo sobre economia. Nas palavras de um ministro, as posições de Dilma e Tarso refletem "um sentimento difuso no PT de que é preciso mudar a economia, mas Lula não concorda".
Como antecipou a Folha, o presidente deseja levar o empresário Jorge Gerdau Johannpeter para o primeiro escalão. Ele é cotado para a Fazenda, além do Desenvolvimento e da Previdência. Outras opções para o lugar de Mantega são os petistas José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, e Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte.


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