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ELIO GASPARI
A crise mostra o vigor institucional
A atual crise política nada
tem de institucional. Pelo
contrário, demonstra, há um
ano, o vigor dos Poderes da República.
Havia uma cáfila de salteadores com os pés na cúpula do PT e
as mãos no tapetes do Planalto. A
imprensa e o Congresso detonaram-na. Um grupo de caipiras
montou uma casa de prazeres em
Brasília. Novamente, foi detonada. Dessa vez, só pela imprensa.
Seguiu-se uma malandragem
acobertadora, patrocinada pelo
presidente da Caixa Econômica e
pelo ministro da Fazenda. A Polícia Federal detonou-a.
Tudo o que está exposto à visitação pública é resultado do funcionamento das instituições. Tradicionalmente, ocorria o oposto.
O silêncio abafava a crise, debilitando as instituições. Se a criação
das CPIs tivesse sido barrada, o
deputado Osmar Serraglio não
poderia ter demonstrado que a
história de caixa dois era lorota.
O que havia era roubalheira mesmo. Se o caseiro Nildo tivesse sido
desmoralizado, Antonio Palocci
ainda estaria no Ministério da
Fazenda, alternando prebendas
para o andar de cima e patranhas para o de baixo.
Em 1968, quando um deputado
pediu ao presidente da Câmara,
José Bonifácio, que fosse mais Andrada e menos Zezinho, ele respondeu com uma banana. Cadê
a cena? Hoje, a deputada Angela
Guadagnin está ao vivo e a cores,
diariamente, reencenando a dança da pizza. Há a dança e não há
a banana porque em 2006 havia
uma câmera de TV no plenário.
A Inglaterra melhorou com o
Caso Profumo, quando os prazeres do ministro da Defesa expuseram uma rede de moças bonitas e
agenciadores espertos. Os Estados
Unidos melhoraram com o Caso
Watergate. O Brasil melhorou
com o fim do collorato e, novamente, com a exposição dos métodos do PT-Federal e do aparelho presidido por "nosso guia".
Melhora também quando se percebe a naturalidade com que o
PSDB protege suas malfeitorias,
enquanto vocifera contra o governo cuja ruína econômica
apóia.
Ao aumento da decepção dos
eleitores corresponde uma redução do nível de empulhação do
governo e da oposição. Isso não
significa que acabaram os malfeitores nem que acabarão as decepções. Significa que ficou mais difícil montar um mensalão, uma república de caipiras vorazes ou
um triturador de reputações adversárias. Felizmente, o repórter
Josias de Souza descobriu que sugavam dados da Receita Federal
para xeretar eventuais adversários. Esse é o bilhar da vez.
Harvard põe um dedo no Brasil
A Universidade Harvard abrirá
em junho um escritório no Brasil.
Ficará em São Paulo e ajudará o
intercâmbio com instituições brasileiras. Facilitará a vida de estudantes e professores americanos
que venham pesquisar no Brasil,
bem como de brasileiros que pretendam ir para Harvard.
O escritório será um braço do
Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos. Ele
surge no ano em que uma doação
feita pelo empresário Jorge Paulo
Lemman cacifará a ida de brasileiros para os cursos de Harvard, especialmente nas faculdades de
saúde pública, educação e governo. Todos os processos seletivos
continuarão centralizados na matriz, mas o escritório ajudará a divulgar as oportunidades.
No início de maio, Harvard
anunciará a criação de um programa de estudos brasileiros, dirigido pelo professor Kenneth
("Devassa da Devassa") Maxwell.
Desde junho de 1876, quando D.
Pedro 2º caminhou pelo gramado
de Harvard no dia seguinte a um
jantar na casa do poeta Longfel-
low, essa será a maior aproximação daquela universidade com
Pindorama. Cerca de mil maganos brasileiros já passaram pelas
suas ruas centenárias, mas nenhum deixou correspondência
que possa ser comparada, na qualidade, à de "Pedro Banana" com
o cientista Louis Agassiz.
Torcida
Há uma torcida para que o
jornalista Boris Casoy entre
na Justiça pedindo o im-
pedimento do "nosso guia".
Na terça-feira, ele disse, em
um artigo publicado na Folha,
que "não há como o Congresso
postergar um processo de impeachment contra Lula".
Qualquer cidadão pode pedir a
abertura do processo.
Casoy foi excomungado na TV
Record, para alegria dos comissários da publicidade do
Planalto. Cabe ao presidente
da Câmara tramitar o pleito ou
mandá-lo ao arquivo. Aldo Rebelo deverá pensar duas vezes
antes de mandar Casoy ao
arquivo.
Curso Madame Natasha
Madame Natasha confunde
Daslu com Telemar e adora
CPI. No combate ao caixa
dois do idioma, concedeu
uma de suas bolsas de estudo
ao deputado Osmar Serraglio,
pelo seguinte trecho do seu
relatório: "Como é de sabença,
não incide, aqui, responsabilidade objetiva do chefe maior
da nação, simplesmente, por
ocupar a cúspide da estrutura
do Poder Executivo, o que significaria ser responsabilizado
independentemente de ciência
ou não. Em sede de responsabilidade subjetiva, não parece
que havia dificuldade para que
pudesse lobrigar a anormalidade com que a maioria parlamentar se forjava".
Natasha acredita que ele quis
dizer o seguinte: ""Nosso guia"
sabia, mas vocês sabem que essas coisas não devem ser ditas
assim".
Fuso petista
A ministra Dilma Rousseff
adotou um hábito do comissário José Dirceu. Chega atrasada
em reuniões que marcou, sem
comunicar o contratempo às
suas vítimas. Faz isso com tamanha desenvoltura que constrange quem chega na hora.
Mágica besta
A ekipekonômica diz que o
doutor Henrique Meirelles
fortaleceu-se porque não
prestará vassalagem a Guido
Mantega. Responderá a Lula.
Empulhação. Meirelles e a
turma do Copom queriam
autonomia em relação a Lula.
Mantega é cisco no olho.
Quadrúpedes no metrô
É conhecida uma vinheta de
Franco Montoro acerca do alcance das normas da burocracia: um trem tinha uma placa
que proibia a entrada de cães.
Um sujeito queria entrar com
uma cabra. Argumentava que
cabra não é cachorro, mas o
guarda barrou-o. Fez o que
não podia. Em seguida, veio
um cego, guiado por um cão.
Passou. O guarda deixou de
fazer o que devia. Ao pé da letra, transgrediu a norma duas
vezes. E fez o certo.
A diretoria do Metrô de
São Paulo está numa briga
com a advogada Thays Martinez. Cega, teve seu cão-guia
barrado numa estação em
2000. Foi à Justiça e já passou
por dois julgamentos. Um terceiro está em curso. Deve perdê-lo, mas recorrerá. No ano
passado, a Justiça determinou
que os cegos cumpram as
normas do Metrô e, além disso, tenham consigo o atestado
de vacina do cão, um comprovante de que ele é treinado
e um termo de responsabilidade, caso o bicho cause algum dano.
Diante disso, os burocratas
inventaram a exigência adicional de uma carteirinha especial para o cego e seu cão-guia. (Será o primeiro babilaque de quadrúpede.) A advogada sustenta que a exigência da carteirinha ofende as leis
que garantem os direitos dos
deficientes. Hoje, o Metrô
quer carteirinha de cão de cego. Amanhã, outra empresa
poderá exigir registro para cadeira de rodas.
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