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JANIO DE FREITAS
A saída dos subornados
Mais importante do que iniciar, como crêem muitos, um
acordo de fuga dos implicados irremediáveis, a renúncia de Valdemar Costa Neto deu a demonstração formal do artifício a ser usado
para encobrir a condição real dos
subornados: explicar o dinheiro
recebido como verba não registrada de campanha, apresentar retificação das contas à Justiça Eleitoral e, tendo renunciado ou não,
candidatar-se outra vez já no ano
que vem.
Diante de tal evidência, é indispensável uma série de providências imediatas da CPI e da Polícia
Federal, a começar da quebra dos
sigilos de todos os implicados, para neutralizar o artifício antes que
os subornados e seus advogados
concluam os arranjos em andamento.
Não se sabe o estágio em que estão as investigações da Polícia Federal. Mas, quanto à CPI, se seus
integrantes, com duas ou três exceções, continuarem tão mais dedicados aos jornais e à TV do que
à investigação -no que também
traem o seu dever parlamentar- ,
os subornados nem precisam de
acordos entre si para escapar de
represálias mais rigorosas. Estará
aberto, como está hoje, o caminho
para o artifício do dinheiro de fins
apenas eleitorais.
Equívoco
O "pacto de governabilidade",
ou lá que nome tenha, pretendido
por empresários para proteger a
economia, atribui à crise atual o
imobilismo do Congresso e do governo. Mas a Câmara já estava
em banho-maria mais de meio
ano antes que, em maio, Roberto
Jefferson sacasse as armas. Tanto
que, no seu primeiro depoimento,
a paralisia da Câmara foi por ele
mencionada várias vezes, explicada como forma de cobrança de
aumento do "mensalão".
Em setembro do ano passado, a
"reforma" ministerial entrava no
falatório, dada como solução para
acionar a Câmara com um "base
aliada" robustecida. Hoje, aliás,
comprova-se que a "base aliada"
não se robustecia com ministérios.
O imobilismo não depende do
pacto pretendido por empresários.
Congresso não se move em governo imóvel.
Versão
Ficou sem a necessária explicação a falta da "pólvora pura" que
o relator da CPI, Osmar Serraglio
(pronuncia-se como Serrálio),
percebera na lista que, entregue
pelo Supremo Tribunal Federal
depois de vários adiamentos, não
apresentou revelações nem quantidade útil.
Há uma versão salvadora para
os olhos e o olfato do relator. A lista exposta na CPI não reproduz
por completo a lista original, ainda poupada por ser, de fato, "pólvora pura".
Sem concessão
Pode até funcionar como está,
mas a explicação da ex-mulher de
José Dirceu, para o empréstimo e o
emprego obtidos, poderia atribuir-lhe pelo menos uma apresentação a alguém, um telefonemazinho que fosse. Só as figurinhas fáceis.
A falta
Resposta de José Serra quando
perguntado se persistia, ante a
possibilidade da candidatura à
Presidência em 2006, a afirmação
na campanha de que cumpriria o
mandato de prefeito até o final:
"Eu disse o que pensava naquele
momento. Mas o maior fator impeditivo é que eu gosto do trabalho na prefeitura" (Folha de domingo).
Passada a disputa com Lula,
Serra teve bastante tempo para
pensar e decidiu-se pela prefeitura em vez de esperar pela eleição
para o governo estadual ou a Presidência -um passo aqui criticado, senão mesmo lamentado, na
ocasião.
Não é só a corrupção que precisa acabar na política. É preciso
que o eleitorado possa, um dia,
acreditar no que lhe é dito. Lula
também "dizia o que pensava"
nos 20 anos antes de eleger-se, depois passaram a ser apenas "bravatas". Todos diziam ao eleitorado "o que pensavam" e depois
deixam de pensar. Ou porque não
pensavam ou porque "o fator impeditivo" para descumprir a palavra deveria ser, e jamais é, a
própria palavra.
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