São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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Ministros vêem motivação eleitoral

DA SUCURSAL DO RIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) cobrou humildade de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que disse anteontem que o governo Lula é "incompetente".
"Acho que é preciso um pouco de humildade por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso e dos tucanos. Nosso governo resolveu problemas que a incompetência tucana deixou para o país, como a crise enérgica e a situação das ferrovias, das rodovias e das pontes, que estamos começando a resolver", disse Dirceu no Arsenal de Marinha, no Rio.
Para ele, as críticas fazem parte da democracia e são bem-vindas. É "muito positivo para o país que o PSDB e o presidente Fernando Henrique Cardoso se disponham a comparar" os governos: "Podemos comparar o crescimento do emprego e da economia, o controle da inflação, o alongamento da dívida. Hoje o país tem uma situação externa que não tinha no governo de Fernando Henrique Cardoso. A sociedade percebe isso. Os índices de aprovação do presidente Lula são muito melhores do que os de FHC no segundo ano dos dois mandatos".
Dirceu disse ainda que qualquer área poderia ser comparada: "Os avanços na área social e na reforma agrária também são evidentes. O Bolsa-Família, por exemplo, ainda tem problemas que precisam ser equacionados, mas vamos lembrar que as bolsas do governo passado eram, em média, de R$ 28 e hoje são de R$ 75".
Para Dirceu, "há muita retórica" tucana quando se diz que o governo é autoritário ou incompetente: "Isso é retórica ideológica para tentar atrair determinados setores da sociedade. Mas vamos enfrentar o debate democrático no Parlamento e na imprensa. Vamos mostrar à sociedade que não só o Brasil mudou, como também está melhorando".
Sobre a reforma ministerial, Dirceu afirmou que o PT tem que ser o primeiro a colocar os cargos à disposição: "Não acredito que seja determinante para o PT ter mais ou menos ministérios. Se for preciso, meu cargo está à disposição do presidente. O que é importante é manter o programa que elegeu o presidente Lula".
As críticas de FHC causaram uma reação dos ministros, que apontam motivações eleitorais. Segundo Aldo Rebelo (Coordenação Política), FHC quer concorrer à Presidência em 2006. "É preciso levar em conta o fato de que essa é apenas a retórica de quem busca, com legitimidade, recuperar o papel de protagonista e disputar a legenda do PSDB com o governador Geraldo Alckmin [SP] para a próxima eleição presidencial".
Segundo Aldo, no governo FHC "o Brasil conheceu o maior apagão de sua história e eu não creio que aquele apagão tenha sido uma demonstração de competência". E acrescentou: "No governo do presidente Fernando Henrique o país quebrou três vezes e por três vezes foi ao Fundo Monetário Internacional e agora estamos saindo dos acordos do FMI".
Humberto Costa (Saúde) também vê nas agressões apenas um "discurso eleitoral": "O ex-presidente faria melhor serviço ao país se em vez de criticar o governo Lula ele colocasse o PSDB para votar pelo Brasil no Congresso".
Para Ciro Gomes (PPS), as críticas representam "um nonsense absoluto da parte dele [FHC]". "Se as críticas vêm de um desempregado, eu diria: desculpe, estamos devendo ao país. Mas do Fernando Henrique Cardoso? Não faz dois anos que saiu. Ele levou o país três vezes à bancarrota e teve de ir pedir empréstimo ao FMI".
Tarso Genro (Educação) atacou FHC: "Eu tenho certeza que o povo não vai esquecer o país que ele nos deixou e as dificuldades que estamos enfrentando estão ancoradas no seu governo". Olívio Dutra (Cidades) disse: "O ex-presidente está perdendo várias oportunidades de ficar calado. Acho que ele merece respeito, mas deveria ter meditado mais sobre o que disse, afinal, ele é um intelectual: não pode dizer essas coisas para marcar posição ou chamar a atenção para si". Para o presidente do PT, José Genoino, as críticas foram "sectárias, arrogantes, estreitas e muito ressentidas".


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