São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2007

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Operações têm erros graves de investigação

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do sucesso das megaoperações realizadas pela Polícia Federal ainda ocorrem erros graves, como a prisão provisória de pessoas sem envolvimento comprovado com as irregularidades apuradas.
Em pelo menos duas das cinco megaoperações levantadas pela Folha, dois homens foram presos por falha dos investigadores, um durante 11 dias, outro por cinco dias.
"As operações são importantes. Meu receio é que algumas são baseadas em conversas gravadas, às vezes, tiradas do contexto ou com uma interpretação forçada. Acho que a PF joga para mostrar serviço, e injustiças são cometidas", disse o advogado Alberto Zacharias Toron, diretor do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Há três meses, um cliente de Toron ganhou na Justiça uma indenização de R$ 500 mil da União por ter sido preso por engano na Anaconda.
Ele tinha o mesmo prenome de um suspeito que surgiu nos grampos telefônicos. A soltura ocorreu após uma perícia de voz, depois que ele já havia sido denunciado pelo Ministério Público.
A sentença favorável ao cliente de Toron é de primeira instância, e a União ainda pode recorrer.
Outro caso de prisão ilegal foi o do engenheiro Antônio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), preso em 2005, durante a Operação Curupira, com mais 110 pessoas acusadas de integrar um esquema de desmatamento e extração de madeira.
Levado algemado de Brasília para a prisão em Cuiabá (MT), onde ficou por cinco dias, Hummel foi solto porque nem a PF nem o Ministério Público Federal apresentaram provas do suposto envolvimento dele. O engenheiro também está processando seus acusadores.
Nenhum dos dois presos sem provas aceitou falar sobre o tema, que consideram doloroso para eles e para a família.
Ainda na Operação Curupira, um escritório de advocacia de Mato Grosso sofreu uma operação de busca e apreensão no lugar de um escritório vizinho, que era investigado.
Em outro episódio, a Polícia Federal indiciou um homem, de quem tinha apenas o prenome, mas cuja empresa tinha um nome similar ao de outra que era efetivamente investigada. O empresário, que não quer ser identificado, não foi preso, mas foi denunciado pelo Ministério Público. Ele entrou com uma ação para excluir o nome dele do cadastro criminal.
"Há uma infinidade de casos de erros na investigação. E o clima social de apoio à repressão e a repercussão positiva da mídia levam a Polícia Federal a executar operações ao arrepio da lei. Essa é a preocupação dos advogados. Não somos contra a investigação. A gente aplaude o combate à corrupção, mas ele tem de ser feito legalmente", disse o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. (LC)


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