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PF intimidou jornalistas, diz revista "Veja"
Publicação vê abusos e distorções em depoimento de profissionais na sede da polícia, que nega qualquer irregularidade
Repórteres foram inquiridos pelo delegado do caso sobre as vinculações partidárias e o posicionamento político da revista e de seus editores
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após o presidente reeleito
Luiz Inácio Lula da Silva ter
afirmado que pretende mudar
seu relacionamento com a imprensa, três repórteres da revista "Veja" afirmaram ontem
terem sido intimidados, pressionados e constrangidos pelo
delegado da PF paulista Moysés Eduardo Ferreira.
Chamados a depor na condição de testemunhas, como autores de uma reportagem sobre
supostas ilegalidades cometidas por policiais federais, tiveram de responder sobre o posicionamento político da revista
e supostas filiações partidárias.
Os depoimentos ocorreram
um dia depois de jornalistas terem sido hostilizados por militantes petistas em Brasília, na
chegada do presidente ao Palácio da Alvorada. O presidente
nacional do PT, Marco Aurélio
Garcia, ao comentar o episódio,
disse que a imprensa deveria
fazer uma "auto-reflexão" sobre a forma com que havia noticiado o escândalo do mensalão.
Após o segundo turno, Lula
falou mais de uma vez que pretende melhorar seu relacionamento com os jornalistas.
O depoimento
A investigação da PF partiu
de uma reportagem publicada
pela revista "Veja", no dia 18 de
outubro, que relatava uma operação montada pela cúpula da
PF para tentar abafar o caso do
dossiê, que envolvia membros
do comitê eleitoral de Lula e de
Aloizio Mercadante, então candidato do PT ao governo paulista, na compra de documentos
contra candidatos tucanos.
A reportagem, apurada por
cinco repórteres, informava
que Freud Godoy, ex-assessor
especial de Lula, manteve um
encontro sigiloso nas dependências da PF com Gedimar
Passos, ex-policial federal preso com R$ 1,7 milhão.
Os jornalistas Marcelo Carneiro, Júlia Duailibi e Camila
Pereira foram intimados pela
PF para falar sobre o texto.
Durante os depoimentos, no
entanto, o delegado manifestou
sua contrariedade com a reportagem, que chamou de "falácia"
e "absurda". "Como vocês têm a
coragem de escrever isso contra o dr. Severino?", perguntou,
segundo a Folha apurou.
Severino Alexandre é o diretor-executivo da PF paulista, o
segundo homem do órgão no
Estado. Foi citado pela "Veja"
como o intermediário da reunião entre Freud e Gedimar.
O delegado Ferreira, segundo os repórteres, insistiu para
saber se a revista tinha algum
vínculo político, se o editor era
filiado a partido político e o
motivo de a revista "fabricar"
notícias contra a PF.
Apesar de o procedimento
tratar especificamente da suposta "operação abafa", o policial quis saber também sobre
outras reportagens, como a divulgação das fotos do dinheiro
do caso do dossiê. Perguntou se
havia alguma ligação entre a
publicação e a proximidade da
do primeiro turno da eleição.
"Para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não
na qualidade de testemunhas,
mas de suspeitos. As perguntas
giraram em torno da própria
revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim,
o objeto da investigação", diz a
revista e nota.
Polícia
O superintendente da PF de
São Paulo, Geraldo Araújo, disse que não houve intimidação
nem pressão sobre os jornalistas. "O delegado Moysés [Ferreira] nem é de São Paulo, é de
Piracicaba, foi chamado justamente para fazer uma investigação isenta, distanciada."
O delegado Ferreira enviou
carta ao diretor-executivo Severino Alexandre afirmando
que agiu com "toda cortesia e
urbanidade possíveis" e que as
perguntas foram somente sobre fatos ligados à reportagem.
Como prova de "normalidade", disse que os depoimentos
foram acompanhados pela procuradora da República Elizabeth Mitiko Kobayashi.
Procurada, Kobayashi informou que não iria se manifestar.
Segundo a assessoria do Ministério Público Federal paulista,
uma declaração dela, no "calor
dos fatos", poderia atrapalhar a
investigação, que busca identificar a ação de policiais.
Em nota, a PF disse que, em
nenhum momento, os repórteres manifestaram "contrariedade ou discordância com a
condução do depoimento, causando surpresa [...] a conotação
de suposta arbitrariedade".
Colaborou ROGÉRIO PAGNAN , da Reportagem
Local
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