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Sarney ameaça renunciar e provoca recuo de petistas
Presidente do Senado indica ao PT que sua saída será um problema para Lula
Além de perder apoio de boa
parte do PMDB no Senado,
governo colocaria em risco
aliança com sigla em favor da
candidatura Dilma em 2010
VALDO CRUZ
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após ter seu afastamento por
30 dias defendido pelo PT no
Senado, o presidente da Casa,
José Sarney (PMDB-AP),
ameaçou ontem renunciar ao
cargo e forçou os petistas a recuarem da posição inicial.
Ao final de uma reunião de
emergência com Sarney na noite de ontem, os petistas mudaram o tom do discurso da manhã e se mostraram inclinados
a defender a permanência do
presidente do Senado.
Funcionou a estratégia de
Sarney de transferir ao PT a
responsabilidade por sua permanência no cargo.
O governo perderia o apoio
de boa parte do PMDB nas votações do Senado, e a sigla seria
estimulada a abandonar a
aliança visando a eleição presidencial, trocando a candidatura da petista Dilma Rousseff
pela do tucano José Serra.
O líder do PT no Senado,
Aloizio Mercadante (SP), reconheceu na saída da casa de Sarney a tendência de o partido recuar e passar a defender a permanência do peemedebista. "É
o mais provável. Vamos falar
com o presidente Lula, mas é o
Sarney quem vai decidir."
"Não acredito que possa
prosperar [a proposta inicial
petista]", acrescentando que a
decisão da bancada será tomada hoje após encontro com Lula -o presidente ligou para Ideli Salvatti (SC) durante a reunião para marcar a conversa.
Mercadante disse ainda que a
decisão do PT depende de Sarney aceitar a reforma administrativa "ampla e geral", com
atuação do colégio de líderes.
Dos dez senadores petistas
que estiveram reunidos com
Sarney, apenas dois mantiveram a posição de defender a licença do peemedebista: Marina Silva (AC) e Eduardo Suplicy
(SP). Tião Viana (AC) e Flávio
Arns (PR) não compareceram.
O peemedebista rejeitou o
argumento da licença, afirmando que não teria condições de
voltar. E insistiu que, sem o
apoio do PT, teria de renunciar.
A preocupação do governo
com o risco de saída de Sarney
já era clara anteontem, quando
Dilma Rousseff (Casa Civil) ligou para o peemedebista e pediu um encontro com ele.
Dilma transmitiu um recado
de Lula a Sarney -que ele
aguardasse o retorno do presidente da viagem antes de tomar
qualquer decisão. A reunião poderia ocorrer ontem à noite.
Pela manhã, os líderes do governo no Congresso -Ideli- e
do PT -Mercadante- haviam
se reunido com Sarney para sugerir que se afastasse por 30
dias e criasse a comissão para
tocar a reforma administrativa.
Na reunião, Sarney fez a
ameaça de renunciar ao cargo.
Ele disse que, depois de perder
o apoio do DEM no dia anterior, se ficasse sem o suporte do
PT não teria condições "aritméticas" de ficar no cargo.
Lembrou a Ideli e Mercadante que só teria apoio de PMDB,
PTB, PR e PRB, que juntos somam no máximo 30 dos 81 votos da Casa -já contabilizadas
as defecções em seu partido.
Disse ainda aos petistas que
iria informar Lula sua decisão
de renunciar ao cargo diante da
posição petista de pedir seu
afastamento do cargo.
Depois disso, Mercadante
reuniu novamente a bancada,
quando foi decidido que voltariam a se reunir com Sarney.
Para justificar a mudança de
rumo, Mercadante disse: "Percebemos o quanto essa aliança
é importante e a influência de
Sarney no PMDB".
O petista disse que a renúncia de Sarney só interessa aos
partidos da oposição.
Sarney enfrenta uma crise no
Senado desde sua posse, em fevereiro. Em março, seu protegido Agaciel Maia caiu da Direção
Geral por ter omitido a posse de
uma casa de R$ 5 milhões. Uma
sucessão de denúncias se seguiu, culminando na revelação
de que havia atos secretos.
Colaborou LUCAS FERRAZ ,
da Sucursal de Brasília
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