São Paulo, Quarta-feira, 02 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIA JUSTA
Cerimônia em SP marca despedida de Jatene ACM, Serra, Covas e Maluf se encontram

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O ministro José Serra com o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, em homenagem a Adib Jatene


da Reportagem Local

A solenidade de despedida do ex-ministro Adib Jatene do Incor (Instituto do Coração) reuniu ontem em São Paulo em uma situação de ""inimizade cordial", conforme descrição de um dos convidados à cerimônia, quatro adversários políticos.
O ministro da Saúde, José Serra (PSDB-SP), o presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o governador Mário Covas (PSDB-SP) e o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB-SP) estiverem presentes ao evento que marcou a aposentadoria de Jatene depois de 16 anos como membro da diretoria do hospital.
Serra, ACM e Covas estiveram envolvidos na semana passada no centro da polêmica sobre entidades filantrópicas.
O ministro da Saúde e o pefelista Waldeck Ornélas (Previdência) trocaram acusações devido à lei que retirou a isenção da contribuição previdenciária dos hospitais filantrópicos que atendiam menos de 60% de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).
Na avaliação de Serra, a medida teve um efeito ""sádico" sobre a saúde. Em resposta, Ornélas se referiu ao tucano como ""patrono da pilantropia", ""figura egocêntrica" e sem ""espírito de equipe".
O governador paulista e ACM saíram em defesa de seus respectivos colegas de partido. Enquanto o senador baiano apoiou as declarações de Ornélas, dizendo que o ministro tucano ""só cria problemas", Covas criticou a intervenção do presidente do Congresso no caso.
Segundo a Folha apurou, foi de cordialidade ""mínima" o clima entre os três na sala VIP do Centro de Convenções Rebouças, onde foi realizada a cerimônia.
O mesmo comportamento ocorreu em relação ao ex-prefeito paulistano, adversário político de Covas na última eleição, crítico de Serra e alvo frequente de ACM. O presidente do Congresso, o pepebista, o governador e o senador Pedro Piva, de acordo com relatos ouvidos pela Folha, chegaram a participar de uma mesma roda.
ACM e Covas trataram ainda sobre a possibilidade de uma outra conversa, insinuando, conforme testemunhas, a necessidade de resolver o mal-estar gerado pelo bate-boca entre os ministros de FHC.
Clima menos amistoso ocorreu entre o senador baiano e Serra, que se cumprimentaram, mas permaneceram afastados enquanto estiveram na sala VIP.
Já em público, durante a homenagem, os dois, sentados lado a lado, fizeram questão de demonstrar cordialidade, conversando em alguns momentos.
Colocado ao lado de Jatene, Covas foi separado de Maluf apenas por um corredor, tendo saudado o pepebista em seu discurso de homenagem ao ex-ministro como governador Paulo Maluf.
O ministro da Saúde preferiu não citar o ex-prefeito paulistano entre os políticos convidados para a cerimônia.
Depois da homenagem, o governador Mário Covas afirmou que os adjetivos empregados pelos ministros no caso das filantrópicas ""talvez tenham sido excessivos" e que o desentendimento público sobre o assunto ""é muito ruim para o governo".
""Isso não passa de uma discussão interna entre dois pontos de vista, que melhor seria se fosse feita dentro das quatro paredes do governo, mas que, afinal, não significa uma guerra insuperável", declarou.
Na avaliação do presidente do Congresso, o episódio, por ele considerado encerrado, não abalou a base de sustentação do governo.""Divergência é bom em tudo. Divergindo é que se encontra caminhos. Na convergência às vezes não se encontra."

Grampo
Serra, ACM e Covas foram unânimes em concordar com a possibilidade de os grampos feitos na época da privatização da Telebrás terem sido preparados com objetivos comerciais.
A afirmação foi feita anteontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo FHC, funcionários do governo podem ter utilizado o mecanismo, agindo em interesse de grupos privados.
""A intenção não era tornar público apenas. Isso pode abrigar os mais insuspeitados tipos de intenções. Portanto descobrir quem fez e por qual razão é absolutamente fundamental", disse o governador.

PT
Covas também afirmou não acreditar na possibilidade de o PT vir a fazer parte de seu governo. O tucano e o partido retomaram anteontem o diálogo, após interrupção devido ao período de tratamento de Covas contra um câncer na bexiga.
""Nem é por minha vontade. Eles acharam que poderiam dar sua contribuição sem participar do governo. Eu entendo a posição deles e recebo as sugestões com muita simpatia."
Segundo Covas, algumas propostas petistas, como as câmaras setoriais e as frentes de trabalho, já estão sendo implementadas pelo governo estadual.
""Algumas coisas são mais complexas porque todo o mundo sabe que o PT é contra a privatização. Mas até nisso eles foram bastantes compreensivos. Disseram que, se for para fazer, era bom que cuidados fossem tomados", declarou.


Texto Anterior: Governadores tucanos fazem visita a FHC
Próximo Texto: Proposta é rejeitada por juízes e advogados
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.