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NO PLANALTO
O generoso Lula
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deus acode os desamparados. Mas um companheiro no Palácio do Planalto
ajuda. Pergunte-se a João Vaccari. Chegado de Lula, ele sabe
bem do que se está falando.
Vaccari é presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo
e secretário de Finanças da CUT,
braço sindical do PT. Duas entidades que, no ocaso do capitalismo com consciência, são tão obsoletas quanto a mão-de-obra.
Quem abriu os jornais na última quarta-feira deu de cara
com o caos: o desemprego já incapacita 19% dos braços economicamente "ativos" da região
metropolitana de São Paulo.
Em campanha, Lula prometera 10 milhões de novas vagas.
Deixou eriçada a bugrada, inclusive o grupo que Vaccari julga representar.
Porém, o Brasil radicalmente
outro esboçado no palanque se
esvai devagarinho no discurso
temperado de Antonio Palocci
Filho. Qual um Malan de barba,
Palocci ainda não tem olhos para os caixas de banco. Antes, tonifica os juros que cevam a caixa
da banca.
Ante a evidência de que a causa da empregabilidade alheia é
mesmo inglória, Vaccari pôs-se
a brigar pelo próprio bem-estar.
Pediu alto: a presidência da Caixa Econômica Federal.
Foi barrado por três obstáculos: o bom senso, a resistência de
Palocci e a falta de diploma universitário, exigência dos estatutos da CEF. Não necessariamente nessa ordem.
Abandonado pela benevolência divina, Vaccari foi amparado pela mão amiga do Planalto.
Obteve um tipo doce de desocupação: uma sinecura pública.
Ganhou, surpresa (!!), estupefação (!!!), uma cadeira no conselho de administração de Itaipu. Quem o premiou? "O próprio
Lula." Por quê? "Na medida em
que eu não fui para a Caixa, teve
o convite...".
O assento de Itaipu conforta a
alma. E o bolso, naturalmente. O
jeton é bom, muito bom, ótimo:
R$ 7.500 por mês. O trabalho é
pouco, muito pouco, pouquíssimo: uma reunião mensal.
O contato de Vaccari com o
mundo da energia é exíguo.
Achega-se ao tema só no instante em que precisa tatear o interruptor de luz. Mas é esforçado:
"Estou tomando pé".
Avançou pouco: "Tomei posse
na semana passada. O pessoal
de Itaipu ficou de mandar uns
documentos. Ainda não recebi
nenhum papel". Sobre o novo
empregador, sabe o trivial: "É
uma megaempresa de energia".
Por trás do prêmio concedido
a Vaccari há um ingrediente sindical. Ele pleiteava a presidência
da CUT. João Felício, atual dirigente da entidade, deixa o cargo
em abril. Lula quer acomodar
no posto um amigo mais amistoso que Vaccari: Luiz Marinho,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
A cruzada pela flexibilização
dos direitos sociais dos trabalhadores pede mesmo a presença de
um companheiro de boa cepa na
direção da maior central sindical do país. O novo baque talvez
levasse Vaccari a flertar com a
inimizade. O consolo de Itaipu
parece tê-lo amaciado: "Estou
na disputa. Mas o nome que
mais aglutina é o do Marinho".
Poder-se-ia dizer que a homenagem de Lula a Vaccari conspurca a já tão aviltada bolsa da
viúva. A veneranda senhora é
chamada agora a pacificar desavenças sindicais. Mas os áulicos
decerto classificariam a crítica
como profanação à liderança de
um presidente mitificado pela
popularidade em alta.
Melhor, portanto, exaltar a benevolência do companheiro presidente. Às favas com os interesses do erário. Deus abençoe a camaradagem petista.
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