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ELEIÇÃO NO ESCURO
"Se querem fazer do Serra presidente a qualquer preço, é melhor fechar o Congresso e nomeá-lo", diz governadora
Roseana vê "complô político" e acusa Serra
OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
"Se querem mesmo fazer do José Serra presidente da República a
qualquer preço, é melhor fechar o
Congresso e nomeá-lo, como se
fazia na ditadura militar".
Foi com essas palavras que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pré-candidata do PFL
à Presidência, reagiu, em entrevista à Folha por telefone, à operação
de busca e apreensão, determinada ontem pela Justiça, na empresa
Lunus, de Jorge Murad, marido
da governadora e gerente de Planejamento do Maranhão.
Roseana atribuiu a responsabilidade pela operação ao governo
federal e ao pré-candidato tucano
à Presidência, José Serra. A ação
foi classificada pela governadora
Roseana como "a maior violência
que sofri em toda a minha vida".
"Mas eleição não se ganha assim, se ganha com voto, e é isso
que ele [Serra" ainda não tem e
com que deveria se preocupar],
afirmou a governadora, que está
empatada tecnicamente na liderança da corrida presidencial com
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No cenário mais provável pesquisado pelo Datafolha na semana passada, Lula tem 27% e Roseana, 24%. Serra aparece com
12%, atrás de Anthony Garotinho
(PSB), com 14%. A margem de erro é dois pontos percentuais.
Roseana criticou ainda o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, filiado ao PSDB e um dos
principais articuladores da candidatura Serra: "Foi um ato de selvageria. O ministro da Justiça, em
vez de tentar acabar com a violência, colabora com cenas de violência como a de hoje [ontem" no
Maranhão", disse.
Roseana diz "ter certeza" de que
FHC e Aloysio foram avisados da
operação pela PF com antecedência, por envolver uma governadora de um partido aliado e pré-candidata à Presidência. Mesmo assim, disse, não a avisaram nem fizeram nada para impedir. No final da tarde, depois de deflagrada
a operação, ela conversou por telefone com FHC. Não revelou o
diálogo. Disse apenas que a conversa "não foi nada amigável".
"Já imaginou se a PF tentasse invadir o escritório da mulher do
Tasso [Jereissati, governador do
Ceará" ou do Alckmin [Geraldo,
governador de São Paulo"? Duvido que iriam deixar."
Complô político
Roseana afirma que há um
"complô político" para retirá-la
da corrida presidencial em benefício de José Serra. Reclamou que
vem sofrendo ataques desde
quando "estava lá atrás nas pesquisas". Depois dos ataques, foi
"vítima" da decisão do TSE de
verticalizar as coligações eleitorais, medida que, para ela, beneficia Serra. "Todos que têm voto
precisam deixar o caminho livre
para o Serra? Eu, o Garotinho, o
Itamar, o Ciro, o Lula..."
Apesar das supostas ameaças,
ela diz que não há nenhuma possibilidade de abandonar sua candidatura. "Se estão achando que
irão me intimidar estão muito enganados. Agora ninguém me segura mais. Não tenho medo desse
preconceito contra a mulher. Tudo é contra mim."
Roseana disse que nunca se envolveu com corrupção na Sudam.
"Abro meu sigilo bancário, abro
minha declaração de Imposto de
Renda para quem quiser. Não há
um centavo de dinheiro ilícito",
afirmou. No caso Usimar, Roseana afirma que apenas participou
do conselho de governadores que
defendeu a concessão de incentivos fiscais e financiamento: "Assim como defendi todas as empresas que se instalaram no Maranhão. Mas ninguém pode esquecer que quem nomeia o superintendente da Sudam é o presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Não é o Jorge [Murad" nem eu".
A governadora disse que o Maranhão apenas cedeu um terreno
à Usimar, que foi tomado depois
de dois anos que a empresa passou sem construir no local, como
previa o contrato.
Segundo ela, não há nenhuma
acusação formal contra Murad.
"É uma violência, uma arbitrariedade. Ninguém aqui sabia do processo. Nunca fomos acusados,
nunca pudemos nos defender.
Disseram aos nossos advogados
que o processo é sigiloso. Nem na
ditadura ocorriam arbitrariedades como essa, uma pessoa ter seu
escritório invadido sem saber do
que é acusado."
Documentos políticos
Roseana diz que irá processar os
responsáveis pela operação, após
conversar com seus advogados.
Segundo ela, a PF apreendeu documentos políticos, pois assessores contratados pelo PFL para a
campanha trabalharam no escritório de Murad enquanto não era
montada uma sede do partido.
"Foi a maior violência que sofri
em toda a minha vida. Se fazem
isso com uma governadora que
está há sete anos ao lado do governo, aprovada por mais de 80%
dos maranhenses, o que não fazem com os inimigos? Quando
entrei na campanha, sabia que iria
enfrentar baixarias, mas não imaginava que seria assim."
A operação da PF não mudou a
agenda de Roseana. Na segunda-feira, ela irá a Uberaba e Belo Horizonte, onde se encontrará com
Itamar Franco. Na terça, chega a
Brasília, onde ficará até sexta para
uma série de encontros políticos.
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