São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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"Offshore" sócia de acusado em Santo André gira R$ 45 mi

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

A "offshore" uruguaia Roanoake Holding Sociedade Anônima, sócia do empresário Ronan Maria Pinto, acusado pelo Ministério Público de formação de quadrilha e extorsão pela Promotoria de Santo André (SP), girou cerca de R$ 45 milhões numa conta bancária de Montevidéu entre março de 2000 e setembro de 2002.
Um dos representantes da Roanoake no Brasil é José Renato Bandeira de Araújo Leal, atual sócio de Ronan na empresa de ônibus Rotedali Transportes Urbanos, de Cuiabá (MT) -Rotedali são as iniciais do nome de Ronan, de Terezinha (sua mulher) e dos filhos, Danilo e Lidiane.
Segundo os dados do Banco Central sobre operações de entrada e de saída de dinheiro do Brasil por meio de contas CC5, enviados à CPI do Banestado e obtidos pela Folha, uma captadora de recursos do Rio de Janeiro chamada Agipar S/A recebeu R$ 23.948.046,60 da Roanoake em diversas operações. Em contrapartida, a uruguaia recebeu R$ 21.199.827,50 da Agipar.
Na prática, tratam-se de empréstimos da Roanoake para ela própria, já que a uruguaia é sócia-proprietária da Agipar, segundo documentos obtidos pela reportagem na Receita Federal.
Ouvido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público no ano passado, Ronan afirmou desconhecer o verdadeiro dono da Roanoake -apesar de a empresa ter sido sua sócia em duas transportadoras, a Solbus e a Expresso Nova Cuiabá. Disse ainda que não sabia de alguma movimentação financeira no exterior. Na época, o Ministério Público não sabia das remessas agora informadas à CPI do Banestado.
Procurado na última quinta-feira, o empresário se recusou a falar com a reportagem -pessoalmente ou por escrito.
Como a Roanoake Holding é uma "offshore", a identidade dos verdadeiros donos é desconhecida. As leis do Uruguai garantem sigilo sobre os nomes de acionistas de empresas.
Ronan controla o setor de transporte urbano em Cuiabá e em Santo André e foi sócio do empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mandante do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).
Gomes da Silva e Ronan, que são amigos, tiveram uma empresa de ônibus em Fortaleza (CE). Há dois anos, ambos foram denunciados pelo Ministério Público por formação de quadrilha e concussão. Teriam montado um esquema de coleta de propina na cidade. Parte do dinheiro, segundo testemunhas, financiou campanhas políticas do PT, o que o partido nega.

Rede
No caminho do dinheiro revelado pelos dados do Banco Central, vários nomes de pessoas e de empresas se cruzam em uma rede de sociedades.
A Agipar S/A, que enviou dinheiro para a Roanoake no Uruguai, tem três donos: Gilberto Alves Costa, Roanoake Holding e um fundo mútuo de investimento, a Private Company Invest.
Nesse contrato, a Roanoake é representada pelo advogado Fernando Magalhães Milman, que assina pela empresa -Milman e Costa dividem ainda sociedade em outra empresa, a Nisc Empreendimentos.
De Montevidéu, a Roanoake "reinveste" quantias na Agipar por meio de empréstimos diretos. No dia 16 de agosto de 2002, por exemplo, a Agipar recebeu em sua conta bancária de São Paulo R$ 8,89 milhões enviados pela Roanoake pelo banco Safra.
Exatamente um mês depois, a Agipar enviou, por meio de uma conta bancária no Rio, R$ 3,51 milhões para outra empresa "offshore" uruguaia que funciona no mesmo endereço da Roanoake em Montevidéu, a Leibnitz S/A. Esta tem conta no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.

Sócios
O sócio de Ronan, o advogado José Renato Bandeira de Araújo Leal, recebeu uma procuração assinada em cartório por Milman para que pudesse responder pela Roanoake no Brasil. Em 1998, ele assinou dois contratos de sociedade com Ronan, da Solbus e da Expresso Nova Cuiabá.
Ronan deixou formalmente as duas sociedades, porém não informou quando isso ocorreu.
Em maio de 2002, Leal foi convidado por Ronan a entrar como sócio-gerente da Rotedali Transportes Urbanos em Cuiabá. Com três empresas, Ronan chegou a controlar 83% do setor na cidade, em 2002. (RV e LC)


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