São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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ELEIÇÃO NO ESCURO

Cúpula do partido tenta manter aliança, repudiada por lideranças regionais depois da decisão do TSE

Rachado, PTB ameaça retirar apoio a Ciro

Juca Varella/Folha Imagem
Ciro Gomes, presidenciável do PPS, em restaurante de São Paulo, onde viajou para se encontrar com lideranças petebistas


JULIA DUAILIBI
LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

A verticalização das alianças deflagrou uma crise no PTB: o partido, hoje rachado, pode abandonar a candidatura do presidenciável Ciro Gomes (PPS) e lançar apoio a um nome governista.
Os petebistas da base insistem que o partido tem a ganhar com o apoio à candidatura tucana de José Serra ou mesmo à de Roseana Sarney (PFL). Com os governistas, conseguiriam ampliar a bancada nas próximas eleições.
Além disso, os petebistas favoráveis ao apoio a Serra contam com um apelo forte: nos bastidores, o governo já promete ministérios e cargos aos que embarcarem na candidatura tucana.
A cúpula do PTB, por outro lado, insiste no apoio a Ciro e tenta abafar a crise. "Criou-se um pânico generalizado na bancada, mas vamos apagar o fogo", disse o líder do PTB na Câmara, o deputado Roberto Jefferson. Os líderes petebistas ganham em suas bases eleitorais se a coligação com o PPS e o PDT for mantida.
É o caso do Rio de Janeiro, reduto eleitoral de Jefferson, e do Paraná, do presidente nacional do PTB, José Carlos Martinez.
Os petebistas a favor do apoio aos tucanos já anunciaram uma articulação para vetar o nome do pré-candidato do PPS.
"Temos até junho para articular o apoio do partido ao PSDB. Há um movimento muito grande contra o apoio a Ciro", disse o deputado federal Ricardo Izar (SP).

Fôlego
A candidatura Ciro só ganha fôlego com o apoio do PTB e do PDT. Com os dois partidos, o PPS teria direito a seis minutos diários no horário gratuito de TV. Além disso, Ciro teria 45 minutos na TV em junho (soma dos tempos dos programas a que têm direito os três partidos).
Ciro minimiza a crise do PTB e diz não ver a possibilidade de o partido voltar atrás na aliança. "A aliança está perfeita. A decisão do TSE em nada muda. Antes dela, 80% dos nossos problemas regionais já estavam resolvidos", disse.
O presidente do PTB assina embaixo. "Já temos fechados 22 candidatos aos governos dos Estados com alianças similares à nacional", afirmou Martinez.
A possibilidade de a aliança PPS-PTB resistir às novas regras fica ainda mais difícil devido ao apoio dos petebistas em São Paulo à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que conta com o entusiasmo do vice-presidente do partido, deputado Campos Machado.

Aliança descartada
Cacique petebista no Estado, Machado descarta a hipótese de não estar ao lado dos tucanos na disputa pelo governo paulista. Para Machado, a solução para não ter de desembarcar da candidatura Ciro à Presidência é derrotar juridicamente a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Por outro lado, a cúpula do partido, fechada com Ciro, pensa em lançar uma candidatura própria em São Paulo para viabilizar a aliança. Entre os nome citados, está o do deputado federal Luiz Antônio Fleury Filho.
O ex-governador paulista é a favor da solução, mas encontra a resistência do PTB paulista. "Temos de ver quem vai decolar: Serra ou mosquito da dengue. Se for o mosquito, a nossa bancada seria ainda menor", disse.

Outros Estados
Além de São Paulo, há outros nove Estados em que os bombeiros do PTB vão ter de trabalhar: Sergipe, Rondônia, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Amazonas.
Na segunda-feira, os líderes da aliança PTB-PDT-PPS irão se reunir na casa do presidente do PDT, Leonel Brizola, para discutir a situação da coligação depois da decisão do TSE. Nas eleições presidenciais de 94 e de 98, o PTB esteve ao lado do PSDB na disputa.
O namoro do partido com os tucanos teve altos e baixos durante os mandatos de FHC. O último capítulo da história ocorreu em agosto de 2000, quando o PTB deixou o bloco governista no Congresso para negociar o apoio à candidatura de Ciro.



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