Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Correios é caso para PF, diz general Felix
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional),
general Jorge Armando Felix, 66,
afirma que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgão a ele
subordinado, "ainda não montou
o quadro" sobre o que efetivamente aconteceu no caso dos
Correios.
Para o general, trata-se de um
"esquema de corrupção", e, como
tal, mais da alçada da Polícia Federal do que da Abin.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista do general Felix
concedida à Folha na última terça-feira.
Folha - Quais as atribuições do
GSI no que diz respeito a antever
problemas para o governo?
Jorge Felix - Temos aqui uma
Secretaria de Acompanhamento e
Estudos Institucionais, que recebe fundamentalmente informações da Abin, do sistema brasileiro de inteligência e de outros [órgãos]. O objetivo é prevenir crises.
Hoje existem 14 grandes temas
que acompanhamos, divididos
em 50 subtemas.
Folha - Acompanhar a prática de
corrupção em órgãos públicos é
atribuição da Abin.
Felix - Pouco. [Fazemos o]
acompanhamento do sistema [de
administração pública]. Essas
ações são criminosas, ilegais. É
um tema muito mais policial e de
Justiça. A inteligência da Abin
coopera, mas o principal ator de
inteligência continua a ser a PF.
Folha - Como é esse trabalho da
Abin de detectar corrupção?
Felix - Recebemos informes, verificamos a idoneidade das fontes,
procuramos checar a informação
com outros elementos que realmente dêem credibilidade àquilo.
Se for da área da Abin, ela prossegue. Se não, repassa ao órgão
competente.
Folha - A Abin informa ao governo sobre casos de corrupção?
Felix - À PF e ao governo.
Folha - A Abin recebeu a informação sobre a fita dos Correios antes
de o conteúdo ser publicado pela
revista "Veja".
Felix - Não vou responder. Existe muita coisa que chega em informe. E não é fácil você confirmar
determinados elementos, porque
não utilizamos alguns meios que
outras organizações podem utilizar... [...] A Abin não pode fazer e
nem faz escuta telefônica.
Folha - A Abin compraria uma
gravação cujo conteúdo fosse de
interesse do Estado?
Felix - Difícil, difícil afirmar isso
aí. Comprar informação é uma
coisa relativa. Como trabalhamos
com informantes, todos nós, de
certa forma, estamos comprando
informação, comprando com várias moedas. Vocês [jornalistas]
também compram. Nem sempre
as pessoas querem dinheiro, querem ou notoriedade ou um favor.
Folha - E, se quiserem dinheiro, a
agência compra?
Felix - Provavelmente não. Procuramos muito evitar isso.
Folha - Qual o papel da Abin neste
caso dos Correios?
Felix - Acompanhamos como
cabeça do sistema brasileiro de inteligência. Quando a agência coleta informações suficientes para
montar um quadro, ela monta esse quadro e nós o apresentamos
ao presidente da República.
Folha - A Abin já montou o quadro sobre esse episódio?
Felix - Especificamente nessa
área ainda não.
Folha - Como o sr. define o caso?
Felix - É um esquema de corrupção. Os esquemas de corrupção,
de uma maneira geral, são como
puxar um fio de meada, a gente
não sabe onde terminam.
Folha - É público hoje o conflito
entre o sr. e o diretor da Abin, delegado Mauro Marcelo.
Felix - Não há problema nenhum de relacionamento com o
diretor da Abin. Algumas pessoas
tentam explorar isso, colocar uns
contra os outros. O diretor da
Abin tem uma relação de amizade
com o presidente, que é de muitos
anos. O que não significa que isso
seja utilizado por ele -ou sequer
consentido pelo presidente- para modificar a cadeia hierárquica.
Quem despacha com o presidente, todos os assuntos, sou eu.
Texto Anterior: Governo sob pressão: Senado obriga governo a detalhar despesas Próximo Texto: Ida de militares a Paris custará R$ 3 mi Índice
|