São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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AFONSO MOTTA

"TV não terá audiência e é dispensável"

Vice-presidente da RBS teme que a emissora vire instrumento do governo

Motta diz que a boa intenção de produzir conteúdo de qualidade vai esbarrar em dois problemas: falta de dinheiro e de audiência

DA REPORTAGEM LOCAL

Para Afonso Antunes da Motta, 56, o Brasil não precisa de uma nova TV pública. Ele afirma que a boa intenção do governo federal, de produzir conteúdo de qualidade, diferente das redes comerciais, vai esbarrar em dois problemas: falta de dinheiro e de audiência. "A audiência está com a televisão comercial. Vai poder mostrar para meia dúzia de pessoas, com todo o respeito." Motta é vice-presidente da RBS TV, do Canal Rural e da Agert (Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão). Ele aponta ainda o risco de a TV Brasil virar um instrumento do governo. Leia abaixo os principais trechos da entrevista. (LEANDRO BEGUOCI)

 

FOLHA - O sr. é contra a TV pública?
MOTTA -
A TV Pública é dispensável. Até porque todas as experiências que temos ai são experiências comprovadas, malfadadas. Claro que não se chega ao radicalismo de dizer "fecha tudo". É um instrumento, tudo bem, mas não tem significado dentro do contexto da comunicação.
O ativismo da TV pública tem colocado que a preocupação das redes é perder verba pública. Ora, os grandes veículos de comunicação tem apenas de 3% a 5% dessa verba de governo, não tem esse significado todo que o ativismo deseja colocar. Não é por aí.

FOLHA - Um dos principais argumentos dos defensores da TV pública é que ela vai dar espaço ao que a TV comercial não mostra e tem importância cultural. Eles têm razão?
MOTTA -
Não adianta, pode ter a boa intenção de mostrar, mas não vai ter audiência. Quem é que vai assistir? A audiência está com a televisão comercial. Vai poder mostrar para meia dúzia de pessoas, com todo o respeito, sem desmerecer.

FOLHA - O sr. acha que ela vai virar instrumento do governo?
MOTTA -
Será que essa televisão pública, mesmo com essas limitações, vai ser pública efetivamente, não vai estar vinculada ao governo, não vai servir de instrumento? Há que se duvidar. Essa televisão pode ser utilizada para fins de valorizar ações de governo.

FOLHA - Setores do PT dizem que o orçamento é insuficiente para os desafios que a TV se coloca.
MOTTA -
Tem um orçamento de R$ 350 milhões iniciais. A gente sabe que para produzir conteúdo para atingir minimamente os objetivos que estão se propondo é muito pouco. Apesar de ser bastante dinheiro, olhando em números absolutos, é insuficiente para o investimento necessário de equipamento, de tecnologia, da própria produção de conteúdo, que a gente sabe que isso é uma coisa muito cara.

FOLHA - O sr. não espera nada positivo da TV pública?
MOTTA -
Acho que a TV pública poderia contribuir para a transparência dos atos públicos. Hoje há consenso em uma parte da sociedade de que uma das razões pelas quais a corrupção continua grassando é o fato de que não há transparência nesse país. E acho que a TV pública poderia ser utilizada, ao menos parte de seu conteúdo, para dar transparência à atividade pública. Essa é uma excelente idéia para conteúdo. Apesar de tudo isso, é pouco provável que a audiência saia do traço. Esse é o grande desafio.


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