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JANIO DE FREITAS
Os fins do comando
Pintou improbidade no horizonte, já se sabe como agirá a tropa de elite do governo
na Câmara e no Senado
A ASSOCIAÇÃO DO governo Lula
com a corrupção já sugere algo como um princípio, ainda
que paradoxalmente formado por
falta de princípio. Não se trata só da
série incessante de episódios no governo, que ao menos em boa parte
poderiam decorrer de más atitudes
individuais, embora não seja esse o
caso. Mas, além dos fatos em âmbito
administrativo ou, senão diretamente, envolvendo verbas federais,
as ordens do governo aos seus parlamentares comprovam a associação
deliberada com atos e autores de improbidades e coisas piores. Só ontem, houve mais duas demonstrações desse gênero.
A CPI do Apagão Aéreo criada pelo Senado foi muito mais eficiente
do que sua congênere da Câmara,
deformada por exibicionismos liderados pelo neófito Vic Pires, paraense do DEM, e reduzida à inutilidade
pelo relatório fugidio do petista gaúcho Marco Maia, em coerência com
a orientação do governo. O relatório
da CPI do Senado teve a rigidez sempre esperável do seu relator, senador Demóstenes Torres. Os negócios da Infraero, sobretudo os de
obras à brasileira nos aeroportos,
com nomes e indicações factuais, lá
entraram como uma novidade que
parecia inalcançável.
No Senado o governo não consegue resolver tudo com sua tropa de
elite, como pode fazer na Câmara.
Na ocasião de votar o relatório, a ordem foi usar os recursos possíveis
para adiá-la. Até que, ontem, lá estava um relatório alternativo, tão
amoldado quanto possível às orientações do governo. Não é preciso
mais do que uma particularidade
para definir o teor do relatório alternativo apresentado pelo senador
amazonense João Pedro: da relação
de indiciados proposta por Demóstenes Torres foram retirados até
mesmo três que o governo já demitira.
João Pedro diz que retirou nove
da lista "para fazer justiça", mas o indiciamento era exatamente para
submeter suspeitos e implicados aos
procedimentos corretos de justiça,
porém justiça sem vício. O governo,
com a sempre valiosa (em todos os
sentidos) cumplicidade do PMDB,
evitou que o relatório de Demóstenes Torres ficasse como conclusão
oficial da CPI, mas não que seja encaminhado à Polícia Federal e ao
Ministério Público.
A novata CPI das ONGs, com um
tema tão importante para os cofres
públicos e para as ONGs sérias, fez
mais uma sessão para exibir, na simples relação dos que convém convocar, que os obedientes governistas
estão ali para proteger aliados do governo, não importa o que tenham
feito ou não. Ou melhor, o que importa é não expor o que certos companheiros e aliados têm feito, com
altas verbas públicas, sob a denominação de ONG.
Assim tem sido nas CPIs, mas não
só. Pintou improbidade no horizonte, já se sabe como agirá a tropa de
elite do governo na Câmara e no Senado. O PMDB ofereceu à TV o papel de comediante dado ao senador
(suplente) e financiador Wellington
Salgado e, como coadjuvantes, o
também suplente Gilvan Borges e
um ou outro mais, mas o grande
operador de cobertura de Renan Calheiros foi o governo. E Lula em pessoa. O caso só tomou o caminho absurdo pelo ocorrido já nas duas primeiras sessões do Conselho de Ética, por orientação do governo à sua
tropa de elite. Naquele mau começo
e desde então até hoje.
Tamanha coerência e sem-cerimônia não é sem significado, nem se
mantém ao acaso.
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