São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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ELEIÇÃO NO ESCURO

"Se querem fazer do Serra presidente a qualquer preço, é melhor fechar o Congresso e nomeá-lo", diz governadora

Roseana vê "complô político" e acusa Serra

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

"Se querem mesmo fazer do José Serra presidente da República a qualquer preço, é melhor fechar o Congresso e nomeá-lo, como se fazia na ditadura militar".
Foi com essas palavras que a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pré-candidata do PFL à Presidência, reagiu, em entrevista à Folha por telefone, à operação de busca e apreensão, determinada ontem pela Justiça, na empresa Lunus, de Jorge Murad, marido da governadora e gerente de Planejamento do Maranhão.
Roseana atribuiu a responsabilidade pela operação ao governo federal e ao pré-candidato tucano à Presidência, José Serra. A ação foi classificada pela governadora Roseana como "a maior violência que sofri em toda a minha vida".
"Mas eleição não se ganha assim, se ganha com voto, e é isso que ele [Serra" ainda não tem e com que deveria se preocupar], afirmou a governadora, que está empatada tecnicamente na liderança da corrida presidencial com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No cenário mais provável pesquisado pelo Datafolha na semana passada, Lula tem 27% e Roseana, 24%. Serra aparece com 12%, atrás de Anthony Garotinho (PSB), com 14%. A margem de erro é dois pontos percentuais.
Roseana criticou ainda o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, filiado ao PSDB e um dos principais articuladores da candidatura Serra: "Foi um ato de selvageria. O ministro da Justiça, em vez de tentar acabar com a violência, colabora com cenas de violência como a de hoje [ontem" no Maranhão", disse.
Roseana diz "ter certeza" de que FHC e Aloysio foram avisados da operação pela PF com antecedência, por envolver uma governadora de um partido aliado e pré-candidata à Presidência. Mesmo assim, disse, não a avisaram nem fizeram nada para impedir. No final da tarde, depois de deflagrada a operação, ela conversou por telefone com FHC. Não revelou o diálogo. Disse apenas que a conversa "não foi nada amigável".
"Já imaginou se a PF tentasse invadir o escritório da mulher do Tasso [Jereissati, governador do Ceará" ou do Alckmin [Geraldo, governador de São Paulo"? Duvido que iriam deixar."

Complô político
Roseana afirma que há um "complô político" para retirá-la da corrida presidencial em benefício de José Serra. Reclamou que vem sofrendo ataques desde quando "estava lá atrás nas pesquisas". Depois dos ataques, foi "vítima" da decisão do TSE de verticalizar as coligações eleitorais, medida que, para ela, beneficia Serra. "Todos que têm voto precisam deixar o caminho livre para o Serra? Eu, o Garotinho, o Itamar, o Ciro, o Lula..."
Apesar das supostas ameaças, ela diz que não há nenhuma possibilidade de abandonar sua candidatura. "Se estão achando que irão me intimidar estão muito enganados. Agora ninguém me segura mais. Não tenho medo desse preconceito contra a mulher. Tudo é contra mim."
Roseana disse que nunca se envolveu com corrupção na Sudam. "Abro meu sigilo bancário, abro minha declaração de Imposto de Renda para quem quiser. Não há um centavo de dinheiro ilícito", afirmou. No caso Usimar, Roseana afirma que apenas participou do conselho de governadores que defendeu a concessão de incentivos fiscais e financiamento: "Assim como defendi todas as empresas que se instalaram no Maranhão. Mas ninguém pode esquecer que quem nomeia o superintendente da Sudam é o presidente Fernando Henrique Cardoso. Não é o Jorge [Murad" nem eu".
A governadora disse que o Maranhão apenas cedeu um terreno à Usimar, que foi tomado depois de dois anos que a empresa passou sem construir no local, como previa o contrato.
Segundo ela, não há nenhuma acusação formal contra Murad. "É uma violência, uma arbitrariedade. Ninguém aqui sabia do processo. Nunca fomos acusados, nunca pudemos nos defender. Disseram aos nossos advogados que o processo é sigiloso. Nem na ditadura ocorriam arbitrariedades como essa, uma pessoa ter seu escritório invadido sem saber do que é acusado."

Documentos políticos
Roseana diz que irá processar os responsáveis pela operação, após conversar com seus advogados. Segundo ela, a PF apreendeu documentos políticos, pois assessores contratados pelo PFL para a campanha trabalharam no escritório de Murad enquanto não era montada uma sede do partido.
"Foi a maior violência que sofri em toda a minha vida. Se fazem isso com uma governadora que está há sete anos ao lado do governo, aprovada por mais de 80% dos maranhenses, o que não fazem com os inimigos? Quando entrei na campanha, sabia que iria enfrentar baixarias, mas não imaginava que seria assim."
A operação da PF não mudou a agenda de Roseana. Na segunda-feira, ela irá a Uberaba e Belo Horizonte, onde se encontrará com Itamar Franco. Na terça, chega a Brasília, onde ficará até sexta para uma série de encontros políticos.



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