São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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Listagem traz supostos pedidos de políticos


da enviada especial a Brasília

Ao concluir a auditoria no BNB (Banco do Nordeste do Brasil), os técnicos do TCU anexaram aos documentos uma lista já divulgada pelo Sindicato dos Bancários da Bahia com supostos pedidos de políticos para favorecer pessoas, empresas e entidades em negociações com o banco.
A lista foi anexada no capítulo em que se tratou do crédito do BNB às empresas do governador Tasso Jereissati.
A intenção clara dos auditores era a de mostrar que o banco sofre ingerências políticas. Eles ressalvam, no entanto, que não têm "provas concretas dessas possíveis ingerências" e que "devido à ausência de provas" não fizeram nenhuma análise do assunto.
O sindicato diz que a lista foi tirada de um arquivo particular do superintendente do BNB na Bahia, Marcos Barroso. O superintendente diz que a lista "é totalmente falsa, apócrifa e antiga". A Folha apresentou a lista a alguns políticos para ver se eles se lembravam dos pedidos.
O mais notório é o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ele aparece como o "solicitante" de dois pedidos para prorrogação de dívidas de empresas do grupo OAS, de seu genro César Matta Pires. Ao lado aparece a "situação" do pedido. Nesse caso, segundo a lista, a agência do BNB em Salvador foi "orientada a acatar e encaminhar para análise".
"O senador Antonio Carlos se preocupa com coisas macro, com o encaminhamento estratégico das grandes questões nacionais, e não com coisas pequenas e pontuais", diz Barroso. "Posso lhe afirmar com toda a certeza que ele nunca me pediu nada."
O senador diz outra coisa. "Faço pedidos sim, para muitas coisas. Mas para meu genro, nunca. Em nenhum lugar."
ACM fez questão de telefonar para o superintendente Barroso na presença da reportagem da Folha. "Posso lhe fazer um ou outro pedido e lhe faço", disse ele a Barroso.
"Mas à OAS nunca lhe pedi", completou, dizendo a Barroso para que confirmasse o fato novamente ao jornal. "Isso é coisa de alguém lá do banco que, só porque meu genro é da OAS, acha que aquilo é pedido meu", declarou.
O deputado Benito Gama (PFL-BA) aparece como "solicitante" de 18 pedidos, mas diz que não se lembra de nenhum. "Nunca pedi nada", diz.
O deputado baiano Geddel Vieira Lima, líder do PMDB, aparece como "solicitante" de nove pedidos. Ele passou os olhos pela lista e disse: "Devo ter pedido mesmo. Se me dá voto, eu peço".
O deputado Inocêncio Oliveira, líder do PFL, aparece com um pedido em favor de Miguel Pedrotti Maximo. Inocêncio diz que, como não se lembra desse nome, deve ter intercedido a pedido de um outro deputado.
Já o deputado Eliseu Rezende (PFL-MG), que aparece com dois pedidos, para uma cooperativa e uma granja, lembra de cada detalhe. "Entrei em contato com o superintendente Barroso e pedi pela Cooperativa do Corinto. Isso foi em 1996. Eles tinham um potencial grande na área de pecuária. Parece que meu pedido resultou em atendimento."
O deputado João Almeida (PSDB-BA), que aparece com dois pedidos, acredita que a lista é verdadeira. "Lembro desses pedidos. Já fiz esses e outros mais. Isso é comum."
Segundo ele, há dois anos o próprio presidente do BNB, Byron Queiroz, apareceu em Brasília para uma reunião com os deputados do Nordeste com uma lista idêntica nas mãos. "Ele passou a lista para cada um ver como é que estavam os seus pedidos."
(MB)


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