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AFONSO MOTTA
"TV não terá audiência e é dispensável"
Vice-presidente da RBS teme que a emissora vire instrumento do governo
Motta diz que a boa intenção de produzir conteúdo de qualidade vai esbarrar em dois problemas: falta de dinheiro e de audiência
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Afonso Antunes da
Motta, 56, o Brasil não precisa
de uma nova TV pública. Ele
afirma que a boa intenção do
governo federal, de produzir
conteúdo de qualidade, diferente das redes comerciais, vai
esbarrar em dois problemas:
falta de dinheiro e de audiência.
"A audiência está com a televisão comercial. Vai poder mostrar para meia dúzia de pessoas,
com todo o respeito."
Motta é vice-presidente da
RBS TV, do Canal Rural e da
Agert (Associação Gaúcha de
Emissoras de Rádio e Televisão). Ele aponta ainda o risco
de a TV Brasil virar um instrumento do governo. Leia abaixo
os principais trechos da entrevista.
(LEANDRO BEGUOCI)
FOLHA - O sr. é contra a TV pública?
MOTTA - A TV Pública é dispensável. Até porque todas as
experiências que temos ai são
experiências comprovadas,
malfadadas. Claro que não se
chega ao radicalismo de dizer
"fecha tudo". É um instrumento, tudo bem, mas não tem significado dentro do contexto da
comunicação.
O ativismo da TV pública tem
colocado que a preocupação
das redes é perder verba pública. Ora, os grandes veículos de
comunicação tem apenas de
3% a 5% dessa verba de governo, não tem esse significado todo que o ativismo deseja colocar. Não é por aí.
FOLHA - Um dos principais argumentos dos defensores da TV pública é que ela vai dar espaço ao que a
TV comercial não mostra e tem importância cultural. Eles têm razão?
MOTTA - Não adianta, pode ter
a boa intenção de mostrar, mas
não vai ter audiência. Quem é
que vai assistir? A audiência está com a televisão comercial.
Vai poder mostrar para meia
dúzia de pessoas, com todo o
respeito, sem desmerecer.
FOLHA - O sr. acha que ela vai virar
instrumento do governo?
MOTTA - Será que essa televisão pública, mesmo com essas
limitações, vai ser pública efetivamente, não vai estar vinculada ao governo, não vai servir de
instrumento? Há que se duvidar. Essa televisão pode ser utilizada para fins de valorizar
ações de governo.
FOLHA - Setores do PT dizem que o
orçamento é insuficiente para os desafios que a TV se coloca.
MOTTA - Tem um orçamento
de R$ 350 milhões iniciais. A
gente sabe que para produzir
conteúdo para atingir minimamente os objetivos que estão se
propondo é muito pouco. Apesar de ser bastante dinheiro,
olhando em números absolutos, é insuficiente para o investimento necessário de equipamento, de tecnologia, da própria produção de conteúdo, que
a gente sabe que isso é uma coisa muito cara.
FOLHA - O sr. não espera nada positivo da TV pública?
MOTTA - Acho que a TV pública
poderia contribuir para a transparência dos atos públicos. Hoje há consenso em uma parte da
sociedade de que uma das razões pelas quais a corrupção
continua grassando é o fato de
que não há transparência nesse
país. E acho que a TV pública
poderia ser utilizada, ao menos
parte de seu conteúdo, para dar
transparência à atividade pública. Essa é uma excelente
idéia para conteúdo. Apesar de
tudo isso, é pouco provável que
a audiência saia do traço. Esse é
o grande desafio.
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