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Lula desiste de apresentar mudanças na Constituição
Presidente avalia que não tem maioria estável para enfrentar oposição em temas polêmicos
Desde 2003, Executivo foi autor de 13 PECs; reforma tributária será enviada ao Congresso com aviso de que não é prioridade do governo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que não vai
apresentar mais nenhuma proposta de emenda constitucional até o fim do segundo mandato (2010). Desde 2003, quando assumiu a Presidência, o petista enviou 13 PECs ao Congresso Nacional.
Segundo a Folha apurou, a
decisão de Lula foi tomada em
reunião com seus principais
auxiliares após a derrota da
PEC apresentada pelo Planalto
para prorrogar a CPMF, o imposto do cheque, até 2011. O
Senado Federal rejeitou a proposta em 13 de dezembro.
Lula avalia que a derrota deixou claro que ele não tem
maioria estável na Casa para
enfrentar batalhas polêmicas
com a oposição tucano-democrata. Por isso orientou os ministros a não apresentar medidas administrativas que exijam
PEC de autoria do Executivo.
Uma PEC necessita do apoio
mínimo de 308 dos 531 deputados e de 49 dos 81 senadores.
Além desses três quintos, a
proposta deve ser aprovada em
dois turnos de votação em cada
Casa. Formalmente, Lula tem
53 senadores nos partidos que
sustentam o governo no Congresso, mas há dissidentes que
na prática reduzem esse número, tornando arriscadas as
ofensivas para aprovar PECs.
Daí Lula ter dito aos auxiliares que não enviará mais proposta desse tipo. A exceção será
a apresentação de uma proposta de reforma tributária, promessa feita durante as negociações fracassadas da CPMF.
O presidente, porém, dirá
publicamente que a reforma
tributária não será uma prioridade legislativa do Executivo.
Afirmará que a eventual aprovação dependerá do apoio do
Congresso e da sociedade.
Lula deverá se reunir com
governadores e empresários
antes do envio da reforma tributária ao Congresso como
forma de mostrar que, ao contrário da CPMF, ela não é de
interesse apenas do governo.
Reservadamente, Lula crê
que a rejeição da CPMF pelo
PSDB e DEM acuará a oposição
politicamente na discussão da
reforma tributária, pois tucanos já propõem uma nova tentativa de acordo para aumentar
os recursos para a saúde.
Apesar de todos os 13 senadores do PSDB terem votado
contra a extensão da CPMF, o
partido se dividiu nas negociações com o governo. A ala dos
governadores José Serra (SP) e
Aécio Neves (MG) perdeu a batalha contra o grupo do ex-presidente Fernando Henrique e
do líder no Senado, Arthur Virgílio (AM). Há entre tucanos a
preocupação com eventuais
danos do discurso de Lula de
que a rejeição da CPMF fragilizou a área da saúde.
Aprovação
Das 13 PECs enviadas por
Lula, 5 foram aprovadas quase
na íntegra ou parcialmente.
A primeira foi a reforma da
Previdência de 2003, que endureceu as regras de aposentadoria para o servidor público.
A segunda PEC versava sobre
reforma tributária apresentada
em 2003, mas o Congresso
aprovou apenas a parte que
propunha a prorrogação da
CPMF e da DRU (Desvinculação de Receitas da União) até o
final de 2007. O restante dessa
proposta, como o fim da guerra
fiscal entre Estados, ainda tramita no Congresso.
Em 2005, o governo apresentou a PEC do Fundeb, o fundo
da educação básica, que elevava
recursos para a área.
Em 2007, o governo conseguiu aprovar a PEC que elevava
em 1 ponto percentual (de
22,5% para 23,5%) o repasse da
União ao Fundo de Participação dos Municípios.
Em dezembro, o Senado rejeitou a parte da PEC 50 que
previa a prorrogação da CPMF
até 2011, mas aprovou a extensão da DRU no mesmo período.
Oito PECs apresentadas por
Lula estão paradas ou caminham a passo de tartaruga, como a reforma sindical e a minirreforma tributária de 2004.
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