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"Offshore" sócia de acusado em Santo André gira R$ 45 mi
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A "offshore" uruguaia Roanoake Holding Sociedade Anônima,
sócia do empresário Ronan Maria
Pinto, acusado pelo Ministério
Público de formação de quadrilha
e extorsão pela Promotoria de
Santo André (SP), girou cerca de
R$ 45 milhões numa conta bancária de Montevidéu entre março de
2000 e setembro de 2002.
Um dos representantes da Roanoake no Brasil é José Renato
Bandeira de Araújo Leal, atual sócio de Ronan na empresa de ônibus Rotedali Transportes Urbanos, de Cuiabá (MT) -Rotedali
são as iniciais do nome de Ronan,
de Terezinha (sua mulher) e dos
filhos, Danilo e Lidiane.
Segundo os dados do Banco
Central sobre operações de entrada e de saída de dinheiro do Brasil
por meio de contas CC5, enviados
à CPI do Banestado e obtidos pela
Folha, uma captadora de recursos
do Rio de Janeiro chamada Agipar S/A recebeu R$ 23.948.046,60
da Roanoake em diversas operações. Em contrapartida, a uruguaia recebeu R$ 21.199.827,50 da
Agipar.
Na prática, tratam-se de empréstimos da Roanoake para ela
própria, já que a uruguaia é sócia-proprietária da Agipar, segundo
documentos obtidos pela reportagem na Receita Federal.
Ouvido pela Polícia Federal e
pelo Ministério Público no ano
passado, Ronan afirmou desconhecer o verdadeiro dono da Roanoake -apesar de a empresa ter
sido sua sócia em duas transportadoras, a Solbus e a Expresso Nova Cuiabá. Disse ainda que não
sabia de alguma movimentação
financeira no exterior. Na época,
o Ministério Público não sabia
das remessas agora informadas à
CPI do Banestado.
Procurado na última quinta-feira, o empresário se recusou a falar
com a reportagem -pessoalmente ou por escrito.
Como a Roanoake Holding é
uma "offshore", a identidade dos
verdadeiros donos é desconhecida. As leis do Uruguai garantem
sigilo sobre os nomes de acionistas de empresas.
Ronan controla o setor de transporte urbano em Cuiabá e em
Santo André e foi sócio do empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André,
Celso Daniel (PT).
Gomes da Silva e Ronan, que
são amigos, tiveram uma empresa de ônibus em Fortaleza (CE).
Há dois anos, ambos foram denunciados pelo Ministério Público por formação de quadrilha e
concussão. Teriam montado um
esquema de coleta de propina na
cidade. Parte do dinheiro, segundo testemunhas, financiou campanhas políticas do PT, o que o
partido nega.
Rede
No caminho do dinheiro revelado pelos dados do Banco Central,
vários nomes de pessoas e de empresas se cruzam em uma rede de
sociedades.
A Agipar S/A, que enviou dinheiro para a Roanoake no Uruguai, tem três donos: Gilberto Alves Costa, Roanoake Holding e
um fundo mútuo de investimento, a Private Company Invest.
Nesse contrato, a Roanoake é
representada pelo advogado Fernando Magalhães Milman, que
assina pela empresa -Milman e
Costa dividem ainda sociedade
em outra empresa, a Nisc Empreendimentos.
De Montevidéu, a Roanoake
"reinveste" quantias na Agipar
por meio de empréstimos diretos.
No dia 16 de agosto de 2002, por
exemplo, a Agipar recebeu em sua
conta bancária de São Paulo R$
8,89 milhões enviados pela Roanoake pelo banco Safra.
Exatamente um mês depois, a
Agipar enviou, por meio de uma
conta bancária no Rio, R$ 3,51 milhões para outra empresa "offshore" uruguaia que funciona no
mesmo endereço da Roanoake
em Montevidéu, a Leibnitz S/A.
Esta tem conta no paraíso fiscal
das Ilhas Cayman.
Sócios
O sócio de Ronan, o advogado
José Renato Bandeira de Araújo
Leal, recebeu uma procuração assinada em cartório por Milman
para que pudesse responder pela
Roanoake no Brasil. Em 1998, ele
assinou dois contratos de sociedade com Ronan, da Solbus e da
Expresso Nova Cuiabá.
Ronan deixou formalmente as
duas sociedades, porém não informou quando isso ocorreu.
Em maio de 2002, Leal foi convidado por Ronan a entrar como
sócio-gerente da Rotedali Transportes Urbanos em Cuiabá. Com
três empresas, Ronan chegou a
controlar 83% do setor na cidade,
em 2002.
(RV e LC)
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