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REFORMA DO JUDICIÁRIO
Extinção da Justiça do Trabalho é ponto do projeto de Nunes Ferreira que tem maior resistência
Proposta é rejeitada por juízes e advogados
CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
A proposta de reforma do Judiciário apresentada pelo deputado
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
desagradou ao governo e a entidades representativas de advogados,
juízes e do Ministério Público.
É unânime a rejeição à extinção
da Justiça do Trabalho, com a incorporação de suas atribuições pela Justiça Federal.
"O projeto não combate a morosidade do Judiciário. Com ele, nós
vamos continuar a não prestar um
bom serviço para a população",
afirma o secretário-geral da AMB
(Associação dos Magistrados Brasileiros), Luís Felipe Salomão.
"A extinção da Justiça do Trabalho trará o caos", diz o juiz Dyrceu
Cintra Aguiar, da Associação Juízes para a Democracia.
"O mais absurdo é que a proposta extingue a Justiça do Trabalho,
mas preserva a Justiça Militar",
acrescenta Marcelo Semer, secretário da mesma associação.
O presidente do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de
Justiça, Anísio Marinho Neto,
também vê "com preocupação" o
fim da Justiça do Trabalho. Em sua
opinião, a medida tornará ainda
mais moroso o andamento dos
processos trabalhistas.
"Acabar com o TST (Tribunal
Superior do Trabalho) é reduzir
direitos do trabalhador", afirma o
ministro Francisco Dornelles
(Trabalho e Emprego).
"Não sabia que o ministro (Dornelles) era o porta-voz do governo
para essa matéria. O governo está
errado. A proposta reforça a Justiça onde é preciso, na base", respondeu Ferreira, relator do projeto de reforma do Judiciário.
Beatriz de Lima Pereira, ex-presidente da Anamatra (Associação
Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), diz não conseguir
entender como será feita a incorporação da Justiça do Trabalho pela Federal. "É como tentar colocar
o Brasil dentro de Portugal."
Segundo ela, há 1.300 juízes trabalhistas e 700 juízes federais no
país. Além disso, o volume de processos trabalhistas é bem maior
que o de processos federais.
Como presidente da Anamatra
-cargo que ocupou até 13 de junho-, Beatriz participou das discussões sobre a reforma promovidas por Ferreira. Em nenhum momento, diz, foi debatido o fim da
Justiça do Trabalho. "Estamos surpresos, para dizer o mínimo."
"O relator está conseguindo destruir o ramo do Judiciário que melhor funciona, que permite o
maior acesso do trabalhador à Justiça", diz Gustavo Tadeu Alkimim,
atual presidente da Anamatra.
Controle externo
A AMB e a Associação Juízes para a Democracia criticam o modelo
de controle externo do Judiciário
previsto no projeto, mas por razões diferentes.
Os "democratas" acreditam que
o CNJ (Conselho Nacional da Justiça) será uma forma de controle
da cúpula do Judiciário sobre os
juízes, e não um mecanismo de
controle da sociedade sobre o Judiciário. Por isso, defendem a ampliação da presença de pessoas que
não integram o Judiciário no CNJ.
Pela projeto, o conselho será formado por ministros de tribunais
superiores, representantes de juízes estaduais, pelo presidente da
OAB, pelo procurador-geral da
República e por especialistas.
A AMB defende que o CNJ seja
composto exclusivamente por juízes de carreira.
As duas entidades criticam a possibilidade de demissão de juízes
pelo conselho, por acreditar que
ela representa a quebra do princípio da vitaliciedade (pelo qual o
juiz só pode ser afastado por decisão judicial). "Esse dispositivo dá
ensejo a perseguições e ameaça a
independência do magistrado",
diz Salomão, da AMB.
A OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) divulgou nota oficial
contra o que considerou a vitória
do corporativismo da cúpula dos
Poderes da República no modelo
de CNJ previsto no projeto.
"A proposta não se preocupou
com a sociedade civil, que continua vista como mera massa de manobra", diz a nota.
Ferreira contesta as críticas ao
CNJ: "Precisamos de um órgão que
tenha condições tanto de punir os
magistrados que tenham comportamento incompatível com o decoro do cargo e que não trabalhem
no tempo certo como de cassar decisões contrárias aos princípios da
administração pública".
O deputado Luiz Antonio de Medeiros (PFL-SP) está liderando a
formação de uma frente de defesa
da Justiça do Trabalho na Câmara.
"No Brasil há empresários selvagens e a Justiça do Trabalho é um
fator de equilíbrio na sociedade
brasileira", disse Medeiros.
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