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Delúbio e Silvio foram responsáveis pelos repasses, diz Valério
Empresário diz ter ouvido de ex-tesoureiro que "toda a cúpula" do PT sabia das operações; ele negou uso de dinheiro público
Pivô do mensalão cita ainda em depoimento que Silvio Pereira lhe contou que José Dirceu tinha conhecimento dos empréstimos de bancos
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Interrogado ontem no processo do mensalão, o empresário Marcos Valério centralizou
nos ex-dirigentes do PT Delúbio Soares (tesoureiro) e Silvio
Pereira (secretário-geral) as
responsabilidades dentro do
partido pelos repasses de dinheiro a aliados. Porém, afirmou que Delúbio lhe disse várias vezes que toda a cúpula do
PT tinha ciência dos fatos e que
Pereira comentara com ele que
o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sabia das operações.
Valério disse que nunca conversou sobre empréstimos com
o ex-presidente do PT José Genoino nem tratou do tema com
Dirceu, cuja trajetória política
disse "respeitar e admirar".
O pivô do maior escândalo de
corrupção do governo Lula, que
responde por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, afirmou que tratou apenas com Delúbio -a
quem chamou de "amigo"- e
Silvio Pereira sobre os R$ 55
milhões em empréstimos tomados por suas empresas e repassados a membros do PT, PL
(atual PR), PTB e PP.
Nas cinco horas iniciais do
interrogatório, que começou às
14h, Valério não concretizou as
ameaças veladas que fez durante o depoimento de Delúbio,
quando seu advogado pediu
que fossem registradas questões sobre supostas reuniões
com o ex-ministro Antonio Palocci e visitas à Granja do Torto.
Valério repetiu que o dinheiro repassado ao PT se originou
de empréstimos nos bancos
Rural e BMG e que os sacadores
foram identificados e assinaram recibos. "Para nós, SMPB
[sua agência], não existia crime.
Estava tomando [empréstimos] no mercado privado, emprestando ao PT e identificando o recebedor na ponta."
Caracterizado pela Procuradoria como "verdadeiro profissional do crime", Valério buscou blindar outros réus do caso,
como suas ex-funcionárias Simone Vasconcelos e Geiza
Dias, o advogado Rogério Tolentino e dirigentes do Banco
Rural. Mas dividiu responsabilidades com os ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach.
"A empresa [SMPB] era tocada
a três mãos pelos sócios."
Indagado pelo juiz Alexandre
Buck sobre os interesses em financiar o PT, já que suas empresas não eram do ramo, disse
que visava a "entrar na área de
campanhas políticas".
Valério usou o direito de ficar
em silêncio quando questionado se empréstimo tomado por
ele no Rural em 1998 -e pago
em acordo judicial- teve como
destino o PSDB. Disse que falará só no processo do caso. Ele se
recusou a responder perguntas
formuladas pelo Ministério Público Federal e por advogados
dos outros réus. O interrogatório durou cerca de sete horas, e
terminou por volta das 21h.
O empresário confirmou ter
intermediado encontros de dirigentes do Rural com Dirceu,
isso porque tinha a conta publicitária do banco e era um pedido dos diretores. Disse que pediu, atendendo a Pereira, um
emprego no BMG e financiamento imobiliário no Rural para Maria Ângela Saragoza, ex-mulher de Dirceu, mas os bancos não sabiam a relação dela
com o ex-ministro. Valério negou ter ido a Portugal como
emissário do PT para encontro
com o presidente da Portugal
Telecom -disse que a viagem
foi em interesse da DNA.
Outro lado
O advogado de Dirceu, Daniel Dall'acqua, afirmou que
Valério se contradisse ao dizer
que Silvio Pereira lhe contara
que o ex-ministro sabia dos
empréstimos. Segundo o advogado, ele disse, em outro depoimento, que Delúbio lhe dera essa informação. O advogado de
Valério, Marcelo Leonardo, negou ter havido contradição.
O advogado Gustavo Badaró,
que representa Pereira, disse
que seu cliente já afirmara que
nunca tratou dos empréstimos
e que não teve nenhuma relação com a obtenção ou distribuição do dinheiro. A reportagem não conseguiu contato
com o advogado de Delúbio.
Colaborou SÍLVIA FREIRE , da Agência Folha
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