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Entrevista da 2ª/Marta Suplicy
Disputar o cargo de governadora em 2010 é mais adequado
Ex-prefeita afirma que candidatura à Presidência não está em
questão e que não cogita deixar pasta para concorrer em 2008
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Marta, que pretende combater o turismo sexual no Brasil |
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A ministra do Turismo, Marta Suplicy, diz que não
pretende disputar a Prefeitura de São Paulo no ano
que vem, mas o governo do Estado em 2010. Para ela,
"o cargo de governadora em 2010 é mais adequado."
Apontada no PT como potencial candidata à Presidência daqui a quatro anos, ela diz que esse projeto
"não está em questão" e que se dedicará "para valer" à
pasta do Turismo.
"Aprendi que política é uma
montanha-russa", afirma a ex-prefeita de São Paulo. Considera cedo para saber quem será o
candidato do PT à sucessão de
Lula. "Nomes surgirão e poderão ser grandes surpresas."
Acha que Lula fará o sucessor
por causa de políticas de inclusão social e da "intuição para se
mexer na direção correta para a
população mais carente".
Afirma que existe racismo no
Brasil: "Não gostamos de usar a
palavra racismo porque ela é
muito pesada, e a gente gosta de
se ver como um povo não racista". Porém, "basta um conflito,
pumba!, aparece o racismo".
Diz que propagandas que associam o Carnaval e a beleza
das mulheres às nossas praias
funcionam como estímulo ao
turismo sexual, caso não tenham dosagem de bom senso.
Exibe catálogo da coleção de
biquínis da Rosa Chá que mostrou ao embaixador americano,
Clifford Sobel, em que há uma
modelo "linda" nos Lençóis
Maranhenses. "Temos de ter a
percepção de que praia é bom e
mulher bonita também."
Acha que "não é positiva" a
iniciativa do governo do Rio de
ensinar prostitutas a falar inglês para se relacionar com turistas nos Jogos Pan-Americanos. "Tenho respeito pelas
prostitutas, mas acredito que,
se elas tivessem um caminho
alternativo, a maioria o faria."
Julga o Ministério do Turismo "um desafio" que "combina" com a sua personalidade.
Afirma que Lula determinou
três prioridades: gerar emprego, turismo de baixo custo e diminuir as diferenças regionais.
Revela que fechou com a Caixa Econômica Federal e a Previdência a possibilidade de aposentados fazerem prestações de 6 a 24 meses, com juros de
1,3% a 2,41% ao mês, para pacotes turísticos. Marta, 62, falou à
Folha na quinta passada.
FOLHA - Qual deve ser o modelo turístico do país? Resorts, rotas ecológicas, turismo popular?
MARTA SUPLICY - Não podemos
nos dar ao luxo de desprezar
nenhum setor. Gera-se emprego com turismo de elite, de
aventura e popular.
FOLHA - Dá para o turismo crescer
com crise dos aeroportos, estradas
ruins e violência?
MARTA - Pesam negativamente, mas estão sendo paulatinamente solucionadas. A compra
da Varig pela Gol tende a melhorar a crise dos aeroportos.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) vai melhorar nossa infra-estrutura. E
o combate à violência é questão
que Lula está enfrentando.
FOLHA - Quais serão as suas prioridades?
MARTA - A orientação do presidente é gerar emprego, turismo
de baixo custo e diminuir as diferenças regionais. Ao qualificar a mão-de-obra, podemos
utilizar os jovens adolescentes
que estão no Bolsa Família. Isso abre porta de saída do programa para uma vida melhor.
A notícia de que 8 milhões de
brasileiros deixaram as classes
D e E e ascenderam é muito
boa. Serão novos consumidores do turismo. Quero colocar o
lazer turístico na cesta básica
do trabalhador.
FOLHA - Haverá pacote para aposentados?
MARTA - Em reunião ontem
[quarta-feira] com a Caixa Econômica Federal e a Previdência, fechamos o crédito consignado para pacotes turísticos de aposentados.
Os juros serão de 1,3% a
2,41% por mês, em parcelas de
seis a 24 meses. Conversarei
com a operadora para baixar o
custo dos pacotes.
Há programas que já existem
e serão mais divulgados, como
o "Cartão Turismo", da Caixa.
O consumidor coloca esse cartão no crédito consignado, a
um juro de 2,09% ao mês.
Vamos tentar diminuir esses
juros em determinados gastos.
Há também a "Poupança Turismo". Poupando durante um
tempo, o correntista concorre a
uma viagem entre R$ 4.000 e
R$ 6.000.
Como ele poupa, vou propor
redução na taxa de juros quando fizer as prestações para viajar. Há um programa novo para
jovens que se chamará "Conheça o Brasil".
FOLHA - Qual será o formato?
MARTA - Fazer acordos com escolas particulares e públicas de
pacotes turísticos para jovens
em prestações pela Caixa. Se
uma escola propõe uma visita a
Ouro Preto, parte da classe não
pode ir. Pode haver um pacote
especial para a "Semana do Saco Cheio" das escolas.
FOLHA - Nos últimos anos, o governo fez várias campanhas contra o
turismo sexual. No entanto, o Carnaval e uma publicidade que associa
a beleza das mulheres às nossas
praias não funcionam exatamente
como estímulo a esse turismo?
MARTA - Funcionam, mas temos de ter a percepção de que
praia é bom e mulher bonita
também. Tem que ter uma dosagem de bom senso e de moralidade. Mulher de biquíni fazendo anúncio de carro acho inadequado. Mulher de biquíni
numa praia é outra coisa. A
propaganda da Rosa Chá, mostrando sua coleção de maiôs,
biquínis e sungas para o verão
de 2007, feita nos Lençóis Maranhenses, não é desrespeitosa
[mostra o catálogo com a modelo feminina e outro menor
com modelo masculino].
