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"Não entendo nada de TV", diz indicado ao conselho
Cavalcanti Filho diz que TV não pode ser um "instrumento de proselitismo"
Cláudio Lembo vê riscos de a TV pública se transformar em uma rede chapa-branca: "Não sou ingênuo, esse é um risco grande", declarou
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DO RIO
Os conselheiros da TV Brasil
terão duas missões. Zelar pela
independência da nova emissora diante do governo federal e
fiscalizar a qualidade da programação oferecida. Sabem
que nenhuma delas será fácil,
pelos mais variados motivos.
"Não entendo nada de TV",
admite José Antonio Fernandes Martins, vice-presidente
do Conselho de Administração
da Marcopolo e uma das 20
pessoas nomeadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para compor, durante quatro
anos, o conselho curador da nova emissora pública -e talvez
até por mais tempo, já que ainda não foi definido como estes
nomes serão substituídos.
Ele disse ter aceitado o convite, feito pela ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, porque
"o Brasil é muito fraco de programas culturais, educativos,
como aqueles "faça você mesmo" da TV americana. Temos
que mostrar para o povão que
televisão não é só filme com tiroteio e novela em que a mulher trai o marido".
Cada conselheiro receberá
R$ 2 mil por mês, mais despesas de viagem e estadia.
O advogado José Paulo Cavalcanti Filho, presidente do
Conselho de Comunicação Social do Congresso e ministro
(interino) da Justiça no governo José Sarney, afirma que há
cinco anos quase não lê jornal
ou vê televisão porque está escrevendo uma biografia de Fernando Pessoa. Ele destaca que
a nova TV não pode ser um
"instrumento de proselitismo"
e que, se for assim, é melhor
usar o dinheiro em escolas.
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos diz
que só o tempo mostrará qual o
caráter da emissora, se apoiará
ou não o presidente Lula. "Uma
iniciativa governamental pode
ser vista por ângulos não muito
favoráveis. Acho que a execução esclarecerá." Em 2005, ele
acusou a oposição de usar o
mensalão para aplicar um "golpe branco" contra o governo.
Já Cláudio Lembo, ex-governador de São Paulo e autor da
expressão "elite branca", vê riscos de a TV pública se transformar em um órgão chapa-branca, de apoio ao Palácio do Planalto. "Não sou ingênuo, esse é
um risco grande", afirma o
membro do DEM. "Vou ser
muito presente para que se preserve identidade e coerência."
Os conselheiros podem afastar membros da diretoria executiva da TV, até mesmo a presidente da emissora, Tereza
Cruvinel, caso identifiquem
problemas graves na programação. Se isso acontecer, a
maioria dos conselheiros deve
emitir dois votos de desconfiança, em um prazo de 12 meses, com intervalo de 30 dias.
Problema: quatro membros do
conselho são representantes de
ministérios, mais sujeitos a
pressões do governo federal.
"Ninguém no conselho vai
tolerar qualquer interferência", assegura o economista
Luiz Gonzaga Belluzzo, que está cotado para presidir o conselho -eleitor de Lula em 2002,
ele disse que votaria em José
Serra se o tucano fosse candidato à Presidência da República em 2006. "Se alguém tentar
fazer alguma coisa em contrário, peço demissão. Acho a manipulação uma das coisas mais
ridículas, mais grotescas dos
meios de comunicação."
Lembo, que diz se informar
principalmente pela internet e
pelos programas da TV Câmara
e TV Senado, defende uma programação voltada à história do
país, para divulgar as tradições
brasileiras. Belluzzo gostaria de
ver um programa de entrevistas como o "Hard Talk", da BBC
inglesa, emissora que aprecia
muito -" o entrevistador é implacável com todo mundo" .
Audiência
José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho, o Boni, que já foi o
homem mais poderoso da TV
Globo e hoje é dono da TV Vanguarda, diz que não será sua
função se envolver com a programação do canal público.
Mas, por e-mail, ele mostra que
tem idéias claras sobre o papel
educativo da emissora:
"Considero um bom projeto
se não houver interferência do
Estado. Vejo como coisa de longo prazo e uma boa oportunidade para fazer algumas múmias da rede educativa começarem a se modernizar."
A cenógrafa e carnavalesca
Rosa Magalhães imagina uma
emissora pública com programação variada e "de preferência, com audiência".
"Se põe títulos como "programa educativo", já fica cacete. E
não tem esse negócio de que
criança não pode ver TV. Pode
ver sim, faz muito bem. Sempre
fiz dever do colégio com TV ligada e nunca me atrapalhou."
(LEANDRO BEGUOCI, FERNANDO BARROS DE MELLO, LUIZ FERNANDO VIANNA e
ITALO NOGUEIRA)
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