São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2002

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PORTO ALEGRE

No painel que dominou o 1º dia do evento, área comercial foi definida como forma de anexação pelos EUA

Para fórum, Alca significa colonialismo

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

No primeiro dia de debates do 2º Fórum Social Mundial, a rejeição da proposta de criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) dominou o debate e ofuscou as sete mesas que discutiam comércio, corporações multinacionais, controle financeiro e trabalho, entre outros temas.
O tom das intervenções na discussão sobre a Alca foi dado pelo presidente do PT, José Dirceu, primeiro orador do encontro.
"O que está colocado é se queremos ser nação ou colônia", discursou. "Temos evoluído para uma posição radical em relação à Alca: é uma política de anexação dos Estados Unidos."
A Alca é uma proposta em discussão pelos 34 países do continente americano para que, a partir de 2005, seja criado um bloco de livre comercialização de bens e serviço sem cobrança de tarifas. Reuniria 800 milhões de consumidores, movimentando mais de US$ 2,7 trilhões entre os países.
Organizada pelo Instituto Cidadania, órgão ligado ao PT e que tem coordenado as discussões do programa de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o debate reuniu o maior público do primeiro dia do fórum na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-diretor do Instituto de Relações Internacionais do Itamaraty, do qual foi desligado por divergências com o ministro Celso Lafer, afirmou que a Alca dá continuidade à política de dominação dos EUA para o continente.
Essa política teria três vertentes: militar, na qual os americanos pregam desarmamento das forças de defesa locais e estimulam bases militares suas; política, com o apoio a elites locais dirigentes em consonância com seu ideário; e econômica, com passagem do controle da moeda para os EUA por meio da dolarização e definição das políticas de câmbio e industrial por meio de órgãos subordinados à linha americana.
"Esse projeto está presente quando se prega um Banco Central independente ou agências reguladoras que esvaziaram os ministérios. Isso pode levar a presença de um presidente do BC com filosofia oposta à do presidente eleito pelo voto", afirmou.
"O que os EUA querem é a reconstrução utópica do mundo pré-1914 (Primeira Guerra Mundial). Países sem Forças Armadas, sem moeda, com política econômica administrada pelo Fundo Monetário Internacional. Ou seja, colônias", declarou.
Para ele, a tecnocracia ligada ao FMI pode ser resumida como um "grupo de contadores": "Só dizem corta aqui, aumenta imposto lá."
O sociólogo Emir Sader, em sua participação na mesa, disse que o Ministério das Relações Exteriores será o mais importante, no caso de Lula vencer as eleições. "Para ter autonomia para fazer uma política industrial, é preciso inserção internacional." Lula participou só como ouvinte e foi ovacionado por platéia de 600 pessoas, majoritariamente petista.



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