São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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Sarney ameaça renunciar e provoca recuo de petistas

Presidente do Senado indica ao PT que sua saída será um problema para Lula

Além de perder apoio de boa parte do PMDB no Senado, governo colocaria em risco aliança com sigla em favor da candidatura Dilma em 2010

VALDO CRUZ
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após ter seu afastamento por 30 dias defendido pelo PT no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), ameaçou ontem renunciar ao cargo e forçou os petistas a recuarem da posição inicial.
Ao final de uma reunião de emergência com Sarney na noite de ontem, os petistas mudaram o tom do discurso da manhã e se mostraram inclinados a defender a permanência do presidente do Senado. Funcionou a estratégia de Sarney de transferir ao PT a responsabilidade por sua permanência no cargo.
O governo perderia o apoio de boa parte do PMDB nas votações do Senado, e a sigla seria estimulada a abandonar a aliança visando a eleição presidencial, trocando a candidatura da petista Dilma Rousseff pela do tucano José Serra.
O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), reconheceu na saída da casa de Sarney a tendência de o partido recuar e passar a defender a permanência do peemedebista. "É o mais provável. Vamos falar com o presidente Lula, mas é o Sarney quem vai decidir."
"Não acredito que possa prosperar [a proposta inicial petista]", acrescentando que a decisão da bancada será tomada hoje após encontro com Lula -o presidente ligou para Ideli Salvatti (SC) durante a reunião para marcar a conversa. Mercadante disse ainda que a decisão do PT depende de Sarney aceitar a reforma administrativa "ampla e geral", com atuação do colégio de líderes.
Dos dez senadores petistas que estiveram reunidos com Sarney, apenas dois mantiveram a posição de defender a licença do peemedebista: Marina Silva (AC) e Eduardo Suplicy (SP). Tião Viana (AC) e Flávio Arns (PR) não compareceram.
O peemedebista rejeitou o argumento da licença, afirmando que não teria condições de voltar. E insistiu que, sem o apoio do PT, teria de renunciar.
A preocupação do governo com o risco de saída de Sarney já era clara anteontem, quando Dilma Rousseff (Casa Civil) ligou para o peemedebista e pediu um encontro com ele.
Dilma transmitiu um recado de Lula a Sarney -que ele aguardasse o retorno do presidente da viagem antes de tomar qualquer decisão. A reunião poderia ocorrer ontem à noite.
Pela manhã, os líderes do governo no Congresso -Ideli- e do PT -Mercadante- haviam se reunido com Sarney para sugerir que se afastasse por 30 dias e criasse a comissão para tocar a reforma administrativa.
Na reunião, Sarney fez a ameaça de renunciar ao cargo.
Ele disse que, depois de perder o apoio do DEM no dia anterior, se ficasse sem o suporte do PT não teria condições "aritméticas" de ficar no cargo.
Lembrou a Ideli e Mercadante que só teria apoio de PMDB, PTB, PR e PRB, que juntos somam no máximo 30 dos 81 votos da Casa -já contabilizadas as defecções em seu partido.
Disse ainda aos petistas que iria informar Lula sua decisão de renunciar ao cargo diante da posição petista de pedir seu afastamento do cargo.
Depois disso, Mercadante reuniu novamente a bancada, quando foi decidido que voltariam a se reunir com Sarney.
Para justificar a mudança de rumo, Mercadante disse: "Percebemos o quanto essa aliança é importante e a influência de Sarney no PMDB".
O petista disse que a renúncia de Sarney só interessa aos partidos da oposição.
Sarney enfrenta uma crise no Senado desde sua posse, em fevereiro. Em março, seu protegido Agaciel Maia caiu da Direção Geral por ter omitido a posse de uma casa de R$ 5 milhões. Uma sucessão de denúncias se seguiu, culminando na revelação de que havia atos secretos.


Colaborou LUCAS FERRAZ , da Sucursal de Brasília


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