São Paulo, Domingo, 02 de Maio de 1999
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Fundo é usado para financiar mau pagador

da enviada especial a Brasília

O BNB está destinando o dinheiro do FNE, o Fundo de Financiamento do Nordeste, para um grupo de poucos empresários que são maus pagadores, mas que ainda assim conseguem novos empréstimos do banco. A instituição não segue suas próprias normas na concessão de créditos, o que aumenta a inadimplência.
A medida provisória 1.727, editada em novembro pelo governo federal, autoriza o BNB a renegociar dívidas firmadas antes de 96 sem cobrar multas pelo atraso no pagamento. As conclusões são da auditoria do TCU que foi realizada no BNB em novembro.
O FNE foi criado pela Constituição de 1988. É um fundo para o qual é destinado 1,8% do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados arrecadado no país. Nos últimos dez anos, o FNE recebeu US$ 5,4 bilhões.
Seguem algumas conclusões da auditoria e as respostas do banco, enviadas por escrito à Folha.
1) Concentração de crédito - Em setembro do ano passado, o BNB mantinha emprestados R$ 6,2 bilhões. Apenas 1,1% dos clientes, os que têm empréstimos acima de R$ 100 mil, abocanharam 41% do dinheiro (ou R$ 2,56 bilhões). Já os pequenos empreendedores, com empréstimos de até R$ 35 mil, são 96% dos clientes, mas ficaram apenas com a metade dos recursos.
Resposta do banco: Ao se analisar os empréstimos em cada ano, é possível notar o esforço para reverter esse quadro. Em 1993, os pequenos empresários tomaram emprestados 55% dos recursos. Em 1998, abocanharam 84% do total.
2) Inadimplência - Girava em torno de 27% dos clientes em setembro de 98. Do total de R$ 6,2 bilhões emprestados, R$ 1,7 bilhão já deveria ter sido devolvido ao BNB. Deste total, 77% são de operações acima de R$ 100 mil. Ou seja: 1,1% dos clientes detêm 41% dos recursos e respondem por 77% da inadimplência.
Resposta do banco: A inadimplência hoje é de 10% dos clientes. Se excluídos do cálculo 25 grandes empréstimos contratados antes de dezembro de 94, cai para 4%, abaixo da média do mercado.
3) A medida provisória que perdoa parte das dívidas causará prejuízo de R$ 1 bilhão.
Resposta do banco: Trata-se de lei, que o banco tem de cumprir.


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