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Lembo quer Estado na defesa de autoridades
Projeto de lei enviado à Assembléia permite que integrantes do Executivo sejam defendidos por procuradores do Estado
Lei poderá vir a beneficiar o governador, os seus atuais secretários e os dirigentes de autarquias; procuradores resistem à idéia de pefelista
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador Cláudio Lembo (PFL) quer aprovar uma lei
que permita a autoridades do
Poder Executivo processadas
por atos praticados no exercício do cargo serem defendidas
por advogados do Estado, mesmo após deixarem o governo.
Proposta a seis meses da mudança de governo, a lei poderá
vir a beneficiar o próprio Lembo, seus atuais secretários e os
dirigentes de autarquias.
Se o projeto de lei for aprovado, eles não terão de contratar
advogados, pois serão defendidos por procuradores do Estado, desde que seus atos de ofício tenham seguido orientação
jurídica do órgão específico.
Lembo recebeu a sugestão do
procurador-geral do Estado,
Elival da Silva Ramos, nomeado pelo ex-governador Geraldo
Alckmin (PSDB). Houve tramitação "prioritária e acelerada",
gerando divisão e forte polêmica entre os procuradores.
"A Procuradoria Geral do Estado, instituição séria e comprometida com o patrimônio
público, vai correr o risco de
também ter que defender pessoas como o sr. Paulo Maluf,
confundindo sua vocação para
defender o que é público com o
interesse privado", afirma Ney
Duarte Sampaio, vice-presidente do Sindiproesp, sindicato dos procuradores do Estado.
O Conselho da Procuradoria
Geral do Estado só foi consultado depois que o projeto de lei já
havia sido enviado à Assembléia Legislativa. O órgão rejeitou a proposta, por oito votos a
cinco, mas o projeto não foi retirado da Assembléia.
"Ouso discordar integralmente da proposta", disse em
seu voto o conselheiro-eleito
Carlos José Teixeira de Toledo,
que "rechaçou" o projeto, mesmo ressaltando que a discordância era "inócua", pois "opinava sobre um fato consumado": "Primeiro leva-se o projeto
ao governador, depois se colhe
a opinião do Conselho", disse.
Toledo disse que a proposta
descaracteriza o exercício da
advocacia pública, se o procurador do Estado, remunerado
pelo erário, atua como advogado privado: "Ninguém pode
servir bem a dois senhores".
"Nosso trabalho é defender o
Estado, não os estadistas", diz
Sampaio. "Se se quer dar uma
proteção a essas pessoas, imaginando-as probas, que se encontre outro mecanismo".
A conselheira-relatora, Ana
Maria Oliveira de Toledo Rinaldi, votou favoravelmente ao
projeto: "Todos os agentes políticos e públicos terão bem claro
o fato de que, se agirem em conformidade com a orientação fixada pelo órgão jurídico, terão
a garantia de terem seus atos
defendidos em juízo ou administrativamente pela Procuradoria Geral do Estado".
O deputado Ricardo Trípoli
(PSDB), líder do governo na Assembléia, foi além e apresentou
emenda propondo que a procuradoria represente, "inclusive,
servidores públicos em geral".
O ex-procurador geral do Estado Márcio Sotelo Felippe diz
que o projeto "é inconstitucional e desfigura completamente" a procuradoria. "O agente
público pode se sentir estimulado a praticar irregularidade,
já que deixa de sofrer certo
ônus por isso", diz Felippe.
A proposta foi inspirada em
medida semelhante adotada
pela Advocacia Geral da União
no governo Fernando Henrique Cardoso, na gestão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
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