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IGREJA
Valeriano Paitoni, contrariando a orientação do Vaticano, que condena o preservativo, concebeu e dirigiu a fita
Padre faz vídeo para defender camisinha
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
"O silêncio é uma prece." Quem
visita pela primeira vez a sacristia
da igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Imirim (zona norte de
São Paulo), dificilmente fica
alheio à frase de tom proverbial,
inscrita em uma pequena placa.
Mas para os fiéis que já conhecem
o responsável por aquela paróquia, o ensinamento soa quase
como ironia. Todos ali sabem que
padre Valeriano Paitoni não é homem de silêncios.
Há 16 anos, o sacerdote se opõe
às orientações do papa sobre o
uso de preservativos. Enquanto a
Santa Sé condena a camisinha,
padre Valeriano a recomenda e
distribui. Não vê melhor saída
diante da proliferação do HIV.
Na esperança de disseminar
suas convicções, está lançando o
vídeo "Em Defesa da Vida... São
Outros 500". Ele mesmo o concebeu e dirigiu, com recursos do
Ministério da Saúde (R$ 20 mil).
A fita dura 16 minutos. É uma
espécie de manifesto, que se apóia
em uma tese principal: se hoje a
Igreja Católica pede perdão pelos
erros cometidos contra negros e
índios, futuramente terá de fazê-lo por não aceitar a camisinha no
combate à Aids.
O vídeo oferece números sobre
a doença e tenta demonstrar como os preservativos vêm contribuindo para detê-la.
Um narrador informa que, de
acordo com o Banco Mundial, "o
trabalho de prevenção realizado
no Brasil durante os últimos quatro anos evitou 38 mil novos casos
de infecção pelo vírus HIV" -resultado que deriva também do
"aumento de quase 500%" na
venda de camisinhas.
Em alguns trechos, é o próprio
padre Valeriano quem se pronuncia. "Como igreja", afirma, "não
recebemos a missão de destruir a
vida, mas de defendê-la na sua
plenitude. Partindo desse princípio, precisamos rever com coragem nossas posições e dar uma
resposta de vida, não de morte;
uma resposta de inclusão e não de
exclusões".
Até agora, o sacerdote produziu
200 cópias do vídeo, que repassou
para ONGs católicas. Pretende, no
entanto, espalhar outras fitas por
paróquias de todo o país.
O manifesto deverá colocar
mais lenha em uma fogueira que
já ardeu muito nas últimas semanas. Recentemente, a CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) promoveu um seminário sobre Aids que contou com a
presença do monsenhor Javier
Lozano Barragán, representante
do Vaticano.
Ao longo do evento, o episcopado progressista chegou a admitir
a camisinha como "mal menor".
Monsenhor Barragán, contrariado, o repreendeu duramente. E
reiterou que, para Roma, só há
duas armas capazes de vencer o
HIV: a abstinência sexual e a fidelidade conjugal.
"O vídeo não é uma provocação", diz padre Valeriano, que
participou do seminário em Itaici
(SP). "É apenas uma tentativa de
traduzir o que pensa a base da
igreja, aqueles que trabalham
com os soropositivos."
Punição
Italiano de Pontevico, o sacerdote administra três casas na zona
norte paulistana que prestam assistência gratuita a portadores do
vírus da Aids. Juntas, cuidam de
33 pacientes -22 crianças e 11
adultos.
Cada um custa cerca de R$ 300
por mês. Frequentadores da igreja de Nossa Senhora de Fátima
doam uma porcentagem do dinheiro. O resto advém da congregação de que o padre faz parte: a
dos Missionários da Consolata.
No Brasil desde 1978, Valeriano,
50, trabalhou inicialmente em
Cascavel (PR), onde respondia
pela formação de seminaristas.
Em 1984, mudou-se para São
Paulo e travou os primeiros contatos com a Aids. Logo percebeu a
importância da camisinha. Passou, então, a defendê-la em palestras e a distribuí-la entre pobres e
doentes. Nunca sofreu nenhuma
punição do clero.
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