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MODA JURÍDICA
Roupa atual seria enfeitada e antiquada, dizem defensores
Ministros do STJ discutem mudar toga
UIRÁ MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A MACAPÁ (AP)
Para acabar com um "incômodo de ordem prática" e em nome
da modernização dos rituais jurídicos, os ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça) terão de
tomar uma decisão inédita na
corte: escolher o novo modelo da
toga usada pelos magistrados no
tribunal.
"A toga do STJ é problemática
pelo tempo que se perde ao vesti-la e desvesti-la e pelo incômodo
de ordem prática que isso acarreta", afirma o presidente do STJ,
ministro Edson Vidigal. Ele afirma ter tido a idéia de modernizar
as vestes após ouvir "reclamos de
bastidores".
Para cuidar da criação das novas vestimentas, foram encarregadas as ministras Eliana Calmon
e Fátima Nancy Andrighi, duas
das quatro mulheres entre os 33
ministros do Superior Tribunal
de Justiça.
De acordo com Vidigal, elas farão um levantamento de modelos
para que os membros da corte
possam chegar a um acordo.
Segundo Calmon, "a idéia não é
fazer algo absolutamente moderno, mas sim um modelo mais prático e com menos enfeites".
Ela explica que a toga do STJ
tem 13 botões, uma fivela de 20
cm, babados no peito e nas duas
mangas e, por dentro, uma gola
de colarinho de ponta virada,
além de ser inteira pregueada.
"Fica muito pesada", diz a ministra, que está lendo o livro "Ensaio
sobre o Ritual Judiciário" para
"ter mais embasamento".
Polêmica
Embora o processo de escolha
de modelos ainda esteja em andamento, ele já é polêmico. Alguns
ministros se mostraram antipáticos à idéia. Além disso, dois advogados ouvidos pela Folha -e que
pediram para não ser identificados- ironizaram a medida e disseram que o STJ tem coisa mais
importante para pensar, como
agilizar o julgamento de recursos.
O presidente do STJ afirma que
tem feito muito para combater a
morosidade e que se engana
quem pensa que mudar as vestes
é uma questão absolutamente supérflua. "Acabar com esse espetáculo brega e de mal-gosto, sustentado por tanto tempo em nome
de uma liturgia antiquada, significa aproximar o magistrado do
povo e da realidade", diz Vidigal.
O presidente do STJ diz que o
tribunal não gastará verba própria para modernizar a toga.
História
José Henrique Guaracy, vice-presidente da Ajufe (Associação
dos Juízes Federais), apóia a iniciativa e concorda que a modernização da toga contribuirá para reduzir o distanciamento entre os
magistrados e a sociedade.
Guaracy, que também é professor universitário, afirma que uma
das explicações para a origem das
vestes talares revela que seu sentido é oposto ao atual.
Segundo ele, na Roma Antiga, a
prestação jurisdicional era feita
por pessoas de elite, que se vestiam como tais. "A fim de ficarem
mais parecidos com as partes e
criar uma certa igualdade, os jurisconsultos usavam as vestes talares e ocultavam seus trajes ricos", explica.
Verdadeira ou não essa versão
sobre a vestimenta, o fato é que a
toga, tal qual a conhecemos hoje,
é uma veste medieval. Segundo a
ministra Eliana Calmon, esse tipo
de veste era usado para mostrar
riqueza, superioridade e nobreza,
além de marcar a diferença entre
os poderes. "Cada enfeite representa uma coisa, tem uma simbologia", diz a ministra.
Calmon afirma que a tradição
jurídica foi sendo passada de geração para geração e se mantém
até os dias de hoje. "Na contramão da história, pois precisamos
nos aproximar do povo, não nos
afastar", argumenta.
Disposto a efetuar mudanças, o
presidente do STJ, entretanto, diz
que está "fora de questão" eliminar o uso da toga.
O jornalista Uirá Machado viajou a Macapá a convite da presidência do STJ
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