São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006

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Lula desautoriza 2ª "Carta ao Povo" nos moldes propostos por Tarso

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou a elaboração de uma segunda "Carta ao Povo Brasileiro" nos moldes pregados por Tarso Genro, ex-ministro da Educação. Lula também reavalia a possibilidade da volta de Tarso ao governo por julgar que ele tem sido inábil em declarações públicas.
No final de 2005, os presidentes do PSB, Eduardo Campos, e do PC do B, Renato Rabelo, sugeriram a Lula a possibilidade de lançar na campanha uma nova "Carta ao Povo Brasileiro", documento feito pelo PT em 2002 para dissipar temores do mercado de uma reviravolta na política econômica.
Segundo um auxiliar, Lula respondeu que a idéia poderia ser examinada no momento oportuno, mas que não poderia ser uma negação de seu governo. Ou seja, um documento, a depender do conteúdo, poderia ser elaborado .
Setores do PT, porém, empolgaram-se com a possibilidade de uma carta que tivesse teor mais social e pregasse uma espécie de volta às origens, já que setores do partido são críticos da política econômica do ministro Antonio Palocci (Fazenda).
Nos últimos dias, ao saber das declarações de Tarso a respeito da confecção de uma nova carta, publicadas pela Folha na segunda, e do convite que Lula teria feito para que voltasse ao ministério, o presidente disse que Tarso estava errando politicamente. E chegou a lembrar a efêmera passagem dele pela presidência do PT no ano passado, quando se inviabilizou por ter comprado briga pública com o ex-ministro José Dirceu.
Nas palavras de um auxiliar direto de Lula, uma nova carta elaborada por Tarso e por setores do PT, PSB e PC do B poderia servir de crítica ao governo. Há temor no Planalto de que se peça um segundo mandato voltado para os mais pobres e para o crescimento econômico, contrariando o discurso de Lula de que fez mais para as camadas carentes e de que teria criado as condições para um crescimento sustentado.

Ministério
De fato, o presidente sondou Tarso por avaliar que ele foi um bom ministro da Educação, que deixou um sucessor que está indo bem (Fernando Haddad) e que se deu mal na presidência do PT por inabilidade política e não má-fé.
Por isso, gostaria de reintegrá-lo ao primeiro escalão. Como o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) hesita entre ficar no posto e ser candidato ao governo baiano, Lula pensou em Tarso. Seria opção para a Defesa, com a saída de José Alencar, ou a pasta de Wagner. O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, já dirigido por Tarso, foi incorporado às Relações Institucionais.
Seria uma solução natural. Mas auxiliares do presidente listaram várias declarações recentes do ministro que desaconselhariam sua ida para a articulação política. A primeira foi admitir em público a sondagem de Lula e indicar que seria para a pasta de Wagner.
A menção a uma nova carta na hora em que Lula ainda dissimula a candidatura à reeleição foi considerada outro erro.
Tarso disse ontem não ter relatado uma novidade ao dizer que há preparação de uma segunda carta. O tema, segundo ele, foi divulgado há dois meses, na visita que dirigentes do PC do B, PSB e PT fizeram ao presidente.
Tarso diz não ter conversado com Lula nos últimos dias e afirma não acreditar em qualquer descontentamento com suas declarações. A Folha apurou que petistas ligados a ele acreditam que possa haver alguma informação ""plantada" para prejudicá-lo.


Colaborou LÉO GERCHMANN, da Agência Folha em Porto Alegre

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