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GOVERNO SOB PRESSÃO
Presidente do Senado diz que basta voto da Câmara para decretar morte da comissão
Renan joga com Planalto e facilita operação abafa-CPI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), decidiu-se ontem por uma interpretação
regimental que fortalece a intenção do governo de barrar a instalação da CPI do Correios. A oposição fala em recorrer ao Supremo
Tribunal Federal e paralisar ainda
mais o Congresso sob o argumento de que a atitude de Renan representa um golpe regimental.
O governo também intensificou
as articulação para trocar integrantes da CCJ considerados "independentes" por deputados da
"bancada fiel". O PTB vai reassumir três vagas que ele cedeu ao PP
e ao PFL e que são ocupadas hoje
por deputados que assinaram o
requerimento da CPI. O PMDB
também recuperou uma vaga cedida ao PSB. Dois integrantes do
PP já foram substituídos.
A interpretação de Renan, que é
o presidente do Congresso, sustenta que o possível parecer anti-CPI da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) só precisa ser
aprovado pelo plenário da Câmara, não necessitando nesse caso
ser avaliado pelo Senado, onde a
base governista é bem mais frágil.
O governo tenta derrubar a comissão a partir de um recurso,
que tramita na CCJ da Câmara,
que argumenta ser inconstitucional o requerimento que levou à
criação da CPI, ainda não instalada. Não haveria um "fato determinado", como prevê a Constituição, apenas o pedido de uma
ampla investigação em estatais.
Na CCJ, a maioria governista
deve prevalecer, o que levaria o
recurso para o plenário, em uma
sessão conjunta do Congresso,
reunindo deputados e senadores.
A votação no plenário é aberta,
com registro no painel de como
votou cada deputado.
Pelo entendimento de Renan,
defendido pelo governo e contestado pela oposição, bastaria os deputados, que votam primeiro,
acatarem o recurso por maioria
simples, aceitando portanto a tese
da inconstitucionalidade, para a
CPI ir ao arquivo, antes mesmo de
os senadores votarem.
"Votada [a inconstitucionalidade] na CCJ, existe um cenário em
que a decisão depende só de uma
Casa. (...) A inconstitucionalidade
numa Casa não pode ser restaurada na outra", disse Renan. "Se isso
acontecer, vamos entrar com
mandado de segurança no Supremo, vamos montar CPIs no Senado e na Câmara e vamos barrar
toda a tramitação no Congresso",
afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA),
um dos líderes da oposição na
CCJ. A tese da oposição, segundo
a Folha apurou, tem respaldo na
assessoria jurídica da Câmara.
"O plenário da Câmara é soberano. Se os deputados acatarem o
recurso, a CPI vai para o arquivo.
Nenhuma Casa pode prevalecer
sobre a outra", reforçou o líder do
governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
"O Renan está sendo pressionado pelo governo a dar uma interpretação que dificulte a CPI", afirmou o líder do PFL na Câmara,
Rodrigo Maia (RJ). O presidente
do Senado sempre declarou que
uma CPI poderia funcionar sem
atrapalhar as outras prioridades
do Congresso.
Renan foi chamado para uma
conversa com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva hoje, mas disse que a pauta não estava definida.
Afirmou apenas: "Eu preciso
manter minha isenção", disse em
relação à CPI.
A votação do recurso na CCJ, de
autoria do vice-líder do governo
na Câmara, João Leão (PL-BA),
está marcada para a próxima terça-feira. A oposição pretende protelar o quanto puder a apreciação
da matéria, na esperança de que
Renan cumpra sua promessa e
mande instalar a CPI mesmo sem
as indicações feitas pelos partidos
governistas. Ontem, foi escolhido
o relator do recurso, o deputado
Inaldo Leitão (PL-PB).
Inaldo assinou e depois, por
pressão de seu partido, retirou seu
nome do requerimento da CPI. A
oposição questionou sua isenção.
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