São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Correios é caso para PF, diz general Felix

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Armando Felix, 66, afirma que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgão a ele subordinado, "ainda não montou o quadro" sobre o que efetivamente aconteceu no caso dos Correios.
Para o general, trata-se de um "esquema de corrupção", e, como tal, mais da alçada da Polícia Federal do que da Abin.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do general Felix concedida à Folha na última terça-feira.

 

Folha - Quais as atribuições do GSI no que diz respeito a antever problemas para o governo?
Jorge Felix
- Temos aqui uma Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais, que recebe fundamentalmente informações da Abin, do sistema brasileiro de inteligência e de outros [órgãos]. O objetivo é prevenir crises. Hoje existem 14 grandes temas que acompanhamos, divididos em 50 subtemas.

Folha - Acompanhar a prática de corrupção em órgãos públicos é atribuição da Abin.
Felix
- Pouco. [Fazemos o] acompanhamento do sistema [de administração pública]. Essas ações são criminosas, ilegais. É um tema muito mais policial e de Justiça. A inteligência da Abin coopera, mas o principal ator de inteligência continua a ser a PF.

Folha - Como é esse trabalho da Abin de detectar corrupção?
Felix
- Recebemos informes, verificamos a idoneidade das fontes, procuramos checar a informação com outros elementos que realmente dêem credibilidade àquilo. Se for da área da Abin, ela prossegue. Se não, repassa ao órgão competente.

Folha - A Abin informa ao governo sobre casos de corrupção?
Felix
- À PF e ao governo.

Folha - A Abin recebeu a informação sobre a fita dos Correios antes de o conteúdo ser publicado pela revista "Veja".
Felix
- Não vou responder. Existe muita coisa que chega em informe. E não é fácil você confirmar determinados elementos, porque não utilizamos alguns meios que outras organizações podem utilizar... [...] A Abin não pode fazer e nem faz escuta telefônica.

Folha - A Abin compraria uma gravação cujo conteúdo fosse de interesse do Estado?
Felix
- Difícil, difícil afirmar isso aí. Comprar informação é uma coisa relativa. Como trabalhamos com informantes, todos nós, de certa forma, estamos comprando informação, comprando com várias moedas. Vocês [jornalistas] também compram. Nem sempre as pessoas querem dinheiro, querem ou notoriedade ou um favor.

Folha - E, se quiserem dinheiro, a agência compra?
Felix
- Provavelmente não. Procuramos muito evitar isso.

Folha - Qual o papel da Abin neste caso dos Correios?
Felix
- Acompanhamos como cabeça do sistema brasileiro de inteligência. Quando a agência coleta informações suficientes para montar um quadro, ela monta esse quadro e nós o apresentamos ao presidente da República.

Folha - A Abin já montou o quadro sobre esse episódio?
Felix
- Especificamente nessa área ainda não.

Folha - Como o sr. define o caso?
Felix
- É um esquema de corrupção. Os esquemas de corrupção, de uma maneira geral, são como puxar um fio de meada, a gente não sabe onde terminam.

Folha - É público hoje o conflito entre o sr. e o diretor da Abin, delegado Mauro Marcelo.
Felix
- Não há problema nenhum de relacionamento com o diretor da Abin. Algumas pessoas tentam explorar isso, colocar uns contra os outros. O diretor da Abin tem uma relação de amizade com o presidente, que é de muitos anos. O que não significa que isso seja utilizado por ele -ou sequer consentido pelo presidente- para modificar a cadeia hierárquica. Quem despacha com o presidente, todos os assuntos, sou eu.


Texto Anterior: Governo sob pressão: Senado obriga governo a detalhar despesas
Próximo Texto: Ida de militares a Paris custará R$ 3 mi
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.