São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Delúbio e Silvio foram responsáveis pelos repasses, diz Valério

Empresário diz ter ouvido de ex-tesoureiro que "toda a cúpula" do PT sabia das operações; ele negou uso de dinheiro público

Pivô do mensalão cita ainda em depoimento que Silvio Pereira lhe contou que José Dirceu tinha conhecimento dos empréstimos de bancos


THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Interrogado ontem no processo do mensalão, o empresário Marcos Valério centralizou nos ex-dirigentes do PT Delúbio Soares (tesoureiro) e Silvio Pereira (secretário-geral) as responsabilidades dentro do partido pelos repasses de dinheiro a aliados. Porém, afirmou que Delúbio lhe disse várias vezes que toda a cúpula do PT tinha ciência dos fatos e que Pereira comentara com ele que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sabia das operações.
Valério disse que nunca conversou sobre empréstimos com o ex-presidente do PT José Genoino nem tratou do tema com Dirceu, cuja trajetória política disse "respeitar e admirar".
O pivô do maior escândalo de corrupção do governo Lula, que responde por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, afirmou que tratou apenas com Delúbio -a quem chamou de "amigo"- e Silvio Pereira sobre os R$ 55 milhões em empréstimos tomados por suas empresas e repassados a membros do PT, PL (atual PR), PTB e PP.
Nas cinco horas iniciais do interrogatório, que começou às 14h, Valério não concretizou as ameaças veladas que fez durante o depoimento de Delúbio, quando seu advogado pediu que fossem registradas questões sobre supostas reuniões com o ex-ministro Antonio Palocci e visitas à Granja do Torto.
Valério repetiu que o dinheiro repassado ao PT se originou de empréstimos nos bancos Rural e BMG e que os sacadores foram identificados e assinaram recibos. "Para nós, SMPB [sua agência], não existia crime. Estava tomando [empréstimos] no mercado privado, emprestando ao PT e identificando o recebedor na ponta."
Caracterizado pela Procuradoria como "verdadeiro profissional do crime", Valério buscou blindar outros réus do caso, como suas ex-funcionárias Simone Vasconcelos e Geiza Dias, o advogado Rogério Tolentino e dirigentes do Banco Rural. Mas dividiu responsabilidades com os ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach. "A empresa [SMPB] era tocada a três mãos pelos sócios." Indagado pelo juiz Alexandre Buck sobre os interesses em financiar o PT, já que suas empresas não eram do ramo, disse que visava a "entrar na área de campanhas políticas".
Valério usou o direito de ficar em silêncio quando questionado se empréstimo tomado por ele no Rural em 1998 -e pago em acordo judicial- teve como destino o PSDB. Disse que falará só no processo do caso. Ele se recusou a responder perguntas formuladas pelo Ministério Público Federal e por advogados dos outros réus. O interrogatório durou cerca de sete horas, e terminou por volta das 21h.
O empresário confirmou ter intermediado encontros de dirigentes do Rural com Dirceu, isso porque tinha a conta publicitária do banco e era um pedido dos diretores. Disse que pediu, atendendo a Pereira, um emprego no BMG e financiamento imobiliário no Rural para Maria Ângela Saragoza, ex-mulher de Dirceu, mas os bancos não sabiam a relação dela com o ex-ministro. Valério negou ter ido a Portugal como emissário do PT para encontro com o presidente da Portugal Telecom -disse que a viagem foi em interesse da DNA.

Outro lado
O advogado de Dirceu, Daniel Dall'acqua, afirmou que Valério se contradisse ao dizer que Silvio Pereira lhe contara que o ex-ministro sabia dos empréstimos. Segundo o advogado, ele disse, em outro depoimento, que Delúbio lhe dera essa informação. O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, negou ter havido contradição. O advogado Gustavo Badaró, que representa Pereira, disse que seu cliente já afirmara que nunca tratou dos empréstimos e que não teve nenhuma relação com a obtenção ou distribuição do dinheiro. A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Delúbio.


Colaborou SÍLVIA FREIRE , da Agência Folha


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