São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO MINEIRA

Ex-secretário diz que Eduardo Azeredo gastou mais de R$ 20 mi, mas ele só declarou R$ 8,5 mi

Ação de ex-tesoureiro indica caixa 2 em campanha tucana

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998, Cláudio Roberto Mourão da Silveira, declarou em uma ação judicial que a campanha custou mais de R$ 20 milhões.
A cifra é muito maior do que a despesa admitida oficialmente pelo senador Azeredo, presidente nacional do PSDB, que sustenta ter gasto R$ 8,5 milhões na tentativa de se reeleger governador de Minas. Ele perdeu a disputa para o ex-presidente Itamar Franco.
Em novembro do ano passado, Cláudio Mourão entrou com ação de indenização por danos morais contra Eduardo Azeredo e o empresário Clésio Andrade, candidato a vice-governador na chapa de Azeredo, em 98.
Por envolver um senador, a ação foi impetrada no STF (Supremo Tribunal Federal). Mourão pediu indenização de R$ 3,5 milhões, alegando que contraiu dívidas para cobrir gastos da campanha, que teriam levado sua família à derrocada financeira.
O relator do pedido, ministro Gilmar Mendes, considerou que a reclamação não é matéria para o STF, mas o processo ainda não foi encerrado.
O senador e ex-governador de Minas Eduardo Azeredo não quis comentar a iniciativa de Mourão, alegando que não foi notificado sobre a reclamação. Também não quis comentar a informação de que os gastos da campanha teriam superado R$ 20 milhões.
Clésio Andrade, atual vice-governador de Minas, também alegou que não foi notificado e não quis comentar o caso.
O ex-tesoureiro conta, na ação, que era secretário de Recursos Humanos e Administração do governo Azeredo (1995-1998) e que deixou o cargo em julho de 1998 para assumir a coordenação administrativa e financeira da campanha eleitoral.
Disse que, devido à falta de recursos inicial, comprou 98 carros (95 zero-quilômetro e três usados) por intermédio da Locadora de Automóveis União, pertencente a seu filho. A compra, segundo ele, totalizou R$ 1,638 milhão.
""No epílogo da campanha, existia uma dívida de mais de R$ 20 milhões que seria quitada com pagamentos de terceiros", diz ele na ação.
O partido teria conseguido levantar o dinheiro em dezembro de 98, mas, nesse meio tempo, vários credores teriam sido pagos com carros da locadora do filho de Mourão. Além disso, restaram débitos em nome da locadora que não teriam sido saldados.
O ex-tesoureiro apresentou ao STF uma procuração, assinada por Azeredo em 1998, dando-lhe poderes para administrar a campanha.
Disse que contraiu dívidas em razão da campanha que acabaram por liquidar o patrimônio de sua família. A locadora, segundo ele, perdeu os 25 carros que possuía, e a família sofreu várias ações judiciais de execução de dívidas.

Valério
O publicitário Marcos Valério, segundo a Folha revelou na edição da última sexta-feira, foi avalista de um empréstimo de mais de R$ 200 mil de Cláudio Mourão no Banco Rural, em 2001, quando o ex-tesoureiro já estava em dificuldade financeira. Mourão não quitou o financiamento, que foi cobrado judicialmente pelo Rural. Quando a ação começou, em junho de 2002, a dívida já estava em R$ 284,7 mil.
A ação correu na 12ª Vara Cível, de Belo Horizonte. Em outubro de 2003, as partes fizeram acordo. O empresário Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério, disse acreditar que a dívida tenha sido quitada pelo publicitário.

Sumiço
Desde que foi revelada a existência de um esquema paralelo de financiamento na campanha de Azeredo, em 1998, a Folha tenta localizar Cláudio Mourão, sem sucesso. Seus advogados na petição no STF não quiseram comentar a ação, nem informaram o paradeiro do cliente.


Texto Anterior: Sob suspeita: Ex-assessora do PT aponta caixa dois em Londrina
Próximo Texto: Para Ciro Gomes, senador tucano é "homem sério"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.