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CELSO PINTO
O que preocupa
na dívida externa
O Banco Mundial disse que
a dívida externa brasileira
preocupava porque era muito
grande, 10% do total dos países
emergentes. Armínio Fraga,
presidente do Banco Central,
respondeu que não, porque ela é
grande em valores absolutos,
mas não relativos: 40% do PIB.
Quem tem razão?
Um estudo especial do FMI,
publicado no "World Economic
Outlook", divulgado neste mês
sugere que ambos podem estar
certos. A dívida brasileira em relação ao PIB, de fato, não é alta
se comparada à de outros emergentes. Aliás, está na média da
dívida latino-americana (40%
do PIB), que se compara a 60%
do PIB, por exemplo, na África e
na Ásia (veja o gráfico). Só que,
como mostra o estudo, embora
a dívida latino-americana não
seja alta, o número de moratórias e reestruturações foi cinco
vezes maior do que o da África e
da Ásia, desde 1860, e mais do
que o triplo, desde 1950.
Menos dívida resultou em
mais crise, por várias razões. A
relação entre dívida e exportações é muito alta. Apesar da liberalização recente, ainda são
economias fechadas, se comparadas, por exemplo, às asiáticas.
Isso aumenta a vulnerabilidade:
é mais difícil para o país em crise gerar divisas via saldos comerciais, mesmo com desvalorizações cambiais.
Além disso, a dívida, na América Latina, está mais concentrada no governo do que no setor privado (no Brasil, 67% da
dívida é privada). O detonador
de crises é a incapacidade dos
governos de se financiarem.
Normalmente ciclos de liquidez
abundante levam a um alto endividamento. Quando ele reverte, a escassez é ampliada pela
reação menos significativa via
balança comercial.
A economia reage lentamente
e as contas fiscais do governo se
complicam com a retração econômica e o impacto da desvalorização sobre a dívida externa,
como aconteceu nos anos 80. Na
Ásia, a relação dívida externa/
receita do governo tem sido historicamente mais baixa do que
na América Latina.
Outro fator que tende a exacerbar as crises externas na região é a volatilidade de suas políticas macroeconômicas. Variáveis como PIB, câmbio real,
gastos e receitas públicas são
muito voláteis, elevando o risco
de moratória. A região é mais
afetada por mudanças nas relações de troca, por sua maior dependência de poucos produtos
de exportação (exceto Brasil e
México). A política fiscal tende a
ser pró-cíclica: não se poupa,
quando o ciclo é bom, o que exige ajustes duros quando a economia já está em crise. A região
também se caracteriza por ciclos
alternados de liberalização e
mais controle comercial e sobre
capitais.
Outro fator de vulnerabilidade em alguns países, como a Argentina, é ter a maior parte da
dívida pública em dólares, sujeita ao impacto da desvalorização. Como os mercados em
moedas locais são pequenos e de
prazos curtos, eles não são uma
alternativa viável para muitos
governos.
Nem todos os fatores se aplicam ao Brasil, mas cautela com
dívida externa nunca é demais.
Otimismo com o PT
Josué Gomes da Silva comanda uma empresa têxtil que deve
faturar R$ 1 bilhão neste ano, a
Coteminas. Ele é filho do senador José Alencar, do PL, ex-futuro vice-presidente da candidatura Lula, do PT.
A Coteminas, em dez anos,
multiplicou por 17 vezes seu faturamento. Em 97, exportava
US$ 6 milhões. Neste ano, exportará US$ 200 milhões. Tem
ambição de se transformar, até
2005, no maior produtor mundial de toalhas e artigos de cama e mesa. Planeja multiplicar
por cinco suas exportações para
os Estados Unidos. Josué é um
empresário competitivo, globalizado e que precisa de mercados abertos para crescer. Vive de
investidores em Bolsa, aqui e no
exterior, não de empréstimos.
Ganhou com a abertura da
economia brasileira na ida e na
volta do câmbio. Aproveitou o
câmbio de US$ 1 por R$ 1 para
importar barato máquinas, modernizar sua empresa e aumentar a produtividade. Ainda com
o câmbio controlado, conseguiu
um prodígio: exportava camisetas a um preço, em dólares, inferior ao oferecido pelos chineses.
Depois da desvalorização, alavancou ainda mais as exportações. Está convencido de que exportar mais é a única saída decente para sair da vulnerabilidade externa e colocou suas fichas nessa aposta.
Como ele imagina o Brasil no
governo de Lula, apoiado pelo
seu pai? Ele supõe que, na transição entre a eleição e a posse, a
incerteza trará alguma turbulência ao mercado. Mas espera
um boom econômico depois que
Lula tomar posse. Para isso,
imagina que ele aprove, talvez
nos primeiros três meses de seu
governo, duas reformas cruciais
que só o PT conseguiria aprovar: a tributária e a da Previdência pública.
A reforma tributária reduziria tributos sobre a produção e o
trabalho, mantendo a carga tributária. Outros tributos, como o
sobre grandes fortunas ("Por
que não?", pergunta), compensariam a redução. A seu ver,
medidas como essas, no início
de mandato, seriam suficientes
para injetar otimismo na economia. E a volta do crescimento
seria a melhor garantia de que o
país honraria suas dívidas.
Manter a política atual, diz, é
que embute o risco de levar o
país a um calote.
Josué vê muitos empresários,
especialmente de médio porte,
dispostos a votar em Lula. Os oito anos de FHC foram duros
com o setor produtivo nacional
e semearam vontade de mudar.
Só quem quer mais do mesmo,
sugere, é o setor financeiro. Risco na mudança, define, existe
com alguém como Garotinho,
não com Lula.
E-mail:
CelPinto@uol.com.br
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