São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Assassinatos semelhantes serão apurados e pistoleiros, rastreados

PF amplia investigação de morte de fiscais para o Pará

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A UNAÍ (MG)

As investigações sobre a morte de três fiscais do Trabalho em Unaí (MG) serão ampliadas para o Pará, onde muitos fazendeiros da cidade mineira também possuem terras. De início, a Polícia Federal vai analisar assassinatos ocorridos de maneira semelhante e rastrear pistoleiros paraenses.
Devido à comprovação de trabalho escravo em algumas fazendas do Pará e a ocorrência de chacinas na região, o governo criou um grupo móvel de fiscalização em que auditores do Ministério do Trabalho atuam sob proteção de agentes da PF. Em Unaí, a fiscalização era de rotina.
O prefeito de Unaí, José Braz da Silva (PTB), é dono de terras no Pará e possui uma condenação por uso de trabalhadores em condição análoga à escravidão. Não há nenhuma acusação contra ele no caso da morte dos fiscais. Em Unaí, a única propriedade em nome do prefeito é uma chácara de 51,2 hectares, onde ele mora.
Seguindo outra vertente, a força-tarefa criada pelo governo para elucidar o caso começa a tomar o depoimento de fazendeiros de Unaí cujas propriedades receberam a visita dos auditores assassinados nos últimos meses. Membros da força-tarefa já estão infiltrados em fazendas da região.
Na quarta, os fiscais do trabalho Nelson José da Silva, João Batista Soares Lage e Erastótenes de Almeida Gonçalves foram assassinados com tiros na cabeça com seu motorista Ailton Pereira de Oliveira, quando iniciavam a rota de visitas a fazendas.
Entre os futuros depoentes estão Nelson Schneider e os irmãos Mânica, Norberto, Antério, Celso e Luis Antonio, os maiores proprietários rurais de Unaí. Segundo relatório escrito em março do ano passado por Nelson José da Silva, Norberto Mânica teria ameaçado "fiscais do trabalho que conversasse fiado em sua fazenda" com um "tiro na testa".
Segundo o delegado federal Alfredo José de Souza Junqueira, que preside o inquérito, o fato de os fazendeiros serem averiguados não significa que eles sejam suspeitos. "Ouviremos todas as pessoas que têm alguma relação com as vítimas, familiares, fazendeiros. Não descartamos nenhuma linha de investigação."
Ontem, o primeiro relatório de atividades da PF foi encaminhado para o diretor-geral, Paulo Lacerda. Apesar da prioridade dada ao caso pelo governo, os policiais ainda têm dificuldades para receber as diárias e o dinheiro para o combustível -óleo diesel.
Os investigadores passaram o fim de semana cruzando dados dos relatórios dos fiscais encontrados no veículo em que foram mortos com as auditorias das subdelegacias de Unaí e Paracatu.
Todos os documentos estão sob sigilo, em posse de uma equipe da PF. No sábado, a subdelegada do Trabalho Dália Ulhôa, que recebe proteção da Polícia Militar mineira, prestou depoimento.
A Folha procurou o assessor de imprensa do prefeito Braz da Silva, mas ele não atendeu as ligações feitas para seu telefone celular desde a última quinta-feira.
A reportagem também deixou recados para Norberto Mânica na fazenda Palmeira, mas não houve resposta. O fazendeiro Nelson Schneider não foi localizado.



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