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PORTO ALEGRE
No painel que dominou o 1º dia do evento, área comercial foi definida como forma de anexação pelos EUA
Para fórum, Alca significa colonialismo
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
No primeiro dia de debates do
2º Fórum Social Mundial, a rejeição da proposta de criação da Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) dominou o debate e
ofuscou as sete mesas que discutiam comércio, corporações multinacionais, controle financeiro e
trabalho, entre outros temas.
O tom das intervenções na discussão sobre a Alca foi dado pelo
presidente do PT, José Dirceu,
primeiro orador do encontro.
"O que está colocado é se queremos ser nação ou colônia", discursou. "Temos evoluído para
uma posição radical em relação à
Alca: é uma política de anexação
dos Estados Unidos."
A Alca é uma proposta em discussão pelos 34 países do continente americano para que, a partir de 2005, seja criado um bloco
de livre comercialização de bens e
serviço sem cobrança de tarifas.
Reuniria 800 milhões de consumidores, movimentando mais de
US$ 2,7 trilhões entre os países.
Organizada pelo Instituto Cidadania, órgão ligado ao PT e que
tem coordenado as discussões do
programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o debate reuniu
o maior público do primeiro dia
do fórum na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães, ex-diretor do Instituto de Relações Internacionais do
Itamaraty, do qual foi desligado
por divergências com o ministro
Celso Lafer, afirmou que a Alca dá
continuidade à política de dominação dos EUA para o continente.
Essa política teria três vertentes:
militar, na qual os americanos
pregam desarmamento das forças
de defesa locais e estimulam bases
militares suas; política, com o
apoio a elites locais dirigentes em
consonância com seu ideário; e
econômica, com passagem do
controle da moeda para os EUA
por meio da dolarização e definição das políticas de câmbio e industrial por meio de órgãos subordinados à linha americana.
"Esse projeto está presente
quando se prega um Banco Central independente ou agências reguladoras que esvaziaram os ministérios. Isso pode levar a presença de um presidente do BC
com filosofia oposta à do presidente eleito pelo voto", afirmou.
"O que os EUA querem é a reconstrução utópica do mundo
pré-1914 (Primeira Guerra Mundial). Países sem Forças Armadas,
sem moeda, com política econômica administrada pelo Fundo
Monetário Internacional. Ou seja,
colônias", declarou.
Para ele, a tecnocracia ligada ao
FMI pode ser resumida como um
"grupo de contadores": "Só dizem corta aqui, aumenta imposto
lá."
O sociólogo Emir Sader, em sua
participação na mesa, disse que o
Ministério das Relações Exteriores será o mais importante, no caso de Lula vencer as eleições. "Para ter autonomia para fazer uma
política industrial, é preciso inserção internacional." Lula participou só como ouvinte e foi ovacionado por platéia de 600 pessoas,
majoritariamente petista.
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