São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2004

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DISPUTA DA COROA

Para senador, PT não tem visão social, não faz o discurso dos excluídos e olha o Brasil "a partir de uma torre construída no ABC"

Cristovam vê FHC mais à esquerda que Lula

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Cristovam Buarque (PT-DF) fez ontem críticas ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas afirmou que, ainda que "minimamente", FHC "foi mais de esquerda" do que o presidente Lula é.
O PT, ele disse, não tem, nunca teve, visão social, não faz "o discurso dos excluídos" e "continua olhando o Brasil a partir de uma torre construída no ABC".
Segundo o ex-ministro da Educação do atual governo, o ex-presidente esteve à esquerda de onde se encontra Lula por ter criado o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério) e o Bolsa-Escola, projetos que o PT poderia ter radicalizado, mas não o fez. "Foram projetos muito tímidos, mas pelo menos sinalizou", disse Cristovam em entrevista à Folha.
Questionado sobre a declaração de FHC de que o governo Lula é incompetente, disse que, na área social, o problema não é de competência, mas de uma "mentalidade sindical", que está "impedindo o PT de ficar à esquerda do Fernando Henrique".
"A visão que o PT tem do social sempre foi na ótica do trabalhador do social, e não do usuário do social. Quando o PT falava em educação, falava em professor, não falava em educação. Quando falava em saúde, falava em médico, não em saúde. Não havia uma visão social no PT", disse.
"O PT mantém ainda uma lógica do problema social na ótica do sindicato", afirmou.
Cristovam diz que a crise que o governo enfrenta na área social liga-se às origens do partido e de Lula. "É um problema de mentalidade. A mentalidade sindical representa os trabalhadores que já estão dentro do setor moderno, e o PT olha o Brasil com essa ótica. E o Lula também. É por isso que você não vê o Lula falar em educação", ele disse.

Economia
O senador, exonerado do ministério da Educação por telefone, durante viagem a Portugal, em janeiro, reclamava em público, constantemente, de falta de verbas. Defendeu ontem, no entanto, a política econômica.
"No que se refere à política econômica, o Fernando Henrique não tem nada o que criticar. O Lula está mantendo a política com competência no mínimo igual à do governo Fernando Henrique, e eu diria até mais. No que se refere a uma política econômica que não pode mudar, não ter nada de novo é um elogio. É uma qualidade", afirmou.
"Não vejo outra política econômica hoje possível. O neoliberalismo nos amarrou. A única brecha de um partido transformador hoje está no social, especialmente na educação. O problema do PT não é ter mudado na economia. Essa parte acho que foi uma evolução. O problema é que o PT não mudou no discurso social."
Além da condução da economia, o senador disse ver avanços na política externa. No mais, afirmou ser difícil defender o governo. "No resto, estamos perplexos. Política de meio ambiente, na falta de política de inclusão, na falta de uma política para enfrentar a desigualdade regional, na falta de uma política para a distribuição da renda. Há uma falta de projetos, e isso dificulta a gente."
Outro motivo de "perplexidade" para as bases petistas, afirmou, estaria na política de alianças do governo, que corteja o PMDB. "É difícil defender a forma como as alianças são feitas."


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