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Máfia do jogo financiou Rosinha, diz Procuradoria
Bicheiros e quadrilhas de caça-níqueis teriam feito doações para políticos do Rio
Ex-governadora do Rio teria sido maior beneficiária, com R$ 1,6 milhão; campanha
de Álvaro Lins também teria recebido recursos ilícitos
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
A Procuradoria Regional da
República na Operação Segurança Pública S/A acusa a ex-governadora do Rio Rosinha
Matheus, mulher de Anthony
Garotinho -denunciado neste
caso-, e o deputado estadual e
ex-chefe de Polícia Civil Álvaro
Lins (PMDB), entre outros políticos do Rio, de terem recebido doações ilegais de quadrilhas de máquinas caça-níqueis
e do jogo do bicho. As doações
teriam ocorrido entre 2001 e
2002, ano em que Rosinha se
elegeu governadora. A afirmação consta da denúncia que levou à decretação da prisão de
dez pessoas semana passada.
Rosinha aparece como uma
das maiores beneficiárias das
contribuições não declaradas à
Justiça, tendo recebido R$ 1,6
milhão, de acordo com documentos apreendidos em operação anterior da Polícia Federal,
em abril do ano passado, na casa do "principal contador da
máfia dos caça-níqueis e do jogo do bicho", segundo o Ministério Público Federal.
Álvaro Lins -preso quinta-feira e solto no dia seguinte por
decisão do plenário da Assembléia Legislativa- recebeu R$
35 mil. O documento, apreendido na Operação Hurricane,
serviu como base para essa
ação e identificou rede de policiais ligados a Lins que atuavam na proteção de bicheiros e
empresários de caça-níqueis.
Para os procuradores, Rosinha, Lins e os demais políticos
ganharam contribuições financeiras dos bicheiros Aniz Abrahão David, o Anísio, Antonio
Khalil, o Turcão, e Ailton Guimarães, o Capitão Guimarães.
"Verificou-se, ainda, com base nos documentos apreendidos no curso da Operação Hurricane, que Álvaro [Lins], bem
como diversos outros políticos
desse Estado, dentre eles a ex-governadora Rosinha, esposa
do co-denunciado Garotinho,
recebiam contribuições financeiras de quase todos os bicheiros do Rio (...)", diz a denúncia.
Os procuradores ainda afirmam que Lins dava como contrapartida da doação a proteção
e não-repressão das quadrilhas:
"Em razão do já apurado em
seu desfavor, revela-se como
mais um indício de que a contrapartida de tais contribuições
era, justamente, a não repressão dessa atividade ilícita".
Caixa dois
Segundo a denúncia, Lins
manteve caixa dois de ao menos R$ 238 mil nas eleições de
2006. A afirmação se baseia em
documentos e recibos de despesas eleitorais encontrados na
casa do inspetor Mário Mustrange, o Marinho, secretário
particular e tesoureiro de Lins.
Do total, aparece em planilha
da PF o montante de R$ 147 mil
referente à "dobradinha Álvaro/Leonardo Picciani". Picciani (PMDB-RJ) foi eleito deputado federal. Segundo o relatório, "diversos áudios interceptados corroboram o fato de que
a quadrilha contribuiu com a
candidatura de Eurico Miranda
("Eurico M."), Álvaro Lins
("AL") e outros". Eurico teria
recebido R$ 50 mil.
Aparecem ainda os nomes da
secretária de Ação Social do Rio
e ex-governadora Benedita da
Silva (PT, R$ 40 mil), do ex-deputado federal Bispo Rodrigues
(PR-RJ, R$ 25 mil), do presidente de Furnas e ex-vice-governador, Luiz Paulo Conde
(PMDB, R$ 100 mil), do deputado estadual Chiquinho da
Mangueira (PMDB, R$ 25 mil)
e da deputada federal e candidata à Prefeitura do Rio Solange Amaral (DEM, R$ 200 mil).
A assessoria de Rosinha disse
que ela não recebeu dinheiro
não contabilizado nem contribuição do jogo do bicho, ou de
qualquer outra origem duvidosa, e que todas as contas foram
aprovadas pela Justiça.
A Folha deixou recado no celular do advogado de Lins, Ubiratan Guedes, mas não teve retorno até o fechamento desta
edição. A assessoria de Benedita afirmou que não se pronunciaria sem falar com a secretária. Solange Amaral não retornou recado ontem. A assessoria
de Conde afirmou desconhecer
a colaboração e disse que suas
contas foram aprovadas. A assessoria de Picciani disse que
ele só fez material de campanha, não "dobradinha" com
Lins, e o fato de seu nome aparecer em lista de caixa dois
"não tem o menor fundamento". A Folha não localizou Chiquinho da Mangueira, Eurico
Miranda e Bispo Rodrigues.
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