São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2005

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TODA MÍDIA

Em dupla

Nelson de Sá

Foi uma tarde coreografada para o presidente e seu ministro da Fazenda.
Lula surgiu antes nos canais de notícias, rádios e sites, para "responder ao pessimismo". Na passagem destacada mais tarde pelo "Jornal Nacional":
- Não espere de mim nenhuma medida populista porque vai ter eleição em um ano e meio. Não estou querendo construir base sólida de crescimento para um ano. Este país vai ter que ter juízo e ter um ciclo de crescimento de 10, 15 anos.
Outros, como Folha Online e Jovem Pan, sublinharam a declaração de Lula de que, como no ano passado, a economia vai "surpreender outra vez", apesar do primeiro trimestre.
Lula, pelo que se viu, carregou outra vez nas alegorias. E entrou em cena, no final da tarde, ao vivo na Band News e na Globo News, Antônio Palocci.
Calmo, sempre sorridente, até fazendo piadas sem a menor graça, como cabe a um ministro de finanças, foi perguntado sobre as declarações de Lula e corroborou uma a uma.
Dividiu as manchetes com o presidente, lado a lado, a partir de então. No "Jornal da Record", por exemplo:
- Palocci afirma que nada muda na política econômica, mesmo com retração. Otimista, Lula prevê crescimento surpreendente este ano.

 

Em contraste, o ministro José Dirceu surgiu à tarde nos canais de notícias, dizendo:
- A política monetária é atribuição do Banco Central.
Ou ainda, segundo a Folha Online, que "a autoridade monetária vai adotar o comportamento de reduzir juros quando a inflação arrefecer". O vice José Alencar foi além:
- Temos que romper com o regime de juros no país.
 

O PIB do primeiro trimestre correu mundo, a começar do "New York Times", em reportagem do correspondente Todd Benson, sob o título:
- O crescimento brasileiro desacelera, reprimido por taxas de juros de 19%.
E o "Washington Post":
- Brasil: o crescimento econômico desacelera.

O ABISMO
Globo/Reprodução
Na locução da Globo, "enquanto muitos têm pouco, poucos têm muito"

Desde a manhã, na Globo e demais:
- O Brasil continua um dos países mais desiguais do mundo. Em lista com 130, só ganha de Serra Leoa. O abismo entre ricos e pobres é tão grande que o 1% mais rico tem renda igual à dos 50% mais pobres.
 

Para azar do "JN", as cifras sobre pobres saíram no mesmo dia em que o telejornal programou uma defesa de outra classe social. Daí, na escalada:
- Os novos números da pobreza no Brasil. E o peso dos impostos para a classe média.
 

Dias atrás, em editorial sobre a desigualdade no Brasil e América Latina, o "New York Times" sublinhou que um dos problemas é que por aqui "as nações tomam muito pouco em impostos". Daí o abismo.

O jogo
Depois de mais um dia de frases retumbantes e insignificantes, nos canais de notícias e legislativos, o noticiário sobre a CPI achou alguma coisa.
O senador Renan Calheiros "garantiu" que arquiva a comissão se a Câmara considerar o requerimento inconstitucional. Foi um dia depois de o "JN" afirmar que "o presidente do Senado mostrou que não vai fazer o jogo do governo".

Entra Ciro
Nada de José Genoino.
Quem apareceu ontem para o ataque a FHC e oposição foi o ministro Ciro Gomes, que nem é petista, mas saiu dizendo à Globo Online e demais:
- Querem provar que o PT é igual a eles, que o governo é igual a eles. Não é. Este é um governo nacional contra um governo entreguista. Um governo ético, contra um governo contemporizador com a ladroeira.

Itens básicos
TV e rádio mostraram mais soldados a caminho do Haiti. Já o site da BBC Brasil foi ouvir o general Augusto Heleno:
- Ou os atores envolvidos no Haiti se convencem de que a mudança passa pelos itens básicos de infra-estrutura, ou vamos ter outra missão fracassada, como todas as anteriores.

Novas batalhas
O "Miami Herald" abordou em três textos, ontem, a disputa pelas Américas -entre EUA, Brasil, Espanha e China.
No meio, quatro entidades multilaterais: a Organização dos Estados Americanos, antes ligada aos EUA; a Comunidade Sul-Americana, bancada pelo Brasil; a futura Comunidade Ibero-Americana, criação da Espanha; e o Banco Inter-americano de Desenvolvimento, ao qual a China quer se filiar.

@ - nelsondesa@folhasp.com.br

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