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JANIO DE FREITAS
Os maus começos
Começos têm sempre dificuldades próprias, mas as
dificuldades não deixam de dividi-los em bons e maus. O novo
panorama produzido pelas renúncias de pré-candidatos é
mais fisionômico do que insinuador de inovações efetivas.
Salvo nos quatro casos em que a
dimensão política é predominante, quase única. E logo eles é
que têm começos com os sinais
mais negativos.
A nota do comandante do
Exército, general Francisco Albuquerque, de louvação ao 31 de
março, não é, em si, negativa.
Primeiro, por sua utilidade demonstrativa de quanto o saudosismo da ditadura militar continua vivo. Além disso, porque
certas passagens do texto induzem a leitura bem-humorada.
Lá está, por exemplo: "Esse
Exército é generoso com os vencidos, (...) respeitador da lei,
avesso aos ressentimentos".
A nota foi emitida pelo general
Francisco Albuquerque no dia
em que uma das vítimas da "generosidade" do Exército foi designada ministro da Defesa. Sobre Waldir Pires, bastará dizer
que sua longa vida pública jamais foi arranhada por um ato
ilegal, nem sequer por uma simples carteirada. Foi um dos
grandes injustiçados das perseguições feitas pelos "respeitadores da lei" de 64 em diante. A recepção que a nota do general
Albuquerque lhe deu teve o claro sentido de provocação.
Da tropa governista saiu depressa a proteção ao comandante do Exército, sob o falso argumento de que a nota do 31 de
março estava pronta há dias,
antes da indicação de Waldir
Pires. Fosse assim, não seria preciso senão sustá-la, uma vez que
desde o dia 30 sabiam todos no
governo, como tantos fora dele,
que Waldir Pires era o nome cotado para a Defesa. Temperamento conciliador, freqüentemente até demais, Waldir Pires
tratou a nota com a superioridade adequada. Mas a provocação foi um sinal.
Citado também como possível
ministro da Defesa, Tarso Genro
ficou como coordenador político, sob um título mais pomposo.
Esse é um cargo recente nos governos, que absorveu a antiga
incumbência de articulação política dada ao ministro da Justiça. Até agora, porém, o cargo registra sucessivos insucessos. No
governo Fernando Henrique,
articulação eficiente foi feita, de
início, pelo ministro Sérgio Motta e, ainda mais eficaz, pelo deputado Luis Eduardo Magalhães. José Dirceu, em época de
exuberância plena do valerioduto e similares, engordou a
bancada governista, mas a título sempre precário: cada novo
passo exigia novos, digamos, estímulos. Esse espírito prevaleceu
quando Aldo Rebello assumiu a
coordenação, que marcou pela
descoordenação proveniente da
inação. Jacques Wagner seguiu
o antecessor milimetricamente.
Aos três, Lula pode atribuir boa
parte da crise representada pelas
CPIs, na qual a barafunda dos
parlamentares do PT tem funcionado como combustível.
Articulação política de governo não se volta só para os governistas. Agora mesmo, a CPI dos
Correios está sob risco de um fim
melancólico, sem relatório que
consubstancie seu quase ano de
atividade. Os petistas, embora
não o digam com clareza, preferem não haver relatório a haver
relatório que os comprometa
mais do que toleram. O ônus político de tal fim recairá sobre Lula e o PT; logo, buscar a composição em torno do sério relatório
apresentado por Osmar Serraglio aparece como tarefa urgente
de Tarso Genro.
No momento em que sua missão exige capacidade de diálogo
para os dois lados, Tarso Genro
chega dando uma sapatada nas
evidências e nos seus interlocutores mais difíceis. Diz artigo
seu, no dia em que se tornou ministro da articulação política,
que "não há interesse ético" na
crítica "moralista" ao governo
Lula, cujo "objetivo é desconstituir o PT e Lula para absolver o
projeto de Fernando Henrique
Cardoso". É digno da nota do
general Francisco Albuquerque,
pelos graus iguais de veracidade,
boa-fé e respeitabilidade.
Geraldo Alckmin e Cláudio
Lembo começam, um de olho na
Presidência e outro já na cadeira de governador, com grande
disposição de serem convencionais: ambos recusam investigações à denunciada destinação
marota de verbas publicitárias.
Nenhum dos dois percebeu que
o possessivo, no nome Nossa
Caixa, é só fantasia publicitária,
não significa propriedade do
governante.
José Serra, por sua vez, ficou
devendo mais do que 33 meses
da administração que se comprometeu a fazer até o fim. Saiu
devendo uma explicação ao menos minimamente satisfatória
para o rompimento do seu compromisso voluntário. Em ação
política, Serra não fez antes o
que devia e podia, e fez agora o
que podia mas não devia.
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