É uma coisa bacana. Não pode haver moralismo. Uma coisa
é turismo sexual, abuso de
crianças. Outra é bom gosto e
respeito a mulheres e homens.
FOLHA - O que a sra. pensa a respeito da iniciativa do governo do Rio
de estimular prostitutas a aprender
inglês para receber melhor turistas
nos Jogos Pan-Americanos?
MARTA - Não é positiva. Positiva é uma iniciativa engenhosa
para que os taxistas lidem com
o estrangeiro.
Como é praticamente impossível treiná-los a falar inglês,
francês, italiano, alemão,
criou-se uma central com as
línguas do Pan. Quando o turista entra no carro, o taxista tem
de saber de onde ele é. E um
tradutor da central o auxilia.
Não é maravilhoso?
FOLHA - A Copa de 2014 será uma
de suas prioridades?
MARTA - Ainda não cheguei lá.
Estou no Pan, que precisa ser
um êxito para que possamos
pensar na Copa. O ministério
tem participação importante
no Pan. Aportou R$ 107 milhões para reforma do aeroporto Santos Dumont.
Faz qualificação profissional
do jovem para atendimento ao
turista com a Central Única de
Favelas. Investe R$ 5 milhões
para aumentar oferta de hospedagem. Faz qualificação para
que ambulantes da orla manipulem alimentos de acordo
com normas de higiene.
Uma das coisas mais importantes de um evento do porte
do Pan é o legado que deixará
para a cidade. No Rio, um legado será o Armazém do Samba.
Construído na Cidade do Samba, é uma infra-estrutura com
equipamento para lojas, informação turística, espaço multimídia, oficinas e salas de aula.
FOLHA - Como sexóloga e política
identificada com bandeiras progressistas, pretende ter alguma política
para as prostitutas que lidam com
turistas?
MARTA - O interessante é qualificação profissional para essas
pessoas terem o seu quiosque e
outras atividades e deixem a
prostituição.
Tenho respeito pelas prostitutas, mas acredito que, se elas
tivessem um caminho alternativo, a maioria o seguiria.
FOLHA - Sua colega Matilde Ribeiro
disse que acha "natural" que os negros brasileiros não gostem de brancos. Não é uma forma de incitação
ao ódio racial?
MARTA - A Matilde já se explicou. Ela é uma pessoa que não
tem ódio no coração.
FOLHA - A exclusão não é mais social do que étnica?
MARTA - Não.
FOLHA - Há racismo no Brasil?
MARTA - Na hora em que vemos as mulheres negras ganhando metade do que as brancas para a mesma função, que
nome você dá? Na hora em que
vemos a escolaridade dos negros tão aquém da escolaridade
dos brancos na mesma classe
social, que nome você dá? No
atentado em Brasília, quando
queimaram portas de apartamentos de estudantes africanos, eu vi na TV uma moça dizendo que foi chamada de macaca. Que nome você dá a isso?
FOLHA - Racismo?
MARTA - Sim. Não tem como
discutir. Nós temos de combater, pois um dos atrativos do
nosso país é essa convivência
de etnias. Mas, nos dados estatísticos de acesso econômicos,
aparecem manifestações racistas. Em situações de briga e
conflito, aparecem. Basta um
conflito, pumba!, aparece o racismo. Nós, brasileiros, não
gostamos de usar a palavra racismo porque ela é muito pesada, e a gente gosta de se ver como um povo não-racista.
FOLHA - A sra. afasta a possibilidade de ser candidata à Prefeitura de
São Paulo em 2008?
MARTA - Com a expectativa do
presidente em relação ao ministério, tenho de pensar em
quatro anos.
FOLHA - Entre as suas opções, está
concorrer ao Palácio dos Bandeirantes em 2010?
MARTA - Por que não?
FOLHA - Gostaria de ser candidata
a Presidência um dia?
MARTA - É uma pergunta mais
complicada. É algo que a mídia
falou quando eu era deputada.
Na época, era uma coisa muito
divertida. Hoje não é mais.
A Presidência não está em
questão, porque aprendi na política que você tem de se dedicar de corpo e alma ao que está
fazendo. Vou exercer esse cargo de ministra para valer. E não
pretendo disputar a Presidência. O cargo de governadora em
2010 é mais adequado.
FOLHA - Reservadamente, Lula diz
que deseja fazer o sucessor em
2010. Ele conseguirá?
MARTA - Acho que sim. A próxima eleição dependerá de o
governo manter a sua política
bem-sucedida de inclusão social. Não estou falando só de
Bolsa Família, mas de controle
da inflação, de geração de emprego, aumento da renda.
Lula tem a intuição para se
mexer na direção correta para
a população mais carente. Ele
terminará seu governo melhor
do que os antecessores.
FOLHA - Quais são os nomes do PT
para 2010?
MARTA - Não tenho a menor
idéia. Aprendi que política é
uma montanha-russa. No ano
passado, o Arlindo Chinaglia
estava na cama, recuperando-se de um acidente.
Muitos diziam que talvez ele
não pudesse se candidatar a deputado federal, porque poderia
não ter condição de fazer campanha. Hoje, ele é presidente
da Câmara. Nomes surgirão e
poderão ser grandes surpresas.
Não acho mesmo que já dê para
saber quem será o candidato.
FOLHA - A aliança preferencial do
PT em 2008 e em 2010 deve ser com
o PMDB?
MARTA - Seria natural em virtude da aliança em Brasília.
Mas São Paulo tem as suas peculiaridades.
FOLHA - Com a sra. se colocando
fora da disputa pela prefeitura,
quais são os nomes do PT?
MARTA - Muitos, e a lista pode
aumentar [não citou nomes].
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