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entrevista
TV de Lula tem Estado demais, diz professor
DA REPORTAGEM LOCAL
Celso Schröder, 54, é professor do curso de jornalismo da PUC-RS e coordenador-geral do FNDC (Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação), movimento nascido em 1991 para
reivindicar o controle social
da mídia e mudar a legislação
sobre os meios de comunicação no país. O fórum foi fundado por sindicatos, pela
UNE e por siglas como o PT.
Schröder afirma que a TV
Brasil, tal como está hoje, é
"uma TV estatal com algum
caráter público" e está sujeita a muitas interferências da
Presidência da República.
Primo de Carlos Henrique
Schroder, diretor da Central
Globo de Jornalismo, o professor critica ainda a opção
do governo por nomear personalidades, como o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, para o conselho da TV.
"Eu prefiro que fique na mão
das corporações, pelo menos
elas representam muito mais
pessoas do que simplesmente a consciência dos indivíduos." Confira abaixo os
principais trechos da entrevista.
(LB)
FOLHA - O Brasil precisa de uma
TV pública?
CELSO SCHRÖDER - Precisa. Todos os países, de alguma maneira, possuem alguma coisa
nesse sentido. A TV pública
não é um capricho. Informação precisa ser tratada como
bem universal, como luz e
educação. O Brasil precisa
mais da TV pública do que
outros países porque temos
uma hipertrofia do sistema
comercial televisivo no país.
FOLHA - Por quê?
SCHRÖDER - Entramos em
um curto-circuito de forma e
conteúdo. Isso causa um
problema para o próprio sistema, para as redes hegemônicas, que acabam se pautando por elas mesmas. Isso
cria, obviamente, um esgotamento de modelo.
FOLHA - Como falar em esgotamento do modelo se ele mantém
as TVs lucrativas?
SCHRÖDER - O grande problema que exige uma televisão
pública é o esgotamento das
linguagens. O modelo comercial, pelas próprias características de consumo que
o público exige e que as empresas precisam disponibilizar para garantir e maximizar os lucros, não permite a
elas grandes investimentos,
grandes ousadias de criatividade, de linguagem, as fórmulas prontas são as que
acabam sendo reforçadas. As
audiências das televisões
vêm caindo, até da Globo.
FOLHA - O sr. fala de inovação
de conteúdo. As pessoas que o
governo trouxe para fazer a TV
pública são provenientes da
grande mídia que o sr. critica, como Tereza Cruvinel e Franklin
Martins, ambos da Globo. Isso
não é contraditório?
SCHRÖDER - É uma TV pública que sai pautada pelos seus
paradoxos. Não temos ninguém de Marte para trazer.
Nós todos faríamos isso e todos estamos pautados por
essa televisão. Sou um crítico
do modelo da Globo, mas não
saberia fazer outra televisão
a não ser que começássemos
a experimentar.
FOLHA - O governo elegeu a BBC
como seu modelo. A TV inglesa
tem orçamento de 2,8 bilhões de
libras. O orçamento da TV pública
para o próximo ano é de R$ 350
milhões. Como cumprir esse objetivo com esse orçamento?
SCHRÖDER - Esse é um dos
elementos criticáveis do projeto. Nesse momento, os recursos são escassos. Por isso
me parece que em vez de ser
uma televisão pública, uma
rede pública, como chegou a
ser anunciado, o que foi feito
até agora foi simplesmente a
fusão de duas empresas,
criou-se uma TV estatal com
algum caráter público.
FOLHA - Por quê?
SCHRÖDER - O conselho da
TV não retira o Estado, ao
contrário, o Estado está fortemente presente na estrutura de gestão. Por enquanto,
o modelo brasileiro é absolutamente igual ao das TVs comerciais brasileiras.
Nesse desenho que o governo faz, há um conselho
técnico e abaixo há a direção
técnica. Acima dele está a
Presidência da República.
O argumento do ministro
Franklin tem sido um tanto
ingênuo, que não coincide
com a capacidade e a inteligência dele. Ele diz que isso
se justifica porque o presidente Lula tem 60 milhões
de votos e que isso daria a ele
autoridade democrática para
escolher a direção técnica.
Bem, óbvio, 60 milhões de
votos, com esse argumento,
podemos fechar Congresso,
fazer o que quiser, não há
mediação democrática.
FOLHA - Mas há o Conselho Curador, que terá economistas, esportistas, professores...
SCHRÖDER - Nós achamos
mais democrático conselhos
em que a sociedade civil fosse representada não pelos
seus expoentes individuais,
mas pelas suas instituições.
Levamos esse argumento
ao ministro, mas ele tem refutado dizendo que prefere a
representação difusa, de personalidades, porque isso evitaria que o conselho ficasse
na mão das corporações. Eu
prefiro que fique na mão das
corporações, pelo menos as
corporações representam
muito mais pessoas do que
simplesmente a consciência
dos indivíduos.
FOLHA - Muitas das corporações
são ligadas ao PT.
SCHRÖDER - Não pode ser o
conselho do PT, ou de um setor. Se fizer isso, leva a TV ao
fracasso. Se o Estado fez um
lugar para mandar, começou
do lugar errado.
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