São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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"CAPITÃO EM CAMPO"

Afirmações foram em jantar com amigos na sexta-feira em SP

Dirceu ameaça intensificar críticas a tucanos até eleição

VALDO CRUZ
EM SÃO PAULO

Homenageado por amigos em jantar na sexta no apartamento do jornalista-escritor Fernando Morais, o ministro José Dirceu (Casa Civil) prometeu uma série de críticas aos tucanos e revelou que foi a conjuntura internacional que impediu um aumento maior para o mínimo. Terminou a noite numa mesa de bilhar sem ganhar uma partida.
Defendendo a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu disse que, se não fosse a conjuntura internacional, "teríamos dado um aumento para o salário mínimo maior do que os R$ 260". Era uma referência às turbulências no mercado financeiro provocadas, em boa parte, pela iminência de uma subida nos juros dos Estados Unidos.
"Olha, somos um governo com autocrítica. Sabemos as conseqüências de um mínimo de R$ 260. Mas sabemos também aonde queremos chegar. De nada adiantaria fazer demagogia."
Durante o jantar, organizado por Morais e Consuelo de Castro, pouco se falou do caso Waldomiro Diniz. "Estou curado, é uma página virada", disse Dirceu ao tratar do episódio que o abalou politicamente e levou o anfitrião a reunir alguns amigos do chefe da Casa Civil para homenageá-lo.
Já de governo, oposição e futuro, muito se disse. "Estou preocupado em fazer o governo andar. Penso nisso 24 horas, nas obras de infra-estrutura, saneamento. Vamos trabalhar para superar o desgaste", afirmou Dirceu.
Sobre oposição, ele acredita estar restrita aos tucanos. Questionado sobre a possibilidade de eles derrotarem o PT em 2006 na disputa pela Presidência, foi irônico: "O PSDB eleger o presidente em 2006? Esquece, é mais fácil o [Anthony] Garotinho se eleger".
O chefe da Casa Civil fala com certa satisfação do que ele chama de "pretexto" dado pelos tucanos quando fizeram recentemente críticas ao governo Lula. "Vamos mostrar tudo de errado que eles fizeram. Vamos comparar o que estamos fazendo e os erros cometidos por eles. Tudo."
Mas por que não adotaram essa estratégia na transição e no início do governo Lula? "Ah, o país quebrava. Criava um clima que o país não iria suportar", disse Dirceu.
Ao prometer críticas contra os tucanos, comentou que vai começar a falar "aos poucos", insinuando que o tom vai crescer até as eleições municipais. Disse também que, a partir de agora, vai cuidar mais de sua "retaguarda". Do que ele está falando? "Da bancada, do PT e da eleição em São Paulo." Para isso, vai passar mais fins de semana em São Paulo para solidificar o que ele crê já estar ganho: a reeleição de Marta Suplicy.

"Espuma"
O ministro não acredita que a fase ruim do governo, com a onda de invasões de terras, greves de servidores, desemprego em alta, pressões de aliados por verbas e cargos, possa afetar as chances do PT nas eleições. "Não se pode confundir desgaste governamental com potencial eleitoral. Isso é espuma. Vamos trabalhar e, daqui a alguns meses, estaremos bem melhores."
Conhecido crítico da política econômica, o chefe da Casa Civil evitou dar alfinetadas no colega Antonio Palocci Filho (Fazenda). Disse estar afinado com Palocci inclusive na questão do mínimo. O mesmo não aconteceu com os convidados, que estavam ali para um ato de homenagem a Dirceu.
Sentados próximos, o economista João Sayad e o teólogo Leonardo Boff faziam críticas ao governo petista. "O risco congelou a esperança. O Lula tem de ousar", disse Boff. "Estou pessimista. Os juros precisam baixar", comentou Sayad, ex-secretário de Finanças de Marta Suplicy.
Em outra roda, o ator Paulo Betti lembrava que o dia seguinte, sábado (ontem), era 1º de maio, Dia do Trabalho. "Se o Lula comparecer às comemorações do 1º de Maio, vai levar a maior vaia. Com esse salário mínimo, é vaia na certa", disse Betti, ressalvando, porém, compreender não ser fácil dar um aumento maior.
Por volta da meia-noite, o fotógrafo Sebastião Salgado desafiou o ministro para uma partida de sinuca. Dirceu lembrou que costumava jogar em sua cidade natal, Passa Quatro (MG). Acabou perdendo as duas partidas.
Acompanhado da mulher, Maria Rita, Dirceu foi um dos últimos a deixar o apartamento de Fernando Morais, que fica bem próximo ao do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Higienópolis. O primeiro a sair foi o arquiteto Oscar Niemeyer. Gripado e vindo do Rio de carro, Niemeyer foi escolhido por Dirceu para agradecer a todos os convidados pelo apoio.
Algumas ausências foram notadas. O líder do MST, João Pedro Stedile, telefonou pedindo o endereço. Não apareceu. Chico Buarque disse que viria, mas acabou alegando problemas com agenda para justificar sua falta.


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