São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Roriz e aliados já cogitam renúncia em bloco

Segundo suplente do senador propõe que ele e o primeiro também saiam, o que resultaria em nova eleição para o Senado no DF

Grupo do ex-governador aguarda encaminhamento que Senado vai dar para acusações para decidir se desistência vale a pena

ANDRÉA MICHAEL
FELIPE SELIGMAN
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) discute com aliados abrir mão do mandato. Embora tenha sido descartada por ora, a idéia tem até um formato. Renunciariam em bloco Roriz, o primeiro suplente, Gim Argello, e o segundo, Marcos de Almeida Castro -de quem partiu a proposta. A saída tornaria obrigatória nova eleição para senador no Distrito Federal.
Roriz, 70, e seu grupo conversam há uma semana sobre formas de amenizar o desgaste político da acusação de recebimento ilegal de dinheiro.
Inicialmente, a idéia da renúncia foi considerada prematura, desmoralizante e arriscada, pois implicaria a perda do foro especial -um senador só pode ser denunciado à Justiça pelo procurador-geral da República e deve responder a eventual processo apenas no Supremo Tribunal Federal.
Mas hoje Roriz e aliados avaliam que aumentaram as chances de um processo de cassação no Conselho de Ética. O senador correria o risco de ficar inelegível até 2022 (o resto do atual mandato mais oito anos).
Nessa hipótese, a renúncia valeria a pena: preservaria o direito de concorrer em futuras eleições. O grupo do senador vai aguardar o encaminhamento que o Senado dará às acusações antes de tomar uma decisão definitiva.
Segundo o ministro do Tribunal Superior Eleitoral José Gerardo Grossi, a renúncia tripla se encaixa no parágrafo segundo do artigo 56 da Constituição: "Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la se faltarem mais de 15 meses para o término do mandato".

Insustentável
A situação de Gim Argello tornou-se insustentável na aliança com Roriz. O nome do suplente aparece nas investigações da Operação Aquarela, conduzidas pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.
Além disso, o senador acha que foi ele a fonte de informações publicadas na revista "Veja" desta semana, sobre suposta compra de votos no Tribunal Regional Eleitoral no julgamento que evitou a cassação da candidatura do peemedebista em outubro passado.
Na ocasião, Roriz deixara o governo do DF para se candidatar a senador. Em meio à campanha, a Caesb, a estatal responsável pelo fornecimento de água, mudara em propagandas seu número de atendimento telefônico de 115 para 151, o mesmo de Roriz na eleição.
Segundo a "Veja", o dinheiro para pagar os magistrados teria saído da negociação nebulosa em que Roriz e o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Moura receberam um cheque de R$ 2,23 milhões do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol.
O BRB é alvo da Operação Aquarela. Os investigadores estimam que, por meio de fraudes praticadas contra o banco, foram desviados R$ 50 milhões.
Do cheque, descontado no BRB, Roriz afirmou ter ficado somente com R$ 300 mil, que teriam sido fruto de um empréstimo que tomou de Constantino. O restante do dinheiro o peemedebista declarou ter devolvido ao empresário.
Também do PMDB, Castro, autor da idéia da renúncia tripla, teria sido o primeiro suplente de Roriz não fossem as pressões do PTB para colocar Argello no lugar. "Marquinho", como é conhecido, atua como conselheiro de Roriz, de quem se aproximou quando foi vice-prefeito de Goiânia, pelo PT.
Em sua carreira política, o engenheiro já passou também pelo PSDB, legenda pela qual se candidatou, sem sucesso, a deputado federal. Seu posto político mais recente foi a presidência da estatal Caesb.
Com dores abdominais, Argello foi atendido sábado num hospital de Brasília. A Folha não o localizou ontem.


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